Pastel e caldo de cana na feira, chapéu de cangaceiro, criança no colo, beijo na mão do eleitor. Esses são alguns dos elementos que aparecem em fotos de candidatos a cada ano eleitoral no Brasil. As ações são estratégias frequentes dos postulantes para tentar se aproximar dos eleitores e passar a imagem de “candidato do povo”.
Neste ano, a campanha eleitoral teve início declarado em 16 de agosto, mas, antes mesmo desta data, candidatos já participavam de eventos nos quatro cantos do país em busca de votos.
Na disputa deste ano, a “temporada do pastel” já foi iniciada: entre os candidatos à Presidência da República, Simone Tebet (MDB) deu a largada e publicou, no fim de julho, um registro comendo a iguaria. “Sextou com S de Simone na feira + pastel + caldo de cana”, escreveu a candidata nas redes sociais.
Frequentar as feiras do Distrito Federal é um costume do presidente Jair Bolsonaro (PL). O último registro foi em 12 de agosto, durante a pré-campanha eleitoral, quando o mandatário também apreciou a clássica dupla pastel e caldo de cana em uma feira de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal.
Entre os principais nomes da disputa ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um dos únicos que ainda não apreciou o pastel durante eventos de campanha. No entanto, o clássico chapéu de cangaceiro foi acessório de Lula em visitas aos estados nordestinos.
No fim de julho, o ex-presidente e a socióloga Janja, sua esposa, apareceram dançando xaxado em trajes nordestinos durante evento em Pernambuco. O chapéu também foi utilizado no início de agosto, em agenda na Paraíba.
Ciro Gomes (PDT) também não posou saboreando um pastel, mas já apareceu em imagens com crianças. Em visita à Vila Nova Esperança, em Curitiba (PR), na última semana, o pedetista foi fotografado ao brincar com um bebê que estava no colo da mãe.
Candidatos do povo
O contato com o povo é característica importante das ações políticas — especialmente entre deputados e senadores, que têm papel de representar a população nas câmaras municipais, estaduais e federal. Em ano eleitoral, porém, a tática fica mais evidente entre candidatos a outros cargos.
“É a necessidade de ir à rua se expor, se apresentar para o eleitor, estar presente, próximo. É uma pena que esse processo se intensifica muito durante a campanha, mas deveria ser um processo continuado do representante eleito”, pontua Lúcio Remuzat, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).
O especialista explica que o contato gera sensação de identidade entre o eleitor e o político. “Isso se diluiu um pouco com as mídias sociais, mas continua sendo uma necessidade. É criação de identidade. É como se o político dissesse: a gente compartilha experiências, por isso posso te representar. Daí, se veste igual, come igual, frequenta espaços populares”, analisa.
Dá para acreditar?
Apesar de popular, a estratégia “pastel com caldo de cana” não é levada a sério em todas as situações. Imagens de candidatos tentando aproximação com o eleitorado viram meme nas redes sociais a cada ano eleitoral — especialmente quando o contato direto com o povo não faz parte do perfil dos políticos.
Fotos antigas do senador José Serra (PSDB) e do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) frequentemente viram alvos de piada no Twitter. Um dos exemplos é a sequência de imagens que mostra Doria tomando um pingado e comendo o famoso pastel de feira.
“O Doria com essa cara de nojo comendo o pastel, pelo amor de Deus”, comentou um usuário. Outra imagem mostra José Serra beijando a própria mão ao segurar no braço de uma eleitora. “O José Serra beijando a própria mão representa tudo o que acho da direita em uma foto só”, publicou uma usuária da rede social.
A cientista Camila Santos explicou ao Metrópoles que a aproximação com o povo pode virar motivo de piada na internet quando é protagonizada por políticos de partidos que não têm histórico de ligação com movimentos sociais. Nessas situações, a ideia de “candidato do povo” pode soar falsa, analisa a especialista.
“Os candidatos que vêm de partidos de esquerda têm movimentos sociais como base, é uma questão com a qual eles têm maior aproximação. Já os que tendem a ser de partidos de direita costumam estar ligados a classes mais altas, e fazem essas ações no momento das eleições para angariar votos”, explica.
Apesar de ser antiga, e se repetir a cada ano eleitoral, a receita do pastel com caldo de cana deve ser mantida nos próximos pleitos, analisa a cientista política. Segundo Camila, mesmo na era das redes sociais, a rua ainda é o maior canal de aproximação com o povo.
“Com as redes sociais, o público é diferente, mais jovem. Os mais velhos não têm contato com esse mundo da internet, do Tiktok, do Twitter. O popular, a entrega de panfleto e o contato nas ruas ainda é a forma com a qual eles vão conseguir alcançar o maior público”, conclui.
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