Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem articulado uma aproximação com os partidos do chamado Centrão, um bloco informal na Câmara dos Deputados que reúne parlamentares de legendas de centro e centro-direita.
O grupo é menos conhecido por suas bandeiras e mais pela característica de se aliar a governos diferentes, independentemente da ideologia.
De acordo com a proposta em discussão, os votos desse bloco podem corresponder até à metade dos 513 parlamentares e serem decisivos na aprovação ou rejeição de uma matéria.
Assim como em outras gestões, as negociações de Bolsonaro com o Centrão envolvem a distribuição de cargos aos partidos, que terão o direito de indicar aliados para as vagas.
A estratégia inicial do Palácio do Planalto era garantir a aprovação de medidas, principalmente na área econômica, após a crise do coronavírus.
No entanto, com a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas declarações do ex-ministro Sérgio Moro de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, o governo quer agora garantir uma base aliada que possa barrar um eventual processo de impeachment.
O que é o Centrão?
É um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto.
Entre esses partidos, estão PP (40 deputados), PL (39), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). O PSD (36), o MDB (34) e o DEM (28) também costumam estar alinhados com o grupo, assim como partidos menores, incluindo PROS (10), PSC (9), Avante (7) e Patriota (6).
Como surgiu?
A origem do termo "Centrão" surgiu na Constituinte de 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.
O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato.
Como agiu ao longo do tempo?
O Centrão sempre foi um bloco informal e chegou a reunir 13 partidos conservadores. Ganhou força em 2014 e atingiu o auge em 2015 ao eleger o próprio Cunha presidente da Câmara.
O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processo de impeachment.
Quais são os personagens principais?
Na linha de frente, estão o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PP-PI), o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.
Entre os principais articuladores do Centrão estão ainda o vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, e o presidente do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), conhecido como Paulinho da Força. Presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, também condenado no escândalo do mensalão, passou recentemente a ser um dos principais defensores do presidente Bolsonaro.
Qual é a base de Bolsonaro no Congresso?
Desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro rejeitou o diálogo com os partidos políticos e descartou formar uma base aliada.
Ele sempre criticou o que chamava de “velha política”, em referência indireta aos partidos do Centrão, conhecidos por negociarem apoio em troca de cargos no governo, prática chamada de “toma lá, dá cá”.
Bolsonaro preferiu conversar com frentes parlamentares temáticas, grupos que reúnem deputados de acordo com suas posições frente a assuntos específicos, como segurança pública e agronegócio.
O único partido que integrava formalmente a base do presidente era o PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu. No entanto, após uma disputa interna, ele se desfiliou da legenda e somente uma parte do PSL permaneceu fiel a ele.
Para garantir apoio no Congresso, Bolsonaro tem agora se aproximado de líderes do Centrão. Nas últimas semanas, ele recebeu ou conversou por telefone com presidentes e líderes do PP, PL, Republicanos, PSD, Solidariedade, MDB e DEM.
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