Usados na indústria de pele animal, os visons estão se tornando uma preocupação crescente na Europa por seu papel na transmissão do coronavírus.
Até agora, seis países relataram surtos de coronavírus em criações destes mamíferos: Holanda, Dinamarca, Espanha, Suécia, Itália e os Estados Unidos.
Surgem também indícios de que o vírus pode estar migrando destes animais para humanos — uma variante do vírus, alterada por mutações e detectada em pacientes na Dinamarca, foi previamente encontrada em visons na Holanda.
É o que diz o professor Wim van der Poel, pesquisador em veterinária da Universidade de Wageningen. Ele afirma que dados genéticos coletados na Holanda mostram um caso anterior desta mutação em uma criação de visons no início de maio.
"Em uma ocasião, observamos um vírus mutante, com uma mutação semelhante (à detectada na Dinamarca) na região codificadora da proteína spike, em visons na Holanda. Entretanto, esta variante do vírus não havia se propagado para humanos e os visons da fazenda em questão foram abatidos."
Durante a pandemia, estes animais foram infectados por trabalhadores agrícolas e, ocasionalmente, transmitiram o vírus para humanos. É normal que vírus passem por mutações ao longo do tempo, mas pesquisadores ficam particularmente preocupados quando há transmissão entre animais e pessoas.
Já há relatos de diversos tipos de animais infectados pelo coronavírus, mas os visons parecem mais vulneráveis ao Sars-CoV-2. O coronavírus pode se espalhar facilmente em criações onde milhares de animais são mantidos próximos.
Enquanto em lugares como o Reino Unido a criação destes animais com a finalidade de uso da sua pele é proibida, ou onde têm banimento previsto, como na França em 2025, há na Europa grandes produtores. A Dinamarca é a líder a nível mundial, tendo como principais importadores a China e Hong Kong. A Holanda é outra grande exportadora, mas planeja extinguir este tipo de criação em 2021.
Após indícios de que humanos contraíram o coronavírus de visons, o governo da Dinamarca determinou um abate generalizado destes animais.
Preocupação com futuro das vacinas
Cientistas estão preocupados com as mutações detectadas nos animais e relacionadas às infecções de cerca de dez pessoas na Dinamarca. Isto porque as alterações foram encontradas na proteína spike, que o vírus usa para se "prender" nas celulas humanas e é alvo fundamental de vacinas em estudo — estas, diante das mutações, poderiam ficar mais comprometidas.
Entretanto, pesquisadores como o professor James Wood, da Universidade de Cambridge, recomendam cautela.
Ele diz que identificar mutações genéticas demanda uma avaliação cuidadosa, o que, nos casos da Dinamarca, se faz "urgentemente necessário".
A criação de visons também exige "mais ações de biossegurança (ou suspensão) neste momento", acrescenta Wood.
O professor Dirk Pfeiffer, do Colégio Real de Veterinária de Londres, explica que embora as mutações nos vírus ocorram o tempo todo à medida que se espalham, a questão mais importante é se elas levam em conta a mudanças nas características do vírus.
"Nesta fase, parece que pode haver problemas com a eficácia da vacina, mas isso ainda não está evidente", diz.
É necessária uma vigilância eficaz para detectar o surgimento de novas formas do patógeno precocemente, acrescenta Pfeiffer.
O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças, uma agência da União Europeia, disse que publicará esta semana uma orientação sobre a disseminação do Sars-CoV-2 em criações de visons.
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