Ainda sob efeitos do apagão de dados oficiais, a média móvel de casos notificados de covid-19 subiu 111% no Brasil em duas semanas, apontam informações reunidas até quinta-feira, 30, pelo consórcio de veículos de imprensa. O índice foi de 3,5 mil para 7,4 mil, atingindo um patamar similar ao do início do mês. Embora o indicador se mantenha bem abaixo do pico da pandemia, quando se estabilizou acima de 30 mil, especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que o aumento pode representar piora no cenário.
Em parte, é possível que a variação ocorra porque os sistemas do Ministério da Saúde estão instáveis desde o início de dezembro, o que resulta em represamento de dados. Ainda assim, especialistasreforçam que o crescimento das hospitalizações por covid em alguns Estados e das porcentagens de testes positivos em laboratórios corroboram as análises de que a alteração na média de casos não é algo isolado. A principal causa, explicam, pode ser o avanço no País da variante Ômicron, considerada mais contagiosa.
"Está aumentando (a demanda por) testes, aumentando positividade, aumentando sintomas, aumentando suspeita, aumentando internação", alerta Marcio Bittencourt, epidemiologista do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP. Segundo ele, é possível até que a Ômicron já corresponda à "maior parte" dos casos notificados no Brasil. O baixo sequenciamento genético, porém, somado ao apagão de dados da Saúde, dificulta entender com exatidão o atual cenário.
Apesar de a média móvel de casos de covid no País ter saltado 111% na comparação com duas semanas atrás, a de óbitos teve queda de 12% no mesmo período. Além dos efeitos da vacinação, que evitam que a doença evolua para quadros graves, Bittencourt acredita que isso está relacionado ao fato de as infecções terem começado a subir há cerca de duas semanas. "Ainda não deu tempo de ver o efeito em mortes", diz o epidemiologista.
A indicação por ora é manter as ações de proteção, como distanciamento e uso de máscaras. "Estamos em um momento de bastante incerteza, então é importante reduzir os riscos aos quais nos expomos", diz Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19. Ele reforça que continuar adotando medidas não farmacológicas é importante até mesmo para conter os surtos de gripe.
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