O Instagram ocultou um post com conteúdo falso replicado na segunda-feira (11) pelo presidente Jair Bolsonaro nos stories de sua conta oficial. A mensagem afirmava, incorretamente, que o número de mortes por doenças respiratórias no Ceará caiu entre 16 de março e 10 de maio de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019.
Nesse mesmo intervalo do ano passado, foram registradas 1.976 mortes por doenças respiratórias no estado – já em 2020, foram 2.639 mortes. O aumento foi de 33% durante o período da pandemia do novo coronavírus.
A imagem compartilhada por Bolsonaro tem circulado nas redes sociais, mas chegou a ele depois de ter sido postada pelo deputado estadual André Fernandes (PSL-CE).
Citando como fonte o Portal da Transparência do Registro Civil, que reúne dados dos cartórios, a postagem afirma que houve 6.377 mortes entre 16 de março e 10 de maio de 2019, ante e 6.296 no período correspondente deste ano. E pergunta: "Por que em 2019 não teve o mesmo alarde?"
Além de mortes por doenças respiratórias, o número divulgado pelo presidente também inclui mortes por septicemia, causas indeterminadas e "demais óbitos", o que inclui homicídios e acidentes.
A mensagem foi checada pela Agência Lupa, que tem uma parceria de verificação de notícias com o Facebook, empresa controladora do Instagram. O aviso inserido marca o post como falso e explica que o conteúdo foi checado. Ainda assim, é possível ver a informação caso o usuário queira.
O Fato ou Fake, serviço de checagem de fatos do Grupo Globo, também conferiu a veracidade da informação divulgada pelo presidente. É #FAKE.
Em comunicado enviado ao G1, o Instagram, que é um aplicativo do Facebook, disse que trabalha com verificadores de fatos independentes para avaliar e classificar desinformação e que, quando um conteúdo é classificado falso, a equipe torna difícil de encontrar.
"Desinformação é algo que levamos muito a sério e trabalhamos com verificadores de fatos, que operam de maneira independente, para avaliar e classificar desinformação no Facebook e no Instagram. Quando um conteúdo é classificado como falso ou parcialmente falso por um verificador de fatos, nós o tornamos mais difícil de encontrar no Instagram e o rotulamos de acordo para que as pessoas possam decidir melhor o que ler, confiar e compartilhar. Quando esses marcadores são aplicados, também podemos usar tecnologia de correspondência de imagens para encontrar outras instâncias do conteúdo e aplicar o mesmo tratamento." - porta-voz do Facebook.
O Planalto não respondeu até a publicação da reportagem.
A situação no Ceará
Nesta terça-feira (12), até às 20h, o Ceará ultrapassou a marca de 1,2 mil óbitos em razão do novo vírus. No Brasil, o Ceará é o terceiro em mortes provocados pela Covid-19 no Brasil e, atualmente, fica atrás apenas de São Paulo (3.949) e Rio de Janeiro (1.928).
O número de mortes provocadas pela Covid-19 no Ceará já é maior que o registrado em pelo menos 141 países do mundo, segundo dados da universidade estadunidense Johns Hopkins, que mapeia, em tempo real o número de casos confirmados e óbitos pela doença ao redor do globo.
A análise considera locais onde a pandemia já está em declínio; onde ela acabou de começar; ou que têm curva epidemiológica parecida com a do estado.
Um levantamento do G1 mostra que a Covid-19 matou sozinha, nos meses de março e abril, mais pacientes no Ceará que as causas historicamente mais comuns de óbitos juntas no estado, como: infarto, AVC e câncer de pulmão (tipo mais recorrente de neoplasia). Juntas, as três causas mataram, em março e abril, 579 pessoas no estado. Nesse mesmo período, o Ceará teve 705 pacientes mortos por coronavírus.
Trata-se de números oficiais – que deixam de fora a possível subnotificação dos óbitos pela doença – e constam no IntegraSUS, plataforma pública da Sesa que, tem, dentre outras informações, os indicadores da mortalidade nos 184 municípios do Ceará nos últimos 10 anos.
O IntegraSUS compila dados mensais, o que impediu a inclusão de maio no comparativo. Os indicadores de maio mostram que, nos primeiros nove dias, o estado teve pelo menos 409 novos óbitos por Covid-19.
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