O furacão Matthew, que atingiu o Haiti com uma força devastadora nesta terça-feira (4), deixou três mortos no país e destruiu dezenas de casas enquanto avança para Cuba. Milhares de pessoas tiveram que ser deslocadas, mas muitas delas se negaram a deixar seus pertences nas áreas mais vulneráveis.
O fenômeno já havia deixado quatro mortos na República Dominicana.
O Haiti tem 10 milhões de habitantes – sendo 4 milhões crianças – e milhares de pessoas ainda vivem em barracas de campanha desde o devastador terremoto de 2010. Além disso, a erosão é muito perigosa devido às montanhas e o desmatamento.
O número de mortos chegou a três com a morte de um homem que estava sozinho em casa e que não conseguiu deixar o imóvel, destruído pelas ondas em Port-Salut, uma comunidade no sul do Haiti.
Também em Port-Salut, uma mulher doente morreu na noite de segunda ao não conseguir sair de casa para receber ajuda médica. E na sexta-feira, um homem faleceu quando naufragou a embarcação na qual ia com outros dois pescadores, que conseguiram chegar até à costa, no litoral sul.
No total, 9.280 pessoas foram levadas para abrigar-se em escolas, igrejas e outros centros comunitários, disse Guillaume Albert Moléon, porta-voz do Ministério do Interior haitiano.
Por precaução, o governo de Cuba deslocou 316 mil pessoas na parte leste da ilha, consideradas em áreas de risco, e as abrigou em moradias particulares e abrigos. O governo desta ilha de 11,2 milhões de habitantes acionou o "alarme ciclônico" em seis províncias do leste.
O furacão poderia alcançar inclusive o sudeste dos Estados Unidos, onde os governos da Flórida e da Carolina do Norte decretaram estado de emergência. O presidente Barack Obama adiou um comício com a democrata Hillary Clinton na Flórida por causa da aproximação do furacão.
Ventos de 230 km/h
O "extremamente perigoso" furacão atingiu a cidade haitiana de Anglais por volta das 7h locais (8h de Brasília) com ventos máximos de 230 km/h, o que o coloca na categoria 4, de um total de 5 na escala Saffir-Simpson, informou o Centro Nacional de Furacões (NHC, em inglês), com sede em Miami.
Às 12h de Brasília, o olho do furacão se situava na costa oeste do Haiti e a 145 km do extremo leste de Cuba, onde acredita-se que o Matthew chegará nesta terça-feira, assim como em Bahamas e outras ilhas, segundo o último boletim do NHC. O centro indicou que o furação avançava a 17 km/h.
Antes de tocar a terra no Haiti – o país mais pobre das Américas, que divide a ilha La Española com a República Dominicana – Matthew já havia causado inundações em 11 comunidades, segundo Edgar Celestin, porta-voz da agência de Defesa Civil, à AFP.
Os prognósticos indicam que Matthew provocará entre 38 e 63 cm de chuvas no sul do Haiti e, em algumas zonas pontuais, pode chover mais de 100 cm.
Morte e destruição
A força do vento não havia reduzido nas últimas horas, e seus efeitos eram notados em um raio de 95 km do olho do furacão, segundo o NHC.
"É a pior tempestade que o Haiti sofre em décadas, e todos os danos serão, sem dúvida, significativos", indicou Marc Vincent, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Haiti. "Mais de quatro milhões de crianças poderiam estar expostos aos estragos do furacão", advertiu a organização em um comunicado.
Em Anglais, as águas inundaram a rota nacional e Matthew causou estragos nos precários edifícios. Em Les Cayes, a terceira maior cidade do Haiti, a água do mar inundava as ruas. "Estamos tendo deslizamentos entre Les Cayes e Tiburon", no Departamento Sul, disse Marie-Alta Jean-Baptiste, diretora da Defesa Civil, à AFP.
Entre as áreas mais vulneráveis do país estão bairros extremamente pobres e densamente povoados como Cite Soleil – onde 100 mil de seus 500 mil residentes enfrentam sérios riscos de inundação – e Cite L'Eternel, no litoral.
Efeito na República Dominicana
Na República Dominicana, três crianças e um adulto morreram na capital Santo Domingo nos desmoronamentos provocados pelas intensas chuvas do Matthew, que gerou o deslocamento de 18.545 pessoas em todo o país, informou nesta terça-feira o Centro de Operações de Emergências (COE).
As autoridades suspenderam as aulas até quarta-feira em 24 das 32 províncias do país, como medida preventiva.
Na Jamaica, o exército e reservas militares assistiam as instruções de emergência, e ônibus eram enviados para evacuar as pessoas das zonas mais vulneráveis.
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