A CPI da Covid no Senado apreendeu, nesta quinta-feira (1º), o celular do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que diz ser representante no Brasil de uma empresa privada que atuaria na intermediação de contratos de vacinas – a Davati Medical Supply.
A apreensão foi motivada por dúvidas da CPI sobre o contexto de um áudio atribuído ao deputado Luis Miranda (DEM-DF), citado e reproduzido por Dominguetti durante a fala à comissão. O policial diz que Miranda tentou negociar aquisição de vacinas contra a Covid diretamente com a Davati.
A decisão de recolher o celular foi anunciada pouco antes do meio-dia, e o celular de Dominguetti foi retido pela mesa da CPI. Às 15h, uma equipe da Polícia Legislativa do Senado compareceu à sala da comissão e, na frente dos membros e do advogado do depoente, recolheu o aparelho em uma embalagem lacrada.
Os nomes de Miranda, de Dominguetti e da Davati vieram à tona, nos últimos dias, em razão de duas denúncias distintas de supostas irregularidades na compra dos imunizantes
Dominguetti usou o áudio como "prova" da afirmação de que Luis Miranda teria tentado intermediar compra de vacinas. O áudio no entanto, não cita a palavra vacina ou qualquer sinônimo.
Envolvidos negam relação
Mesmo antes de reproduzir o áudio, Dominguetti já havia dito que não chegou a tratar diretamente com o deputado Luis Miranda. A conversa teria sido com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.
"O Cristiano me relatava que volta e meia tinha parlamentares procurando, e o que mais incomodava era o Luis Miranda, o mais insistente com a compra e o valor de vacinas. O Cristiano me enviou um áudio onde pede que seja feita uma live, o nome dele, que tinha um cliente recorrente, que comprava pouco, em menos quantidade, mas que poderia conseguir colocar vacina para rodar", declarou.
Ao jornal "O Globo", na manhã desta quinta, Cristiano Alberto Carvalho negou que o áudio divulgado por Dominguetti fizesse referência a alguma negociação de vacinas.
O próprio deputado Luis Miranda também negou à CPI que o áudio tenha relação com vacinas contra a Covid, segundo informou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM).
"Há pouco fui conversar com o deputado Luis Miranda, chamei outros membros, o senador Fernando bezerra estava junto, o senador Marcos do Val. E fiz questão que tivesse testemunha da minha conversa com ele para que depois não pairasse dúvida que eu tinha induzido", disse Aziz.
Recuo
Após a forte reação dos senadores, Dominguetti chegou a recuar, em parte, nas afirmações que o levaram a divulgar o áudio de Luis Miranda. Segundo ele, apenas Cristiano Carvalho poderia confirmar o conteúdo daquela conversa.
“Quando eu recebi o áudio do Cristiano, ele só colocou um post assim de um print, de uma publicação do deputado, e o áudio embaixo, né? Então, assim eu não sei o teor que ele conversou, não sei o que se tratou, o que foi ajustado entre eles, qual que foi a narrativa de quando é o áudio, eu não posso fazer esse juízo de valores", disse Dominguetti.
"Por isso que eu não, como diz assim, eu não mencionei. Porque eu não tinha ali o elemento que falasse, 'olha, isso aqui é disso, isso aqui é daquilo', quem pode responder, qual é o tipo de transação, quando foi feita, como foi feita, quem fez um momento que fez, somente o Cristiano".
Testemunha 'plantada'
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) levantou, na comissão, a suspeita de que Dominguetti tenha sido "plantado" para confundir os trabalhos.
"Com todo respeito, essa testemunha foi plantada aqui. Ela foi plantada, ela está em estado flagrancial do artigo 342. Tem que dar voz de prisão a esse depoente", disse Contarato.
"Com base em que o senhor fala isso? Plantada por quem?", questionou o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO).
"Com base em quê? Olha aí qual é a conversa, a conversa anterior a esse áudio. Esse áudio se refere a que? Ele se refere a Walmart, a pequenos contratos, ele nunca fez contrato nenhum com o Ministério da Saúde, pelo amor de Deus", respondeu Contarato.
Luis Miranda e Davati
O deputado Luis Miranda entrou no escopo da CPI depois que o irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmou ao Ministério Público ter sofrido "pressões atípicas" na pasta para liberar os documentos de aquisição da vacina indiana Covaxin.
Os irmãos depuseram à comissão na última sexta-feira (25), quando reafirmaram a existência de irregularidades nesse processo. O deputado disse que levou as denúncias ao presidente Jair Bolsonaro – que teria citado o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) como possível envolvido e prometido levar o caso à Polícia Federal.
Bolsonaro já confirmou que se reuniu com os irmãos Miranda, mas disse que não ouviu tais denúncias da dupla.
Já a empresa Davati entrou no radar da comissão em razão de outras denúncias, feitas por Luiz Dominguetti ao jornal "Folha de S. Paulo" e divulgadas na última terça (29).
Segundo Dominguetti, que se diz representante da firma, o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Rodrigo Dias, pediu propina de US$ 1 por dose de vacina da empresa Astrazeneca ao negociar um contrato de compra de 400 milhões de doses.
A Davati seria uma intermediária dessa transação, de acordo com Dominguetti. A empresa, no entanto, informou que Dominguetti é um "vendedor autônomo" e negou ter convênio para venda da vacina da AstraZeneca. Em nota, a AstraZeneca afirmou que não tem um intermediário no Brasil.
Na noite de terça, após a publicação da "Folha", Rodrigo Dias foi exonerado. Na quarta, Dominguetti foi convocado pela CPI e, nesta quinta, compareceu ao Senado para prestar depoimento à comissão.
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