Um crime chocante, vítimas revoltadas e um médico no banco dos réus por estupro de vulnerável.
“O agente se aproveita da vulnerabilidade da vítima. Esse estado de vulnerabilidade da vítima, nesse caso, é a sedação. Ela estava desacordada”, diz a delegada Bárbara Lomba.
Foi assim, desacordada, que outra mulher ficou logo depois de dar à luz. O marido já tinha sido retirado da sala com o bebê.
Era a terceira cesariana dela e, dessa vez, a sedação foi muito maior.
“Eu já não estava conseguindo falar mais, porque assim que ele saiu, eu já fui ficando mais mole, mais sedada. Aí ele falou que ia me dar uma anestesia geral. Tomei e não consegui mais lembrar de nada. Apaguei”, diz a mulher.
Ela conta que, quando ouviu as notícias do estupro cometido por Giovanni Bezerra, reconheceu o anestesista e procurou a Delegacia da Mulher.
Denúncias
Foram pelo menos seis denúncias até agora. Só no domingo (10), quando Giovanni foi flagrado estuprando uma paciente durante o parto, ele participou de três cesarianas.
O Fantástico teve acesso ao depoimento da mulher que passou pela primeira cirurgia de cesárea com o anestesista naquele dia.
“O roupão caiu e ela percebeu que o anestesista tinha olhado para seus seios e em seguida perguntado se ela estava com frio. A mulher acredita que o enfermeiro também tenha notado, porque pegou o roupão e jogou nos ombros dela”, diz o documento.
'Você também quer?'
Uma das enfermeiras que prestaram depoimento conta que questionou Giovanni Bezerra sobre a sedação, e que ouviu de volta: ‘Por quê? Você também quer?’.
Outra enfermeira disse à Polícia Civil que o anestesista estava em pé perto da cabeça da vítima com o pênis ereto, e que Giovanni Bezerra na mesma hora fechou o capote.
Após os dois partos, a equipe do plantão de enfermagem se organizou para descobrir exatamente o que estava acontecendo e produzir provas.
As salas são mais ou menos parecidas, a diferença é o tamanho: ela é maior do que as outras e é a única que tem um armário de vidro escuro, que foi fundamental no flagrante do crime de estupro. Foi ali que a equipe de enfermagem escondeu o celular. O aparelho foi posicionado exatamente em frente ao anestesista e a cabeça da paciente. Eles estavam separados do resto da equipe por um lençol.
O Hospital da Mulher de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, é certificado como hospital amigo da criança, o que quer dizer que tem protocolos mais rígidos de assistência às mães. Os enfermeiros da equipe passaram a desconfiar do anestesista há cerca de um mês, justamente porque ele não seguia alguns desses protocolos.
Vídeo tem 1h30 de duração
Maria Aparecida de Lima é gerente de enfermagem no Hospital da Mulher, chefe do grupo que gravou o estupro.
“E quando se verificou que a sedação era mais prolongada e a gente não conseguia atingir, justamente, o contato de pele com a criança para que a mãe pudesse observar esse filho e pudesse iniciar a amamentação da primeira hora de vida, eles começaram a estranhar”, conta.
O vídeo inteiro que mostra o médico estuprando a paciente tem uma hora e meia de duração, e só foi visto pelos enfermeiros quando terminou a cirurgia. O crime aconteceu já no fim da operação, com o acompanhante já fora da sala de parto e a equipe médica ocupada com os procedimentos finais. Era a primeira vez que aquela equipe médica trabalhava com Giovanni.
A prisão do anestesista foi feita no próprio hospital, em flagrante. Na sexta-feira (15), a Justiça do Rio aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou Bezerra réu. O Fantástico não conseguiu contato com o advogado de defesa dele.
Também tentamos contato com três integrantes da equipe de enfermagem envolvida na gravação do flagrante que permitiu a prisão de Giovanni Bezerra, mas nenhum quis gravar entrevista.
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