O nascimento do “santo” mais popular do Nordeste, Padre Cícero Romão Batista, completou 177 anos esta semana, no dia 24 de março. Ele nasceu no dia 24 de março de 1844, na cidade de Crato, no Ceará.
Padre Cícero viveu 90 anos e morreu no dia 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte, também no Ceará. Ele nunca foi ordenado santo pela Igreja Católica, mas, para o povo nordestino, nem precisa. Padre Cícero já é santo pelo que fez em vida e pelos milagres atribuídos a ele enquanto estava vivo e após a morte.
Natural do Crato (CE), após se instalar no povoado de Juazeiro do Norte (CE), ele desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade, ainda no século XIX.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão.
Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, o mesmo ano da Proclamação da República, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre. Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo, ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la, pois a mesma transformara-se em sangue.
O fato aconteceu outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico. As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos. Mas a Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente o fato como um milagre e impôs punições ao Padre Cícero, inclusive o afastamento das funções, entre 1892 e 1916.
No final de 2015, o Vaticano perdoou as punições impostas ao Padre Cícero. A reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de Padre Cícero na Igreja Católica.
Política e relacionamento com o cangaço
O Padre Cícero também foi eleito prefeito de Juazeiro do Norte (CE). Os historiadores registram que ele tinha um bom relacionamento com o cangaceiro Lampião, que amedrontava as pequenas cidades do Nordeste com seu bando.
Os livros de história também contam que, para combater a Coluna Prestes, que percorria o Brasil no final dos anos 20 e início dos anos 30, o governo federal pediu que o Padre Cícero negociasse o apoio de Lampião e seus homens.
Falando em nome do governo federal, o Padre fez a proposta a Lampião, que aceitou. Após o cumprimento da missão, o cangaceiro voltou a falar com o religioso para que os termos do apoio fossem cumpridos: o governo deveria ceder novas armas e uniformes ao bando e Lampião seria nomeado capitão.
Porém, o governo não cumpriu com tudo o que havia prometido, causando um mal estar no relacionamento entre o Padre Cícero e o cangaceiro. Desse momento em diante, mesmo sem ter sido oficialmente nomeado capitão, Lampião impôs que assim fosse chamado pelos seus homens: Capitão Virgulino.
O corpo do Padre Cícero foi sepultado, em 1934, na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte (CE). Tão popular quanto ele foi o religioso italiano Frei Damião de Bozzano que, em 1931 – portanto, três anos antes da morte do Padre Cícero – mudou-se para o Nordeste do Brasil e, em suas missões, atraía multidões de devotos.
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