Rio de Janeiro, 14 de março de 2018. Bairro do Estácio, na região central da cidade. A vereadora Marielle Franco estava indo para casa depois de um evento no centro. O carro foi interceptado. Marielle levou quatro tiros e o motorista Anderson Gomes, três. Ambos morreram na hora. A assessora parlamentar Fernanda Chaves, que também estava no veículo não foi atingida pelas balas.
Um ano depois, a Polícia prendeu dois acusados de executar o crime, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, que também teriam envolvimento com grupos de milícia. Já os mandantes, até agora não foram identificados.
Anielle Franco, atual ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, diz que a prisão dos possíveis executores foi um passo essencial, mas considera que cinco anos é tempo demais sem uma resposta definitiva:
“ A gente tá aí com meia década de espera. A gente sabe que foi um crime que também foi infelizmente muito bem arquitetado. Não foi uma coisa da pessoa provavelmente decidir no dia 14 de manhã assassinar a Marielle porque têm todos os registros da pesquisa, né? O lugar, eu lembro perfeitamente a rua o quanto era escura, né? Por não ter nada ali não tem nenhuma movimentação. Não tem aquela câmera funcionando, entende?"
Apesar da sua longa trajetória de atuação em defesa dos Direitos Humanos, Marielle transitava tranquila naquele dia 14 de março, sem a companhia de seguranças, porque não sofria nenhuma ameaça, de acordo com a família. A única sobrevivente do atentado, a jornalista Fernanda Chaves, complementa que quando os atiradores abriram fogo foi tudo tão inesperado, que ela demorou para compreender o que estava acontecendo:
“A gente estava indo, conversando, o carro andava devagar. E eu só ouvi uma rajada, que atingia o nosso carro né. Então eu me abaixei, imediatamente. O Anderson chegou a fazer, fez um 'ai' assim, eu entrei em choque porque foi óbvio que eu percebi aquela investida, que o carro tinha sido atingido, os vidros estouraram, eu não consegui enxergar nada. Eu percebi que o carro continuava em movimento, que o Anderson estava inerte, Marielle estava quieta, desliguei o carro. E consegui sair. Eu não conseguia fazer uma análise sobre o que estava acontecendo. Não conseguia enxergar muito bem as coisas, porque tinha muito sangue no meu rosto."
Uma força tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil apura o crime, mas não divulga detalhes das investigações, que prosseguem sob sigilo. MP declarou que a identificação do mandante de qualquer homicídio é sempre mais complexa que a do executor e acrescentou que como os executores de Marielle e Anderson são profissionais e ex-policiais militares, eles sabem como se investiga, o que torna tudo ainda mais difícil.
Desde o dia 22 de fevereiro, a Polícia Federal também trabalha no caso, por ordem do ministro da Justiça Flávio Dino que, quando assumiu a pasta, afirmou que era uma questão de honra para o estado brasileiro desvendar os mandantes do assassinato.
Com a repercussão internacional do assassinato, a Organização das Nações Unidas também passou a acompanhar o caso. Para Jan Jarab, Chefe regional do escritório para os Direitos Humanos na América do Sul, o crime se insere em um contexto de violência política no Brasil. Mas ele é cauteloso a respeito dos indícios de pressões e interferências nas investigações:
“Mencionaram como elementos preocupantes na investigação do caso, possíveis intentos de interferir no caso por parte das autoridades políticas. E também estamos conscientes de que, no caso, associam um fato evidente que tinha muitas mudanças dos responsáveis pelo caso. Evidentemente não corresponde ao comissariado de fazer uma avaliação do caso concreto. Temos que respeitar essa prerrogativa do Poder Judiciário nacional”.
Já a família da vereadora faz o que pode, e segue acompanhando atentamente as investigações durante todo esse tempo, como conta a mãe de Marielle, Marinete Silva:
“Estou sempre no MP. Na DH já fui várias vezes. Tenho acompanhado. Eu acompanho bastante o caso da minha filha. É bem doloroso. É porque é uma resposta que você não tem e você fica se questionando todo dia. Eu vou lutar, que eu quero que Deus me dê vida para estar viva, até saber quem mandou matar minha filha”
Coube a Marinete, Anielle, Renata, Fernanda e a tantas outras pessoas próximas ou inspiradas por Marielle cumprir a promessa que ela fez em um dos últimos pronunciamentos na Câmara de Vereadores do Rio: "Não serei interrompida!”
Atualmente, Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz estão em presídios de segurança máxima fora do estado. Eles já são réus por duplo homicídio triplamente qualificado e serão julgados por um júri popular ainda sem data marcada. Ambos alegam inocência.
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Serão publicadas três reportagens até o dia 16 de março, sobre os cinco anos dos assassinatos da ex-vereadora do PSOL-RJ, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes. Fato ocorreu em 14 de março de 2018 e até o momento segue sem conclusão.
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