O plano do PCC contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o promotor Lincoln Gakiya, que incluía sequestro e possível assassinato, foi elaborado no ano passado e poderia servir à libertação de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. A informação consta de relatórios de inteligência produzidos pelo Gaeco do Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Federal. Na ocasião, o líder máximo do PCC ainda estava na penitenciária de Porto Velho (RO). Em 25 de janeiro, ele foi transferido de volta para a Papuda, em Brasília. O objetivo, segundo investigadores, seria usar Moro e familiares como moeda de troca para soltar Marcola — a organização criminosa já teve ao menos três planos de fuga desbaratados pela polícia nos últimos dois anos. O sequestro de autoridades para fins de libertação de lideranças criminosas foi uma prática muito usada pela guerrilha colombiana Farc, parceira de facções brasileiras no tráfico de drogas e armas.
Em novembro, logo após ser eleito senador, Moro passou a figurar entre os alvos da facção, que levantou dados de registro, endereços e bens. O dossiê incluiu a esposa Rosangela Wolff Moro, eleita deputada federal pelo Podemos de SP, e os filhos do casal. Além de pesquisas em fontes abertas, também foram feitos levantamentos em processos e monitoramento de campo. Outro alvo estratégico do PCC era o promotor Lincoln Gakiya, responsável por determinar, em 2018, a transferência de Marcola e outros líderes da facção para presídios de segurança máxima em outros Estados. A logística da transferência foi providenciada pela gestão de Moro no Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
Segundo a investigação, o ‘gerente da missão’ seria Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, que atua na seção “Restrita” do PCC, uma espécie de agência de inteligência do crime e responsável pelo planejamento de ações sigilosas, especialmente aquelas voltadas à execução de integrantes das forças de segurança, como policiais militares e penais. Nefo tem condenação por roubo, furto e cárcere privado, e consta como egresso do Centro de Progressão Penitenciária de Mauá/SP em 05/10/2009, beneficiado com alvará de soltura.
Moro ressaltou o cunho político do possível atentado e defendeu um esforço suprapartidário contra o crime organizado, cogitando a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. “O que nós precisamos fazer é combater o crime organizado. Nunca ouvi falar de um plano para matar um senador. Isso é muito grave, não porque me envolve, mas por alcançar esse grau de ousadia (…). É de se avaliar sim, se, de repente, não seria oportuno uma comissão parlamentar para se apurar mais profundamente.”
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