Os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich participam, nesta terça-feira (4), da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga ingerências do governo federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
Aos senadores, Mandetta afirmou que sempre se baseou na preservação da vida e na ciência para tomar decisões, que sempre defendeu a imunização da população e que “houve discordância” com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a política de isolamento social para conter o vírus.
Ele revelou que, enquanto esteve no comando da pasta, testemunhou reuniões de ministros onde Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) fazia notas sobre os encontros. “Eles tinham constantemente reuniões com grupos dentro da Presidência. Tinham um assessoramento paralelo”, apontou.
Segundo Mandetta, Bolsonaro sabia das projeções sobre 180 mil mortos pela Covid no fim do ano. “Alertei sistematicamente, mostrei as projeções”, afirmou.
A sessão teve início por volta das 10h20. Mas um novo bate-boca entre os senadores atrasou o início do depoimento de Luiz Henrique Mandetta, o primeiro a responder perguntas do colegiado.
O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o líder do Centrão, senador Ciro Nogueira (PP-PI), discutiram sobre o andamento dos trabalhos.
Randolfe criticou as questões de ordem interpeladas pelos senadores da base aliada do governo federal que integram a comissão para atrasar o início da sessão, sendo interrompido por Ciro.
O ex-ministro da Saúde também afirmou que tomou decisões com base em três pilares: a defesa intransigente da vida, o SUS como meio para atingir os objetivos e a ciência como elemento de decisão.
O médico defendeu a importância da imunização da população brasileira como saída para a crise sanitária. “A única pauta sugerida para o Brasil, na assembleia de 2020, foi a vacina como patrimônio global da humanidade”.
Mandetta, que estava à frente da Saúde quando a pandemia chegou ao Brasil, foi demitido em abril do ano passado após divergir do presidente sobre como conduzir a crise do coronavírus no país.
Desde o início, ele se mostrou contrário ao tratamento precoce contra a Covid-19, amplamente defendido pelo chefe do Executivo, e favorável a um lockdown nacional para conter a disseminação do vírus.
No depoimento, Mandetta disse que faltou iniciativa do Executivo para criar uma política de isolamento social já no início da pandemia. “[Era] Fundamental que se fizesse uma fala de prevenção dos brasileiros e de isolamento. Não é possível se fazer qualquer tipo de gestão sem prevenir infecção. Era importante naquele momento [o isolamento social] porque tínhamos baixo número de casos”, defendeu.
O ex-ministro assumiu ter discordado de Bolsonaro sobre medidas para garantir o isolamento social. “Houve discordância. Nunca tive discussão áspera, mas sempre coloquei as recomendações de maneira muito clara. Sempre as fiz de acordo com o que é preconizado para doença infecciosa epidêmica”, completou.
Ele afirmou que alertou Bolsonaro sobre previsão de 180 mil mortos até dezembro de 2020. Mesmo assim, Bolsonaro “não recomendou nenhuma providência”. “Me lembro do presidente falar que adotaria o chamado confinamento vertical, que era algo que a gente não recomendava. Tinha uma outra fonte, que dava a ele o porquê. Nunca houve a recomendação nossa que não fosse da cartilha da OMS [Organização Mundial de Saúde]”.
Novos depoimentos
Às 14h, está previsto o depoimento de Nelson Teich. O ex-ministro da Saúde ficou no cargo menos de um mês também por discordar do presidente Bolsonaro sobre o uso de protocolo sem comprovação científica para tratar a doença. “Não vou manchar a minha história por causa da cloroquina”, disse Teich ao se despedir da pasta.
Pazuello, que participaria do colegiado nesta quarta-feira (5/5) na condição de testemunha, cancelou a ida à CPI após alegar que teve contato com duas pessoas infectadas com Covid-19.
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