Tudo diferente - e para pior. Esse é o Flamengo que volta ao Maracanã após quase um mês. No último jogo, em 20 de abril, o time saiu sob aplausos. O reencontro com a torcida carioca nesta terça-feira, contra a Universidad Católica, promete ser tenso pelos acontecimentos dos últimos dias.
Se há um mês o time foi abraçado pela torcida após a boa atuação no empate com o Palmeiras e dava nítida impressão de que evoluiria, hoje a pressão é forte e ininterrupta sobre o 16º colocado do Campeonato Brasileiro, que soma apenas seis pontos em seis jogos. Do goleiro ao gabinete presidencial.
E isso antes de uma partida que tinha tudo para ser apenas um compromisso protocolar para confirmar vaga nas oitavas de final da Libertadores. Rodolfo Landim, Marcos Braz, Paulo Sousa e Hugo são figuras centrais de mais uma crise na Gávea.
Landim é o alvo central
Nas últimas semanas, o presidente tornou-se alvo principal, e a palavra "ausência" explica o momento. Faltam resultados, boas atuações e satisfações à torcida sobre o trabalho de Paulo Sousa e a respeito de medidas impopulares, como a limitação do número de sócios Off-Rio.
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Nos jogos contra Altos e Ceará, Landim foi muito xingado. Os protestos também se estenderam a Marcos Braz e Paulo Sousa. Todos tiveram seus nomes estampados em cartazes e faixas de Volta Redonda a Fortaleza. Mas a cobrança interna e externa pela saída do treinador é o que mais tem acalorado os debates.
Do "gelo no sangue" às pipocas em Fortaleza
Dirigente mais festejado pela torcida durante as conquistas de 2019 e 2020 pelos resultados e bom humor adotado em postagens referentes a negociações bem-sucedidas, Marcos Braz não goza do mesmo prestígio há tempos.
Desde as primeiras derrotas na temporada já era alvo de protestos pontuais, mas nos últimos dias a cobrança foi mais agressiva. Em Fortaleza, atiraram pipoca contra ele na chegada do time, na sexta-feira, e o vaiaram tanto na chegada ao hotel quanto no embarque para o Rio de Janeiro.
Ainda durante a passagem pela capital do Ceará, postou foto ao lado de Ronaldo Angelim, seu jogador e herói na campanha do hexacampeonato brasileiro de 2009. Em vez de apoio, recebeu uma avalanche de ofensas em resposta.
O diretor executivo de futebol do Flamengo, Bruno Spindel, também já aparece em protestos de torcedores. Entretanto por ser figura mais discreta e com menos tempo de casa, recebe carga menos pesada do que Landim e Braz.
Falta de consistência traz críticas a Paulo Sousa
Figuras importantes do dia a dia rubro-negro já debatem cenários sem Paulo Sousa. Conselheiros com poder de influência no departamento de futebol engrossam o coro pela demissão sob a argumentação de que "não deu liga". Outra ala ainda defende a permanência do treinador.
Contratado com a missão dada por Braz e Spindel de promover uma quebra de ruptura com 2019 e refazer a cara do elenco, Paulo Sousa já chegou rompendo com o sistema de jogo mais utilizado nos últimos anos e apostou em três zagueiros. É verdade que mais com ênfase na saída de bola, porém a característica do time foi radicalmente modificada.
Fez experimentos aos montes, alguns bem-sucedidos e outros nada proveitosos. A aposta em jovens tem dado resultado. João Gomes é um dos principais nomes do time, Lázaro tornou-se espécie de 12º jogadores, e Victor Hugo pinta como surpresa das últimas semanas. Deu chances à joia Matheus França e agora vem utilizando o lateral-esquerdo Marcos Paulo.
Por outro lado, a escalação de Everton Ribeiro como ala pela esquerda no início da temporada foi uma de suas decisões mais questionadas. Foi ruim para o time e para o jogador, que estava forte na luta por vagas na Copa do Mundo. Fez o mesmo com Marinho, outro que prefere atuar pelo lado direito, e não obteve boas respostas.
Substituições e improvisos durante os jogos também causaram descontentamento. Contra o Ceará, por exemplo, colocou Matheuzinho na esquerda ao sacar Ayrton Lucas mesmo tendo Marcos Paulo no banco. Minutos depois, após ver que a opção fora equivocada, tirou Isla e colocou Marcos.
Rodinei é outro que apareceu na esquerda nos últimos jogos.
Experiências à parte, o mais preocupante é a falta de consistência, sejam em jogos específicos ou na campanha como um todo. O empate por 2 a 2 com derrota nos pênaltis diante do Atlético-MG, na Supercopa, é um exemplo de quanto oscila esse time.
Em termos de campanha, no Brasileiro, por exemplo, o Flamengo emendou duas ótimas atuações contra São Paulo - a única vitória, por 3 a 1 - e Palmeiras (0 a 0), mas caiu e jogou mal contra Athletico-PR (0 a 1) e Ceará (2 a 2). Na derrota para o Botafogo por 1 a 0, até pressionou muito, mas foi ineficaz.
A derrota para o Fluminense na decisão estadual que consistiu na perda do inédito tetracampeonato também não desceu para os rubro-negros. O desempenho muito ruim contra times da Série A também aumentaram a temperatura das críticas.
A situação tranquila com classificação encaminhada na Libertadores é exceção, mas até mesmo nas três vitórias o Flamengo foi inconsistente, sobretudo contra Talleres (3 a 1) e Universidad Católica (3 a 2). No empate com o Talleres, aliás, o time escapou da derrota em atuação muito ruim.
Sobre planejamento e reforços, a favor de Paulo há o fato de que somente Santos e Pablo foram indicados por ele dentre os cinco contratados para a temporada.
Hugo é problema de bola dividida entre o goleiro e comissão
Hugo vive sua pior temporada no Flamengo, e o mau momento se dá justamente no ano em que ganhou status de titular. Paulo Sousa e Paulo Grilo resolveram apostar no jovem por verem nele potencial e também devido à queda de Diego Alves. Some-se a isso que a relação deles com o camisa 1 não foi das melhores após os contatos iniciais.
A aposta parecia restrita à disputa entre Hugo e Diego, mas perdurou após a chegada do goleiro Santos, um dos primeiros nomes que indicou à diretoria. Por mais que não tenha confirmado em entrevistas, Paulo Sousa e Paulo Grilo optaram por um goleiro para copas (Santos) e outro para a liga (Hugo).
Santos fez partidas seguras, enquanto Hugo acumulou falhas em jogos importantes. Além de não ir bem no jogo com os pés, o prata da casa também mostrou insegurança sobretudo nos duelos em que cometeu erros decisivos. Foi assim contra Fluminense, Atlético-MG, Botafogo e Ceará, estes os dois últimos adversários do Brasileiro.
Hugo tem culpa por ir mal no momento em que mais é incentivado no clube, mas os Paulos Grilo e Sousa também têm. Parece que a opção de preservar um goleiro que acostumou-se a sentir os golpes e que não tem o apoio popular nunca foi levada em conta.
Dos 26 jogos de Paulo Sousa à frente do Flamengo, Hugo jogou em 20, Santos em quatro (três pela Libertadores e uma pela Copa do Brasil) e Diego Alves em apenas duas.
Hugo foi mantido em todos os jogos posteriores às falhas decisivas. No último, porém, é preciso citar que além dele só estavam disponíveis os jovens Matheus Cunha e Bruno, goleiro do sub-20.
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