A presidente Dilma Rousseff voltou a classificar de "golpe" nesta terça-feira (22) o processo de impeachment de que ela é alvo na Câmara dos Deputados e reafirmou que não irá renunciar "jamais". A petista deu a declaração durante ato organizado no Palácio do Planalto para que dezenas de profissionais do meio jurídico manifestassem apoio ao governo e se posicionassem contra a tentativa de afastá-la da Presidência.
Advogados, promotores, magistrados, defensores públicos e professores universitários participaram do evento, que durou cerca de duas horas e meia, batizado de Encontro com Juristas pela Legalidade e em Defesa da Democracia.
"Não cabem meias palavras: o que está em curso é um golpe contra a democracia. Jamais renunciarei. Pode se descrever um golpe de estado com muitos nomes, mas ele sempre será o que é: a ruptura da legalidade, atentado à democracia", enfatizou Dilma no evento.
"Não importa se a arma do golpe é um fuzil, uma vingança ou a vontade política de alguns de chegar mais rápido ao poder. Esse tipo de sinônimo, esse tipo de uso inadequado de palavras é o mesmo que usavam contra nós na época da ditadura para dizer que não existia preso político no Brasil quando a gente vivia dentro das cadeias espalhadas pelo país", complementou a petista.
Além de fazer oposição ao processo de impeachment, o evento no Planalto foi organizado para os juristas demonstrarem contrariedade a ações recentes do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, como a divulgação de áudio de conversa telefônica entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A presidente da República foi recebida no salão do palácio no qual foi realizado o ato aos gritos de “não vai ter golpe” e “olê, olê, olá! Dilma, Dilma!”. As palavras de ordem que classificam a tentativa de afastar a petista da Presidência foram repetidas em diversos momentos do evento pela plateia.
'Campanha da legalidade'
Em meio ao seu discurso de aproximadamente 20 minutos, Dilma comparou o ato de apoio dos juristas ao seu governo à "Campanha da Legalidade" comandada, em 1961, pelo ex-governador gaúcho Leonel Brizola para evitar a tentativa de barrar a posse do então vice-presidente João Goulart quando Jânio Quadros renunciou.
A presidente destacou aos convidados que, após o final da ditadura militar, nunca imaginou que voltaria a ser necessário mobilizar a sociedade em torno de uma campanha pela legalidade.
"Preferia não viver esse momento, mas que fique claro: me sobram energia, disposição e respeito à democracia para fazer o enfrentamento necessário à conjuração que ameaça a normalidade constitucional e a estabilidade democrática do país", destacou a petista, gerando aplausos e gritos de apoio entre os convidados.
Dilma ainda comparou o processo de impeachment em curso na Câmara a um “crime contra a democracia”. Na visão dela, não há "base legal" no pedido de afastamento protocolado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal.
Sem citar nomes, a presidente criticou a decisão do juiz federal Sérgio Moro de tornar pública, na semana passada, o conteúdo de uma escuta na qual ela conversava com Lula por telefone. A conversa foi interpretada pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes como uma tentativa de Dilma de obstruir o trabalho da Justiça.
Para a petista, um "executor da Justiça não pode condenar adversários, abdicar de sua imparcialidade e nem se transformar em um militante partidário".
“A Justiça brasileira fica enfraquecida e a Constituição é rasgada quando são gravados diálogos da presidenta da República sem a necessária autorização do Supremo. [Áudios] gravados e divulgados numa evidente violação da segurança nacional”, disse. “E nenhum brasileiro pode aceitar e concordar com isso sob nenhuma hipótese ou justificativa”, afirmou Dilma.
Escalado pelo governo para falar em nome dos ministros contra o impeachment de Dilma, José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) afirmou em seu discurso que o processo enfrentado pela presidente é um “golpe” por violar direitos, como o sigilo.
Sem citar diretamente o nome de Sérgio Moro, Cardozo afirmou que o conteúdo de ligações da presidente Dilma não poderia ter sido divulgado – na semana passada, Moro autorizou a divulgação de conversas de Lula interceptadas pela Polícia Federal, entre as quais uma com Dilma.
"Não é possível que conversas telefônicas que poderiam envolver eventuais e hipotéticas situações a serem investigadas não sejam remetidas ao Supremo, e sejam anexadas à primeira instância e divulgadas por emissoras de televisão", reclamou.
Ele também enfatizou que não há pretextos para o impeachment da presidente Dilma e ressaltou que ela não é investigada por corrupção ou improbidade.
"Se pretende questionar a democracia desde o dia seguinte à eleição [de 2014] e tentam encontrar pretextos para o impeachment. Me permitam: isso é golpe. É golpe", completou.
Após o encontro de Dilma com os juristas, Cardozo anunciou que o governo entrará com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a corte interprete as prerrogativas do presidente da República – na prática, o governo quer que o STF diga se Moro violou a lei ao ter divulgado áudios de conversas de Dilma em vez de remetê-los à Suprema Corte.
Utilize o formulário abaixo para comentar.