Toda vez em que se comporta como rei do camarote ou juiz ostentação, Sergio Moro presta um desserviço à Lava Jato e ao combate à corrupção. Após o giro por Nova York no mês passado, ele recebeu uma homenagem no fim de semana no paraíso fiscal de Mônaco _evento noticiado por Daniela Lima na coluna “Painel”, da “Folha de S.Paulo”. Vale ler as notas e ver o vídeo.
Moro pode e deve receber homenagens. Nada contra. Ele é bastante procurado. Mas precisa ter mais cuidado ao selecionar as solenidades às quais comparece para ser premiado. Na prática, acaba sendo usado como garoto-propaganda. O juiz participou da quarta edição do “Brasil Mônaco Project”, uma festa anual organizada por Luciana de Montigny, mulher do cônsul brasileiro no principado. O pendor pelos holofotes demonstra deslumbramento pelo mundo dos ricos e chega a dar até vergonha alheia.
Mônaco é o paraíso dos muito endinheirados que não querem pagar impostos. O principado enfrenta pressões para aumentar o controle contra aqueles que utilizam os setores de serviço, de turismo e bancário para lavar dinheiro e fugir de tributações. Com frequência, entrega os anéis em casos rumorosos para preservar os dedos.
É irônico que a homenagem ao juiz federal num paraíso fiscal tenha sido noticiada no dia em que o advogado Rodrigo Tacla Duran prestou depoimento em comissão da Câmara para acusar procuradores da Lava Jato e Moro de cerceamento de defesa.
O advogado é acusado de ser operador da Odebrecht. Quer ser ouvido por Moro e procuradores de Curitiba. Mas a sua intenção é desqualificada. Tacla Duran é retratado como um bandido sem credibilidade.
Os principais personagens da Lava Jato têm dificuldade de aceitar crítica. Só valem imprensa e delator se forem a favor? Não interessa ouvir Tacla Duran até para demonstrar a suposta inconsistência do que ele diz?
Moro e a Lava Jato cumprem um papel importante. O Brasil é um país corrupto. A corrupção é endêmica e não começou ontem.
Recentemente, surgiram mais notícias sobre corrupção na ditadura militar de 64. Muita gente acha, por desinformação, que não havia roubalheira na ditadura. Havia, sim. Não havia os mecanismos de combate à corrupção que temos hoje.
Não havia Polícia Federal bem aparelhada. Não havia autonomia do Ministério Público. Não havia tantas varas especializadas no combate à corrupção. Moro, por exemplo, cuida só da Lava Jato.
Ironicamente, esses mecanismos ganharam força para valer somente no governo do PT, partido cuja corrupção tem sido investigada e punida.
Pela posição pública que alcançou, Moro deveria ter mais cuidado com a própria imagem. Deveria agir com mais autocontenção. A noite de gala no principado não ajuda nem um pouco nesse sentido.
*É jornalista, comentarista de política da Rádio CBN, mantém o Blog do Kennedy, onde esse artigo foi originalmente publicado
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