Não demorou nem dois dias.
Bastou que os médicos e os cientistas alertassem para a necessidade de aumentar o distanciamento social e de apelar, em alguns centros, ao lockdown para evitar um massacre maior e o capital, descaradamente, sai em marcha, com Jair Bolsonaro à frente, para imprensar o Judiciário para que não permita que governadores e prefeitos tomem medidas protetivas para a população.
Sob a batuta de Marco Polo de Mello Lopes, representante das siderúrgicas, foram dizer que, embora ninguém esteja os impedindo de funcionar, a queda da demanda está fazendo com que suas vendas e a produção caiam.
Ora, então o que querem não é permissão – que nunca deixaram de ter – para trabalhar, mas que todo o comércio abra, para que possam – ou pensem que podem – voltar a venderem o que produzem.
As pessoas morrem com isso? Sim, e daí.
Bolsonaro sequer se acanhou em dizer que vai retirar autoridade dos governadores definindo, por sua conta, tudo como sendo essencial.
É a vergonha suprema para uma classe dirigente e um governo que desprezam o ser humano e uma vergonha, também, para o Supremo, ter um presidente que aceita ser atropelado por uma passeata do capital, com direito a transmissão ao vivo pelas redes bolsonaristas.
Alguém consegue imaginar Donald Trump acompanhado de um séquito de empresários ir abrir as portas da Corte Suprema?
A pressão é evidente e duvido que uma passeata de médicos ou de dirigentes de sindicato de trabalhadores fosse recebida assim, de supetão e com transmissão ao vivo.
O empresariado brasileiro e o governo de nosso país, ao ignorar e subverter as orientações sanitárias em nome dos lucros – todos ele têm montanhas de dinheiro, ao contrário do povo – mas não conseguem, por dias que sejam, conter seus apetites de lucro.
*Artigo publicado no blog do autor e no Diário do Centro do Mundo, em 07/05/2020
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