A mãe da criança estuprada dentro de um presídio na Grande Fortaleza denunciou nesta quinta-feira (18) um atendimento "constrangedor" para a filha após o crime. Conforme a mãe, ela foi levada do presídio onde ocorreu o estupro até a delegacia na mesma ambulância em que estava o presidiário, apontado como autor do crime.
"Chamaram a ambulância, ele [suspeito de estuprar a criança] veio atrás, e a gente veio escoltada por três agentes penitenciários. Viemos todos na mesma ambulância, ele atrás. Foi constrangedor. Fomos levados pra delegacia, lá a gente registrou o boletim de ocorrência e fizeram o flagrante", conta. O homem recebeu atendimento porque foi agredido por outros presos e ficou ferido.
A criança foi estuprada Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL V), em Itaitinga, na Grande Fortaleza, no sábado (13), quando os internos receberam visita dos filhos, devido ao Dia das Crianças. O crime ocorreu na ala onde ficam os condenados por crimes sexuais.
Em nota, a Secretaria da Justiça, responsável pelo sistema prisional no Ceará, afirmou que manteve a criança afastada do agressor, em um "veículo-xadrez". "No dia do ocorrido, [uma equipe de agentes de segurança] conduziu, na presença de uma agente penitenciária feminina, a criança, familiares e agressor à Delegacia responsável em um chamado veículo-xadrez. O acusado foi levado na carceragem do veículo e a vítima, na cabine de passageiros", diz a nota.
'Não venho mais visitar meu pai'
A mãe conta que a criança havia feito um brinquedo no presídio, com ajuda do pai, e queria assinar com o nome da professora para presenteá-la. Segundo ela, o presidiário que iria registrar o nome da professora com tinta foi o autor do estupro.
"Ela [a criança vítima de estupro] saiu com o pai pra assinar o brinquedo. Num momento de distração que ele [presidiário suspeito do crime] pegou ela num canto. Ela disse 'mãe, eu não venho mais aqui visitar meu pai'; eu perguntei 'por quê? Tem que ter um motivo'. Ela disse 'mãe, um homem estava pegando nas minhas partes’; e eu, 'onde?'. Ela fez assim: 'aqui'. Ele disse que ela não alarmasse. Aí ela disse 'mãe eu fiquei tentando sair, beliscando ele, aí ele foi e colocou o dedo nas minhas partes'."
"Quando ele deu uma bobeira, ela saiu correndo pra me contar. Eu fiquei logo nervosa, eu chamei meu marido pra resolver", acrescenta.
Os demais presos agrediram o suspeito do estupro. Em seguida ele foi atendido em um hospital e levado a uma outra unidade, para evitar um linchamento, segundo agentes penitenciários.
Ameaça à família
Após o crime, a Justiça proibiu a visita de crianças na unidade. A mãe conta que passou a ser ameaçada por mulheres de presos após a decisão da Justiça.
"Estou até com medo de voltar lá. As mulheres disseram que por minha causa proibiram os filhos delas de verem os pais", afirma.
A Secretaria da Justiça do Ceará (Sejus) informou que a visita de filhos e netos de internos é garantida pela “Lei de Execução Penal e sempre transcorreu normalmente, desde que as crianças estejam acompanhadas pelas responsáveis legais e que estejam cadastradas no Núcleo de Cadastro de Visitantes para tal fim”.
O presidente da Comissão de Direito Penitenciário da OAB-CE, Márcio Vitor Albuquerque também esclarece que não há impedimento legal para a entrada de crianças que vão visitar parentes no Sistema Penitenciário. No entanto, segundo ele, é responsabilidade do estado garantir a segurança dessas crianças.
O presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen), Cláudio Justa, afirma que o crime demonstra insegurança no interior da unidade prisional, que sofre com a superlotação. Ele comentou que não é comum esse tipo de ações contra familiares, já que os presos têm a visita como "sagrada".
"O que é preocupante é que hoje, em razão da superlotação, estamos presenciando problemas de acesso de agentes dentro de onde os presos ficam. Não é adotado um plano especial de segurança, já que é um horário sagrado pra eles. Fugiu da expectativa total", afirmou.
Utilize o formulário abaixo para comentar.