A discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação não deve ser tema da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira, 16. É o que afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), nesta terça-feira, 14. “Existe uma coisa chamada Comoc [Comissão Técnica da Moeda e do Crédito], que define a pauta do CMN. Não está na pauta”, disse o petista. A declaração acontece após entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, 13, na qual adotou um tom conciliador e fez diversos acenos ao governo federal. O principal deles ocorreu quando Campos Neto afirmou que fará o possível para aproximar a entidade do governo federal. A declaração de Haddad também ocorre na esteira das críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à manutenção da taxa de juros pelo BC em 13,75% – o chefe do Executivo também criticou a autonomia do órgão. Para reforçar a autonomia, Campos Neto citou a maior subida da taxa de juros em um ano eleitoral da história do Brasil, duas vezes maior que a ocorrida em 2001. A Selic iniciou o ano em 2% e, em cinco meses, saltou dez pontos percentuais. O Conselho Monetário conta com os ministros Haddad e Simone Tebet, de Planejamento e Orçamento, e pelo presidente do BC. A Comoc, por sua vez, é formada por técnicos desses órgãos.
Nesta terça, porém, Haddad também adotou o mesmo tom que Campos Neto. “Nós obtivemos o reconhecimento na entrevista do presidente do BC de que as medidas que estão sendo tomadas estão na direção correta. Isso é muito importante para nós, obter esse reconhecimento”, afirmou o titular da Fazenda. A ideia do petista é flexibilizar a meta para 4,5% e abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Atualmente, as metas de inflação são de 3,25% em 2023 e de 3% para 2024. O Ministério da Fazenda apresentou as medidas no mês passado, como parte do plano de recuperação de receitas. Na ocasião, Haddad apresentou um pacote com medidas que visam uma melhora fiscal de até R$ 242,7 bilhões. Na visão do ministro, o pacote ajudaria a demover Campos Neto da ideia de que iniciar um ciclo de corte na taxa de juros seria inviável. “A taxa de juros do jeito que está impõe certas dificuldades para a economia crescer. Mas o nosso plano de 12 de janeiro está em curso. Como os resultados virão, e eu posso afirmar que virão, eu tenho certeza que isso vai ajudar a autoridade monetária a concluir que nós estamos, talvez, com uma taxa de juros neste momento que compromete os objetivos do país”, explicou Haddad nesta terça-feira, 14, na entrada do Ministério da Fazenda. “Se nós trouxermos o debate para o plano do concreto, do que está sendo feito, nós podemos recuperar uma trajetória importante”, complementou. Também nesta terça-feira, o chefe da pasta econômica voltou a defender o alinhamento das políticas monetárias com o objetivo de promover o crescimento econômico com baixa inflação. “Ou alinha essas políticas em torno do mesmo propósito ou vai ficar ruim para todo mundo cumprir as suas metas”, enfatizou. Na entrevista ao “Roda Viva”, Campos Neto negou que tenha defendido o aumento das metas de inflação. “Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter um efeito contrário ao desejado. Ao invés de ganhar flexibilidade, você pode terminar perdendo flexibilidade”, afirmou o presidente do BC.
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