Questionado sobre prisão contra Milton Ribeiro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quarta-feira (22), que é o ex-ministro quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC. A declaração difere de outra fala do presidente, de março, quando as supostas irregularidades à frente do MEC vieram à tona. Na época, Bolsonaro afirmou que colocava a "cara no fogo" pelo então ministro.
Ribeiro foi ministro de Bolsonaro de julho de 2020 a março de 2022, quando deixou o cargo três semanas após a divulgação de um áudio no qual dizia liberar verbas da pasta por indicação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, a pedido do presidente
Abaixo, relembre as declarações de Bolsonaro sobre o caso antes e depois da prisão de Ribeiro.
24 de março
Na transmissão ao vivo que faz semanalmente para seus seguidores, Bolsonaro classificou o caso como "uma covardia" contra Milton.
"O Milton tomou as providências. Daí, alguns falam: 'ah, ele tinha 19 agendas'. Se ele estivesse armando, meu deus do Céu, armando, não teria botado uma agenda oficial aberta ao público. É muito simples. Quando o cara quer armar, ele vai pelado à piscina, vai num fim de mundo, numa praia, vai pro meio do mato. É assim que ele age, ele não bota na agenda ali o nome do corruptor, não bota.", afirmou Bolsonaro.
Dados oficiais mostram que um dos pastores envolvido no suposto esquema, Arilton Moura, esteve 35 vezes no Palácio do Planalto desde o início do governo Bolsonaro. Em três páginas, o Gabinete de Segurança Institucional informou que o pastor Arilton Moura esteve 35 vezes no Palácio do Planalto entre 2019 e fevereiro deste ano. Na maior parte das vezes, Arilton foi sozinho, mas em dez visitas, outro pastor envolvido no caso, Gilmar Santos, entrou no Palácio com ele, como mostram três páginas de um documento do Gabinete de Segurança Institucional.
"O Milton, coisa rara de eu falar aqui. Eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele."
22 de junho
Em entrevista à Rádio Itatiaia poucas horas após a prisão de Ribeiro, Bolsonaro mudou o tom e afirmou que é seu governo "é corrupção zero" e que o ex-ministro é quem deve responder "pelos atos dele".
"É aquela questão de que ele estava, estaria de conversa meio informal demais com algumas pessoas de confiança dele. E daí houve denúncia de que ele teria buscado prefeito, gente dele, pra negociar, pra liberar recurso. E o que acontece? Nós afastamos ele."
"Isso aqui, se tem prisão, é Polícia Federal, é sinal de que a Polícia Federal está agindo. Ele [que] responda pelos atos dele. Peço a Deus que não tenha problema nenhum. Mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando, é um sinal que eu não interfiro na PF, porque isso aí vai respingar em mim, obviamente", afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia.
Michelle Bolsonaro
No dia em que Ribeiro deixou o cargo, Michelle Bolsonaro, mulher do presidente, foi questionada por um jornalista sobre a saída de Ribeiro. "Posso dizer que eu amo a vida dele", afirmou a primeira-dama.
"Deus sabe de todas as coisas e vai provar que ele e? uma pessoa honesta. E justo, fiel e leal."
Entenda a prisão
Ex-ministro da Educação do governo do presidente Jair Bolsonaro, Milton Ribeiro foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (22), em Santos, no âmbito de uma operação, batizada de Acesso Pago, que investiga a prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão ligado ao Ministério da Educação.
A prisão de Ribeiro foi determinada pela Justiça por causa de um suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC. O ex-ministro é investigado por suspeita de corrupção passiva; prevaricação (quando um funcionário público 'retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício', ou se o pratica 'contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal'); advocacia administrativa (quando um servidor público defende interesses particulares junto ao órgão da administração pública onde exerce suas funções); e tráfico de influência.
A investigação envolve um áudio no qual Ribeiro dizia liberar verbas da pasta por indicação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, a pedido de Bolsonaro.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro no áudio.
Alguns prefeitos também denunciaram pedidos de propina – em dinheiro e em ouro – em troca da liberação de recursos para os municípios. Milton Ribeiro disse que pediu apuração dessas denúncias à Controladoria-Geral da União.
Ribeiro já havia prestado depoimento à PF no final de março, quando confirmou que recebeu o pastor Gilmar a pedido de Bolsonaro. No entanto, ele negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento.
Relembre o caso
O inquérito foi aberto após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar, em março, a existência de um "gabinete paralelo" dentro do MEC controlado pelos dois pastores. Dias depois, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou um áudio de uma reunião em que Ribeiro afirmou que, a pedido de Bolsonaro, repassava verbas para municípios indicados pelo pastor Gilmar Silva.
Após a revelação do áudio, Ribeiro deixou o comando do Ministério da Educação.
Registros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam dezenas de acessos dos dois pastores a gabinetes do Palácio do Planalto.
'Cara no fogo'
Em vídeo, Bolsonaro chegou a dizer que botava "a cara no fogo" por Ribeiro e que as denúncias contra o ex-ministro eram "covardia" (assista abaixo). Já nesta quarta, questionado sobre a prisão do ex-ministro pela PF, Bolsonaro afirmou que Ribeiro é quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC.
"Ele responde pelos atos dele", afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia. O presidente disse ainda que "se a PF prendeu, tem motivo."
Utilize o formulário abaixo para comentar.