O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a insultar a imprensa nesta sexta-feira (25) em viagem a Sorocaba (SP), no interior de São Paulo. Novamente descontrolado, Bolsonaro disse para a jornalista Victória Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, depois para o ensino médio, em seguida, para o jardim de infância e aí "nascer de novo".
O presidente também disse para os repórteres pararem de fazer "pergunta idiota" e se defendeu das acusações sobre corrupção na negociação de compra da Covaxin, dizendo que a vacina não foi comprada e que havia apenas um erro no documento apresentado pelo servidor do Ministério da Saúde.
Em nota, a CBN disse que "repudia o tratamento agressivo e insultuoso de Jair Bolsonaro à repórter Victória Abel. Não foi à repórter que faltou educação nesse episódio. A CBN se solidariza com Victória Abel, que, assim como todos os nossos jornalistas, continuará a fazer seu trabalho para informar os brasileiros".
O insulto de Bolsonaro foi feito após jornalistas questionarem o presidente sobre a avaliação de especialistas de que o Brasil poderia ter evitado mortes pela Covid se tivesse comprado vacinas antes.
"Olha só: no dia seguinte, pelo que fiquei sabendo, era um documento que estava feito de forma equivocada. Faltava um 0 lá. Em vez de 300 mil doses eram 3 milhões. E foi corrigido no dia seguinte. Outra, tem algum recibo meu pra ele? Foi consumado o ato? Há dias seguidos aquilo foi retificado", disse Bolsonaro.
O contrato do governo federal para comprar doses da Covaxin, vacina fabricada na Índia, está na mira do Ministério Público Federal e da CPI da Covid. O contrato com a Covaxin foi firmado em fevereiro deste ano e as doses deveriam ter chegado em maio. Para a compra, o governo chegou a reservar R$ 1,6 bilhão, contudo, não chegou a efetivar o pagamento.
Em entrevista ao jornal "O Globo", o irmão do deputado, Luis Ricardo Miranda, que é chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde, diz ter relatado ao presidente que havia suspeitas de irregularidades por existir "pressão atípica" dentro do ministério para a compra o imunizante.
Os irmãos vão depor aos senadores da CPI da Covid para explicar o que sabem sobre o acordo do Ministério da Saúde com a Covaxin.
Ainda na quarta, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, afirmou que a fala do deputado se trata de "denunciação caluniosa" e disse que pedirá investigação da PF contra Miranda e seu irmão.
Visita a Sorocaba
Bolsonaro esteve em Sorocaba para cumprir agenda na cidade. le e a comitiva presidencial pousaram por volta das 9h30 no Aeroporto Bertram Luiz Leupolz. O presidente, acompanhado do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chegou sem máscara e foi recebido, ainda no aeroporto, pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos).
O uso do equipamento é obrigatório no estado de São Paulo desde maio de 2020, conforme um decreto estadual e uma resolução da Secretaria da Saúde.
No dia 12 de junho, o presidente, o filho, três ministros e outros cinco deputados foram multados por equipes de saúde e segurança pública por não usarem máscara durante um passeio com motociclistas realizado em São Paulo. Cada um deles foi autuado em R$ 552,71.
Vereadores e o secretário municipal de Saúde, Vinicius Rodrigues, também estavam sem máscara.
Apoiadores foram até o aeroporto para receber o presidente, que os cumprimentou, provocando aglomeração. Durante a chegada, Jair e Eduardo receberam uma placa em homenagem ao título de cidadão sorocabano, projeto do vereador Vinicius Aith.
Ao deixarem o aeroporto, Jair e Rodrigo Manga seguiram pendurados no teto e nas portas do carro pelas vias de Sorocaba, ato que é contra as leis de trânsito.
Também participam da visita os ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações), Fábio Faria (Comunicações) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Jair Bolsonaro participou da inauguração do Centro de Excelência em Tecnologia 4.0, no Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS).
Em seguida, ele esteve no evento "Visita de Demonstração do 5G AGRO", que ocorreu na Facens. Bolsonaro ficou na cidade até as 13h.
Protestos
A visita do presidente Jair Bolsonaro a Sorocaba gerou algumas manifestações contrárias ao governo. Um grupo colocou cruzes pretas no parque em frente à prefeitura. O ato foi organizado pelo Coletivo Anticapitalista.
Em outros pontos da cidade, faixas e cartazes também foram colocados com mensagens contrárias ao governo federal.
3ª vez na região
Esta é a terceira passagem do presidente pela região desde que assumiu o cargo. Em outubro de 2020, Bolsonaro esteve no Centro Tecnológico Experimental da Marinha (CTMSP), Aramar, em Iperó (SP).
Na época, o presidente participou da celebração do início da montagem do reator desenvolvido para o primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear.
Bolsonaro também conheceu o Laboratório de Enriquecimento Isotópico (LEI), que fica no Centro Experimental de Aramar.
A visita a Iperó ocorreu um dia após o Ministério da Saúde ter anunciado o protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela farmacêutica chinesa Sinovac.
Na ocasião, Bolsonaro disse à imprensa que já havia mandado cancelar o protocolo.
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