Uma bebida suave e adocicada, que só pode ser obtida com sementes de frutos que foram colhidos maduros, nem antes e nem depois. Este é o café especial, pelo qual o Brasil tem sido reconhecido internacionalmente.
O rastro desse grão de São Paulo até o Sul de Minas Gerais é onde está metade da produção brasileira. É a segunda reportagem da nova temporada da série quinzenal do De onde vem o que eu como.
Nesse percurso, a equipe encontrou uma fazenda que bateu recorde em concurso internacional e uma versão da bebida que movimenta campeonatos e gera novos profissionais, como os "sommeliers de café", que testam a qualidade do produto da fazenda à cafeteria.
Mais curiosidades sobre o café
Café especial X tradicional - enquanto o café especial é feito só com sementes de frutos maduros, o café tradicional aceita mistura com grãos verdes, secos, que passaram um pouco do ponto. Além disso, pode conter impurezas, como galhinhos e cascas da colheita. Porém, o governo estabeleceu que, a partir de janeiro de 2023, o café comum não poderá conter mais de 1% de impurezas.
O gosto amargo do café tradicional existe por causa da torra escura que a indústria faz para esconder as imperfeições. A torra do especial é mais clara.
Planta de café precisa descansar - o cafeeiro tem bienalidade em sua produção: em anos pares, tem safra alta. Em ímpares, baixa. Isso porque depois de um ano de muita produção, a planta precisa de um tempo para recuperar suas reservas internas e sua vegetação.
De onde vem a cafeína? - Essa substância faz parte da genética das plantas de café, assim como nós temos genes que expressam a cor dos nossos olhos. A cafeína está presentes nas folhas, nas sementes e, em menos quantidade, nas raízes.
De onde vem o aroma e sabor? - O grão cru não tem gosto. Este só aparece durante a torra, que nada mais é do que submeter os grãos ao calor de uma máquina de torrefação. Com a alta temperatura, compostos como óleos e açúcares da semente se desenvolvem, gerando aroma e sabor.
Porém, nada disso existe se, no campo, a planta sofre com o clima – como uma seca – entre a floração e a maturação. Neste período, a planta produz os compostos químicos que, mais tarde, na torra, gerarão sabor, explica o pesquisador da Universidade Federal de Lavras, Flávio Borém.
Ganhando a vida tomando café especial - esse setor demanda especialistas que saibam pontuar a bebida usando uma metodologia internacional desenvolvida pela Specialty Coffee Association (SCA).
Esses profissionais são encontrados em fazendas, cooperativas, empresas de exportação e importação (tradings), torrefações e cafeterias. Geralmente, estão ou já eram ligados à alguma atividade do café: barista, torrador, classificador, agricultor, entre outros.
É recomendável ter o certificado de Q-Grader (Avaliador Q de qualidade), emitido pelo Coffee Quality Institute (CQI). Há cursos preparatórios em associações, empresas, institutos e na Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
Prêmio de assobio mais alto e mais belo - esse campeonato surgiu como uma brincadeira durante a Semana Internacional do Café em Belo Horizonte, em 2016, conta uma das idealizadoras Maria Mion. O objetivo é prestigiar os provadores que assobiam na hora da prova. O Sabiá de Cupping é o prêmio de assobio mais alto e o Rouxinol, do mais belo.
Onde encontrar café especial - cafeterias, torrefações, clubes de assinaturas e alguns mercados. Você pode procurar pelo selo da BSCA, que traz um QRCode que mostra onde o café foi colhido, a sua variedade, nota, além de poder avaliá-lo.
Arábica e canephora - o café especial é feito, em grande parte, com a espécie arábica, mas já tem bebida feita com variedade de canephora. Atualmente, cerca de 20% da produção de arábica no Brasil é de grãos especiais, diz o presidente da BSCA, Henrique Cambraia. Veja diferenças entre as duas espécies:
Arábica
Corresponde a cerca de 80% da produção;
Precisa ser plantado em terrenos com altitude acima de 600 metros;
Produzido, principalmente, em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia;
Tem um sabor mais suave;
O grão possui 1,4% de cafeína.
Canephora
Corresponde a 20% da produção;
É mais resistente e se dá bem em altitudes entre o nível do mar e 600 metros;
Produzido, principalmente, no Espírito Santo, Rondônia e Bahia;
Tem sabor mais intenso;
Grão tem 2,5% de cafeína.
Créditos do "De onde vem o que eu como"
Coordenação editorial: Luciana de Oliveira
Narração, edição e finalização: Marih Oliveira
Reportagem: Paula Salati
Roteiro: Paula Salati, Marih Oliveira e Tatiana Caldas
Coordenação de vídeo: Tatiana Caldas e Mariana Mendicelli
Coordenação de arte: Guilherme Gomes
Direção de arte e ilustrações: Wagner Magalhães, Luisa Blanco e Vitória Coelho
Fotografia: Marcos Serra Lima
Motion: Vitória Coelho
Stop motion: Gustavo Wanderley
Motoristas: Ricardo Américo Barbosa e Rafael Prieto Rego
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