Segundo Beatriz Accioly, líder de políticas públicas pelo fim da violência contra as mulheres do Instituto Natura e co-criadora do Mapa da Violência de Gênero, o Brasil falha diariamente em proteger meninas e mulheres. Segundo ela, a subnotificação ocorre por medo, vergonha e desconfiança nas instituições públicas, o que agrava o problema.

"Os números já são alarmantes, mas o problema é ainda maior. O Estado e a sociedade brasileira não respondem com rapidez, eficiência e acolhimento, o que transmite a mensagem de que essa violência é tolerada."

Falta de acesso e confiança nos mecanismos de proteção

Outro dado preocupante revelado no levantamento é que 7 em cada 10 mulheres que sofrem violência doméstica não pedem medidas protetivas de urgência. Apesar da Lei Maria da Penha, o desconhecimento sobre como acessar os instrumentos de proteção ainda é elevado.

"O Brasil conta com a Lei Maia da Penha, que mês completou 19 anos neste mês. É uma das legislações consideradas mais avançadas e adequadas para tratar desse problema. Mas, a gente ainda não consegue traduzir isso em políticas públicas acessíveis, eficientes e por isso mesmo a baixa adesão da população. Quando não se conhece um instrumento, não se confia nele. Então, a gente tem um problema também de comunicação."

Beatriz ressaltou que enfrentar a violência contra a mulher não é apenas uma questão de justiça, mas de democracia e desenvolvimento nacional. Para ela, é necessário que o Estado assuma a liderança na agenda, com orçamento, infraestrutura e políticas públicas eficazes.

O estudo foi produzido com base nos dados do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp), ligado ao Ministério da Justiça, e está disponível para acesso público no Mapa Nacional da Violência de Gênero. A plataforma reúne e organiza dados de forma acessível, com atualizações constantes.