Quando a Alemanha e a Noruega anunciaram a suspensão do envio de recursos para a proteção da Floresta Amazônica, o presidente Jair Bolsonaro repetiu uma postura que o então presidente Lula adotava quando estrangeiros criticavam a política ambiental do Brasil. Os dois presidentes afirmaram que a Europa destruiu todas as suas florestas e que, por isso, não tem moral para dar conselhos sobre a Amazônia.
Mas, nos últimos cem anos, a Europa enfrentou duas guerras mundiais, o fim do comunismo e viu o surgimento da União Europeia, e apesar de todas essas transformações políticas e econômicas, cientistas afirmam que o continente se tornou mais verde.
Hoje, depois de uma política de intenso reflorestamento, quase metade do território europeu é coberto por florestas.
Foi no Brasil que o mundo criou o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. A Rio-92 estabeleceu que cada país tem sua própria obrigação. Só que o meio ambiente é um assunto de todos.
Diante de dados alarmantes, governos brasileiros tão diferentes têm pelo menos uma reação em comum: ignorar esse combinado de 27 anos atrás.
“A Amazônia é que nem aqueles vidros de água benta que têm na igreja: todo mundo acha que pode meter o dedo. Nós não podemos permitir que as pessoas tentem ditar as regras do que que a gente tem que fazer na Amazônia”, declarou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Queria até mandar um recado para a senhora querida Angela Merkel, que suspendeu US$ 80 milhões para a Amazônia: pega essa grana e refloreste a Alemanha, lá está precisando muito mais do que aqui”, disse o presidente Jair Bolsonaro.
A Alemanha está na vanguarda do manejo florestal: a técnica extrai madeira sem destruir o resto da mata. As florestas ocupam quase um terço do território. Os alemães seguem a tendência na Europa e vêm aumentando suas florestas.
O Velho Continente tem quase a metade: 42% de seu território é coberto por florestas. Desses, 3% a 4% são de matas originais. Todo o restante foi reflorestado no último século.
A Europa é densamente povoada muito antes do Brasil e, séculos atrás, a madeira era usada para quase tudo, como lenha, na produção de móveis, casas e até de navios que conquistaram os mares. Para a sorte do mundo, a Europa investiu maciçamente em reflorestamento.
As inovações tecnológicas permitiram o cultivo numa área menor, produzindo mais alimentos que antes. A União Europeia também criou uma Política Agrícola Comum, que só permite cultivo em terras muito produtivas. Pequenas plantações foram encerradas e viraram matas.
A Europa tem fortes proteções contra o desmatamento. Líderes europeus entenderam a importância das florestas: elas conservam as espécies da região, protegem os rios, controlam o regime de chuva, eliminam e retêm gases estufa emitidos pelo homem.
Um dos criadores do Fundo Amazônia afirma que os milhões de Alemanha e Noruega vão fazer muita falta. O engenheiro florestal Tasso Azevedo argumenta que não está sobrando dinheiro no Brasil.
“Não tem bolsa para os alunos, não tem comida para os recrutas, e outras questões que estamos vivendo, como cortes na educação. Esses são recursos absolutamente essenciais para as atividades de fiscalização e controle e combate ao desmatamento e para promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia”, afirma Tasso Azevedo.
Entre 1990 e 2015, a Europa ganhou o equivalente a um Portugal em florestas. Nesse mesmo período, é como se o Brasil tivesse perdido mais de cinco vezes o território de Portugal. É essa imagem que os nossos governos cultivam lá fora.
Utilize o formulário abaixo para comentar.