Que imagem você tem de Deus? É um Deus que ama ou que pune e castiga; é um Deus que dá liberdade ou um Deus arbitrário que tira nossa liberdade e decide o que acontece com nossa vida? Normalmente, as nossas imagens de Deus são moldadas pelas experiências de nossa infância. Elas são misturadas por muitas situações em que nós vamos vivendo em nossa casa, em nossos ambientes, na relação com as pessoas, com os pais, com os amigos. Nisso podemos encontrar na nossa relação com Deus, bloqueios que tivemos na nossa história de vida. É importante perceber isso para limpar a nossa relação com Deus, de sombras e traumas que vivemos em nossas experiências.
Não basta retomar as imagens de Deus que nós encontramos na bíblia, porque ali também nós vamos ver as imagens da bíblia a partir dos óculos da nossa vida e isso vai falsificar e poluir a imagem do Deus verdadeiro. Quem é duro demais consigo mesmo, por exemplo, também projetará em Deus essa dureza. Quem não se perdoa, terá dificuldades de ver Deus como perdão; quem julga muito, verá Deus como um justiceiro arbitrário; quem não concede nada a si mesmo, verá Deus assim, como alguém que não lhe favorece a vida; quem foi muito mimado pelos pais, vai ver a Deus como alguém que lhe tira todas as dificuldades e usará a Deus a serviço próprio, como usou seus pais.
A poluição maior para a imagem de Deus acontece pela ideologia. Por exemplo, quando não tenho coragem e persistência para enfrentar os problemas da vida, chamo isso de cruz. E mais: digo que é Deus que me deu essa cruz. Essa é uma grande mentira e uma falsificação da vida e de Deus. Ao invés de perceber que os conflitos precisam ser enfrentados por mim, atribuo a Deus algo que ele não fez. Por isso, algumas ideias religiosas que alimentamos, podem mais destruir do que construir. Ao invés de enfrentar a vida com honestidade, a pessoa diz: “Deus me deu essa cruz e preciso carregá-la em nome de Jesus”. De uma ideia aparentemente piedosa, quando refletida, passa a ser uma blasfêmia e uma mentira, pois Deus nunca deu e não dá cruzes para ninguém. E muitos pregadores da Bíblia a reforçam.
Essa forma de ver me impedira de encarar o verdadeiro problema, que eu preciso encarar, e não pensar em estar cumprindo a vontade de Deus, carregando a cruz que Ele me deu. A imagem de Deus precisa, portanto, ser purificada por Jesus, que nos mostrou a misericórdia, o amor do Pai. E o amor não deixa ninguém mole demais com a vida e nem rígido, duro consigo e com os outros. O amor dá a justa medida a vida, por isso, Deus só sabe, só quer e só pode amar.
*É sacerdote da Diocese de Caxias do Sul (RS). Cantor, escritor e compositor, lidera o “Projeto Despertai para o Amor”, de evangelização através da música e dos meios de comunicação
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