Desde a semana passada, moradores da cidade de Delmiro Gouveia se mobilizam nas redes sociais com o objetivo de conseguir ajuda para o tratamento de uma cadela de rua que foi espancada e teve grande parte do corpo queimada por uma substância conhecida como soda cáustica.
O apelo foi feito inicialmente no último sábado (14) pela médica veterinária Jaquel Moraes, que atende voluntariamente ao animal, desde o ocorrido. “Precisamos de ataduras, esparadrapo, gazes e muitos medicamentos”, postou em seu perfil do Facebook a profissional da Clínica Veterinária e Petshop Reino Animal.
A médica veterinária relatou para o Correio Notícia que, desde que fez a portagem na rede social, muitas pessoas estão ajudando. “Temos recebido ajuda até de fora do estado. Aqui na cidade tem gente trazendo ajuda na clínica e em outros casos estou indo buscar nas residências. O tratamento é demorado, por isso precisamos de mais ajuda”, disse.
Quem quiser ajudar pode realizar depósito no Banco do Brasil através da agência 1054-5 e conta corrente 227048, no nome de Lidiane Teotônio. Também é possível levar doações até a clínica onde o animal está em tratamento, que fica na Rua Presidente Getúlio Vargas, 225, no bairro Eldorado.
Sobre o estado de saúde da cadela, Doutora Jaquel adianta que é considerado estável, embora ela venha sentindo muita dor e tenha perdido a visão de um dos olhos por conta da soda cáustica. “Estamos controlando a infecção dos ferimentos, que é uma grande preocupação nossa. Ela sente muita dor, tanto que para o tratamento estamos tendo que sedá-la”, explicou a médica veterinária.
Doutora Jaquel lembra o estado em que recebeu a cachorrinha na clínica em que trabalha. “Ela chegou em estado muito grave. Como também teve a língua queimada ao lamber o pelo após a agressão, estava sem se alimentar. Ela tem reagido bem ao tratamento, tanto que já se alimenta e até anda, do jeitinho dela, mas anda”, relatou.
Jaquel Moraes cuida voluntariamente de animais vítimas de maus-tratos e abandonados na rua (Foto: Divulgação/Rede social) |
A veterinária agradeceu à ajuda que já recebeu e pediu para que continuem ajudando, pois além do caso da cachorrinha agredida, ela tem outros animais que cuida voluntariamente na clínica onde trabalha e que também precisam de ajuda. “Espero que com o passar dos dias nossa causa não entre no esquecimento das pessoas, como já tem acontecido em outras ocasiões”, concluiu.
A agressão
Conforme uma testemunha que preferiu não ter o nome divulgado, a agressão contra a cadela aconteceu no sábado (7), na Travessa São Francisco de Assis, no bairro Eldorado. “Meus vizinhos escutaram o barulho de um cachorro sendo agredido, quando se dirigiram para o local e se depararam com a cachorrinha ferida”, relatou.
Ainda de acordo com a pessoa, um idoso teria praticado o ato cruel contra o animal. “Ele foi flagrado espancando com um pedaço de madeira e depois jogando um líquido no animal, apenas porque ele teria entrado no estabelecimento dele”, disse a testemunha, destacando ainda que o agressor nem se importou com as pessoas que presenciavam a barbaridade.
A cachorrinha foi socorrida por uma vizinha do agressor. “Estava em casa, quando me avisaram do ocorrido. Ao ver a cadela em convulsão na rua, em meio a toda aquela agonia, só pensei em salvá-la. Peguei ela nos braços e levei para minha residência”, relatou a dona de casa Priselle Lima, 33, que realizou os primeiros socorros e cuidou do animal ferido por dois dias.
Priselle Lima cuida de animais que tinham sido abandonados na rua (Foto: Divulgação/Rede social) |
“Parecia que ela me pedia socorro, e eu sentia a dor dela, tanto que enquanto ela lacrimejava eu também chorava ao lado. Teve um momento que ela entrou em convulsão e não vi outra opção senão fazer uma oração com a promessa de que, se ela escapasse, eu a chamaria de Santa”, relatou Priselle, que já acolhe em sua residência nove gatos que tinham sido abandonados na rua.
Como a situação da cadela só piorava, a dona de casa pediu ajuda a um radialista amigo dela que conseguiu contato com a clínica onde a Doutora Jaquel trabalha. “Ele a procurou porque ela já ajuda todos os dias outros animais vítimas de agressões ou abandonados nas ruas da cidade”, explicou.
Segundo Priselle Lima, depois de voltar da clínica, como ela conhecia o agressor, tentou fazer com que ele arcasse com o tratamento da cadelinha. “Já tínhamos registrado o caso na delegacia e prometemos a ele que iríamos retirar, caso ajudasse na compra de medicamentos para o tratamento da cachorra. Ele concordou a princípio, mas, depois que retiramos a queixa na polícia, voltou atrás”, relatou.
Diante da situação, a dona de casa voltou à delegacia de polícia e registrou outra queixa contra o agressor. “Não denunciei por vingança, mas por amor à cadelinha. O que importa para mim é que ela se saia bem dessa”, afirmou Priselle, que já cria uma cachorrinha da raça Poodle, mas pretende ficar com a outra, quando ela receber alta médica. “Estou sempre visitando-a na clínica porque a amo”, completou.
O delegado Rodrigo Rocha Cavalcanti, titular da Delegacia Regional de Polícia (1-DRP), sediada na cidade, informou que nesta segunda-feira (16) foi instaurado contra o suspeito da agressão um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por crueldade contra os animais. O nome do suposto agressor não foi divulgado pela polícia.
Órgão de proteção de animais
Em Delmiro Gouveia existe a Associação Delmirense de Proteção Animal (ADEPAN), que até o ano passado recolhia animais de rua para um abrigo onde os tratava e mantinha para adoção. As atividades eram custeadas por um recurso oriundo de doação dos vereadores do município.
Com o período eleitoral, o repasse de recursos dos vereadores para a Adepan foi finalizado, fazendo com que suas atividades fossem paralisadas, ainda mais porque a instituição sem fins lucrativos não dispunha de sócios e voluntários suficientes para arcar com suas despesas.
A perspectiva é de que um Projeto de Lei que considera a Adepan de Utilidade Pública Municipal seja aprovado pela edilidade, assegurando à associação o direito de também poder inscrever-se em editais e estar apta a obter recursos públicos.
Por outro lado, o município não tem um centro de controle de zoonoses, mas, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal, existe um projeto em andamento para a construção de um.
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