Na noite da última terça-feira (5), policiais militares se valeram de bombas e balas de borracha para dispersarem – de forma truculenta – foliões que pulavam carnaval em um bloco na Barra Funda, zona Oeste de São Paulo. Ao menos três pessoas ficaram feridas.
As vítimas da ação policial relataram que o bloco já havia se dispersado e poucas pessoas permaneciam na região quando foram surpreendidas pelos policiais. Uma mulher foi até a delegacia relatar o caso, mas acabou sendo ameaçada por um PM que disse não ter “cerimônia para quebrar a cara de uma mulher” – além de ver policiais civis se recusarem a fazer o registro do caso.
Paula Klein, diretora do Bloco Agora Vai, afirmou que o grupo seguiu todas as orientações previstas e que não havia motivo para atuação violenta da Polícia Militar. “A Polícia Militar sempre foi grande parceira do nosso bloco. O relacionamento é ótimo há 15 anos e esse ano não foi diferente. Por isso que a ação nos surpreendeu”, declarou.
O bloco registrou que esperava até cinco mil pessoas para seguir um curto trajeto pelas ruas da Barra Funda, entre as 15h e 20h. Porém, por causa da chuva, o bloco foi encerrado mais cedo, às 19h, e às 22h todas as vias da região estavam liberadas para tráfego de carros.
Segundo a diretora do bloco, os policiais chegaram ao local por volta das 20h para conversar. A essa altura, o som já estava desligado e a dispersão já ocorria naturalmente. “Não precisava atuar de modo truculento, estávamos dentro do horário. Fomos conversando com os nossos foliões e havíamos liberado a via (Rua João de Barros)”. Depois, segundo ela, por volta das 22h30, a tropa voltou, dessa vez portando bombas e disparando tiros de borracha.
A atriz Thaís Campos Soares, de 36 anos, e seu namorado, o músico Lincoln Antonio, de 48 anos, foram feridos pela ação policial. Thaís relatou que estava na Rua João de Barros, com poucas pessoas, quando os policiais apareceram enfileirados “já tacando (sic) bomba sem conversar com ninguém”.
A moça, que foi atingida na costela, buscou providências na sede da 3.ª Companhia do 4.º Batalhão da PM, em Perdizes, que é a unidade responsável pelo patrulhamento da área. Para sua surpresa, ela acabou se envolvendo em uma discussão e foi ameaçada por um policial militar que não carregava nenhuma identificação em seu fardamento. As ameaças foram registradas em áudio.
Em um primeiro momento, o policial pede para que ela mantenha distância – e Thaís afirma ter permanecido parada. Depois, questionado por Lincoln sobre o motivo do disparo, o agente diz que tem de garantir o “direito previsto pelo artigo 5.º da Constituição, das pessoas que pagam IPVA de passarem com seus carros ali, o direito das pessoas de ter o seu devido descanso”. O homem responde que estava na calçada durante todo o tempo e que o tráfego na rua estava liberado, já que a rua estava vazia.
Claramente mais exaltado com Thaís do que com Lincoln, é possível ouvir o policial se referindo à mulher: “Aponta o dedinho não, se aproxima não. Você vai tomar um atropelo aqui, estou falando para você, toma distância. Não tenho nenhuma cerimônia em quebrar cara de mulher, não, você presta atenção”. As ameaças foram suficientes para que o casal deixasse o local e buscasse registrar a ocorrência no 91º Distrito Policial (Ceasa). Porém, chegando lá, eles receberam a informação de que o caso não pode ser registrado e que as vítimas devem procurar a Corregedoria. Os feridos garantem que ainda pretendem registrar o caso.
O professor Alexandre Rosa, 36 anos, também ficou ferido após ser atingido por um tiro de bala de borracha nas costas. Segundo ele, o policial o atingiu depois de perceber que ele estava filmando toda a ação. “Peguei o celular e comecei a filmar durante a correria. A PM agiu com muita violência sem nenhuma necessidade, estava tudo muito tranquilo e tinha criança e família. Ouvi quando o policial falou: ‘Atira naquele que está filmando’. Virei e saí correndo e senti o tiro nas costas”, relatou.
A diretora Paula Klein disse que pretende reunir queixas de truculência policial não só no seu bloco para fazer uma representação ao Ministério Público. “Mandaram um pessoal despreparado para lidar com o público de carnaval. Trataram foliões como marginais. O carnaval foi manchado pela polícia”, desabafou.
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