Considerando os últimos depoimentos na CPI da Covid-19, que envolveram servidores e ex-funcionários do Ministério da Saúde, o senador Marcos do Val (Pode) considera que não é possível falar com “corrupção sendo exercida” no governo federal. Para o senador, as oitivas deixaram evidente que as tentativas aconteceram em membros do “terceiro escalão” e não envolvem ministros ou o próprio presidente Jair Bolsonaro. “Você não vê a corrupção sendo exercida porque o dinheiro não foi transferido, a tentativa aconteceu em um terceiro escalão e ainda faz parte, infelizmente, da cultura brasileira de tirar vantagem de tudo. O debate é mais o que nós pretendemos fazer para as próximas gerações sobre isso. Conseguir interromper esse desejo de fazer é impossível. Agora eles conseguiram interromper a execução, não aconteceu o ato de corrupção. Ninguém comenta que o ministro recebeu, ordenou”, defendeu em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta sexta-feira, 9. “O que tenho levantado é que na terceira esfera é que todo mundo está tentando negociar, tirar proveito. Não é um ministro, o presidente, é alguém que foi colocado lá. São pessoas que já eram de outros governos e a CPI fica forçando narrativas do relator para que o depoente responda o que ele quer.”
O parlamentar pontuou que é preciso “analisar de forma fria”, técnica e não passional, como estaria acontecendo por membros do colegiado. Para Marcos do Val, está claro que “não se toma decisões na racionalidade”, o que seria preocupante. Como exemplo dessa passionalidade, o senador cita a diferença, na avaliação dele, do tratamento dado aos depoentes. “É vergonhoso, porque quando é uma mulher que está criticando o governo eles tratam com uma diferença exorbitante. Ela [ Francieli Fantinato] teve durante a CPI a sua investigação cancelada, saiu da posição de investigada”, afirmou, mencionando a ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunização (PNI), que prestou depoimento nesta quinta-feira e criticou o governo Bolsonaro. Marcos do Val também falou sobre as expectativas para o depoimento William Amorim Santana, servidor da Saúde que estaria envolvido na compra da vacina Covaxin.
“William foi o que começou a alertar sobre os problemas no invoice, que é uma nota fiscal. Claro que ele vai contribuir muito porque o G7, grupo que está querendo conduzindo a CPI e que quer fazer a desconstrução da democracia, são fatos que são tão claros que dá até aflição, se ele contribuir vai ser bem utilizo pelos líderes da CPI”, afirmou. O parlamentar também falou sobre “hipocrisia” ao ser questionado sobre a presença de Renan Calheiros, que tem processos na Justiça, na posição de relator. Segundo ele, é revoltante que “um senador com um histórico tão ruim se valendo de uma posição de inquisidor, de puritano”. “Como posso dar credibilidade, por exemplo, a uma pessoa que atropelou e matou alguém e hoje chefia uma delegacia que combate as pessoas que dirigem alcoolizadas? Infelizmente, a oposição, que também se fortaleceu desses argumentos frágeis, se junta e tenta dar credibilidade a quem não tem credibilidade”, ressaltou, dizendo ainda que sente vergonha da situação. “Dá vontade de sair, mas quando penso em sair é pior e ficam só as pessoas que não deveriam.”
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