Depois de 23 jogos, a invencibilidade do Flamengo em 2024 chegou ao fim na temida altitude de 3.600 metros de La Paz. A aposta de Tite (em decisão respaldada pela diretoria) em um time muito modificado e mais físico para enfrentar o Bolívar passou longe de funcionar: a equipe não conseguiu ficar com a bola e nem anular as armas do adversário na derrota por 2 a 1 para os bolivianos na noite da última quarta-feira. Se a ciência é a palavra da moda no clube, será preciso trocar de "matéria" com a matemática.
O torcedores rubro-negro que antes sonhava com a melhor campanha geral da Libertadores agora já começa a fazer contas passada metade da fase de grupos. Depois de três jogos, o Flamengo soma só quatro pontos, viu o Bolívar disparar na liderança do Grupo E com nove e ainda pode cair para terceiro se o Millonarios ganhar do Palestino por dois gols de diferença nesta quinta-feira.
Antes de mais nada, obviamente é preciso reconhecer que a escalação dos titulares não era garantia de vitória na altitude. Mas teoricamente aumenta as chances de sucesso. E nos dois "tropeços" até aqui na Libertadores o Flamengo entrou bem modificado. No 1 a 1 com o Millonarios, poupou Léo Pereira, Ayrton Lucas e Luiz Araújo, enquanto De la Cruz ficou fora devido a uma virose. Já no 2 a 1 do Bolívar, Pedro, Arrascaeta, Pulgar, Ayrton Lucas e Varela sequer viajaram; Luiz Araújo começou no banco, e Léo Pereira e Cebolinha foram desfalques.
Bruno Sávio e, principalmente, Patito Rodríguez achavam muitos espaços pelas laterais. Foi assim que surgiu o primeiro gol pela direita; logo depois quase saiu o segundo em cruzamento da esquerda para Bruno Sávio; e ainda teve o chute de Chico na rede pelo lado de fora no fim do primeiro tempo, após jogada de linha de fundo de Saavedra. O Flamengo até já tinha empatado em belo gol de Viña, mas só melhorou quando Tite adiantou Léo Ortiz para fazer a função de volante.
Porém, o time não conseguia ficar com a bola, até porque errava muitos passes em função da velocidade que ela pegava (trocou apenas 284, quase metade do rival, e com só 75% de precisão). Bruno Henrique de "falso 9" não conseguia fazer o pivô, e a equipe variou sua posse entre 42% e 45%. O Bolívar tinha uma falha de marcação pelo meio, como escancararam David Luiz e Igor Jesus em arrancadas desde o campo de defesa até o ataque, mas o Flamengo não soube explorar isso. E apesar das 15 finalizações que mostram os números, o Rubro-Negro teve raras chances de gol.
Além do gol de Viña, Bruno Henrique teve uma oportunidade de ouro para virar o jogo em cabeçada para fora sem goleiro, onde acabou se chocando com a trave aos 38 minutos. E no segundo tempo, aos 30, Gerson foi fominha e perdeu a chance de deixar Lorran cara a cara com o goleiro. E foi só. O lance do Lorran após passe por cobertura de Matheus Gonçalves, citado por Tite na coletiva, não entra na conta porque o atacante não tinha condições de alcançar a bola.
Por sua vez, o Bolívar era sempre perigoso e poderia ter construído um placar maior. Ao todo, foram 26 finalizações e nove grandes chances. Além dos dois gols, teve a furada de Bruno Sávio aos três minutos de jogo; a defesaça de Rossi na bomba de Patito Rodríguez aos 25; a batida cruzada de Bruno Sávio aos 36; o chute de Chico na rede pelo lado de fora aos 41; a conclusão de Saucedo livre na entrada da área aos 43. Já no segundo tempo, houve ainda a cabeçada de Bruno Sávio com o goleiro batido aos seis; e o chute de Chico rente à trave após ganhar na corrida de Fabrício Bruno, aos 13.
Com um placar de 1 a 1 que teria sabor de vitória na altitude, o Flamengo se empolgou e se expôs no segundo tempo tentando a virada. Acabou tomando o segundo gol de contra-ataque, aos 16 minutos, em lance que começou com uma perda de bola do "atacante" De la Cruz e passou pelo bote precipitado de Igor Jesus na lateral do campo. Dali em diante, o Bolívar não levou mais perigo, mas soube fazer o que o Rubro-Negro não fez: administrar o resultado, que o deixa com um pé e meio classificado para as oitavas de final.
Está certo que o Flamengo ainda tem dois jogos em casa para fazer, inclusive contra o próprio Bolívar, mas a derrota coloca uma pressão sobre o time para enfrentar o Palestino no Chile na próxima rodada. Antes, o Rubro-Negro volta o foco para o Campeonato Brasileiro e tem pela frente o clássico contra o Botafogo no domingo, às 11h (de Brasília), no Maracanã. Os jogadores retornam ao Rio de Janeiro na manhã desta quinta, e Tite terá três dias para trabalhar a equipe.
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