A piora das projeções para a economia não está limitada a este ano. Com a fraqueza mostrada pelos indicadores de atividade, bancos e consultorias já começam a reduzir as previsões para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. Por ora, a maior parte das estimativas apontam para um crescimento próximo de 2%, embora já existam inferiores a esse patamar.
A expectativa de uma economia fraca no ano que vem fica evidente toda semana com a divulgação do relatório Focus, do Banco Central, que colhe a previsão de diversos analistas para vários indicadores da economia. A última projeção para o PIB de 2020 está em 2,2%. No melhor momento, no início de março, as previsões estavam em 2,8%.
Há uma série de fatores que explicam a piora nas projeções para o ano que vem:
O baixo crescimento deste ano deixa uma herança estatística fraca para 2020;
Com a escalada da guerra comercial, a economia mundial deve ter um desempenho modesto, afetando o Brasil;
A crise derrubou o PIB potencial brasileiro, ou seja, a capacidade que a economia tem de crescer sem gerar desequilíbrios como o aumento da inflação;
Sem recursos em caixa, o governo não tem margem de manobra para estimular a economia.
Nas contas da consultoria Tendências, com o baixo crescimento previsto para este ano – de apenas 0,9% – a herança estatística para 2020 será de 0,6%, o que quer dizer que, se a economia brasileira ficar estável em todos os trimestres do próximo ano, há um avanço contratado do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,6%.
"O desempenho da atividade deixa a desejar", afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. "Nesse ritmo, a economia só vai retomar o patamar de 2014 (antes do início da recessão) em 2021", diz. Para a Tendências, o Brasil deve crescer 2% no ano que vem. A consultoria chegou a estimar alta de 2,6%.
Ao longo de 2019, a economia brasileira tem decepcionado. Entre janeiro e março, o PIB encolheu 0,2%, e os primeiros indicadores do segundo trimestre seguem mostrando uma fraqueza da atividade – o crescimento esperado por bancos e consultorias para o período de maio a junho está entre 0,3% e 0,4%.
Além de todas as dificuldades internas, o Brasil deve ser afetado no próximo ano pela desaceleração da economia internacional. A atividade dos países desenvolvidos tem dado sinais de arrefecimento, o que deve prejudicar o comércio global, já enfraquecido pela guerra comercial liderada pelos Estados Unidos.
"A piora da economia global afeta o Brasil, até mais do que a gente costuma imaginar", diz o economista do banco Itaú Felipe Salles. "Essa desaceleração tende a se intensificar, em particular na parte relacionada ao comércio global."
Com a fraqueza da economia neste ano e a desaceleração internacional, o Itaú já projeta um crescimento de apenas 1,7% para 2020
Nas últimas semanas, bancos centrais das principais economias começaram a sinalizar uma preocupação maior com essa possível desaceleração. O Federal Reserve (Fed, BC dos Estados Unidos), por exemplo, na última reunião de política monetária, indicou que deve começar a reduzir os juros diante do aumento de incerteza com o desempenho econômico.
Leve aceleração
Embora os números da atividade sejam decepcionantes, os analistas estimam que a economia deve apresentar uma ligeira aceleração a partir do segundo semestre deste ano se a reforma da Previdência for aprovada. Ela é considerada fundamental para acertar as contas públicas e, dessa forma, garantir a confiança dos investidores na solvência do país.
A reforma da Previdência ainda está na comissão especial da Câmara dos Deputados. A expectativa é que seja aprovada até o fim do ano pelo Senado.
"A partir do segundo semestre, acredito que as questões estruturais estarão em vias de serem encaminhadas, com a reforma da Previdência aprovada, a tributária também bem encaminhada e um leilão de óleo e gás em novembro que promete ser recorde", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
A aceleração esperada, no entanto, não trará um desempenho vigoroso, sobretudo porque a crise dos últimos anos derrubou o PIB potencial do país e, com a crise fiscal, há pouca margem de manobra do governo para estimular a economia. A expectativa dos economistas é de que o crescimento médio suba para um patamar próximo de 0,5% nos próximos trimestres.
"As reformas são importantes porque elas podem ajudar a elevar o nosso crescimento anualizado, hoje na casa de 1% e 1,5%, para uma faixa próxima de 3%", afirma o economista da consultoria GO Associados Eduardo Velho.
Utilize o formulário abaixo para comentar.