Recentemente, o chefe do Instagram, Adam Mosseri, afirmou que a rede social deixará de ser um aplicativo de compartilhamento de fotos. A afirmação foi feita em um vídeo publicado em seu perfil no Instagram no dia 30 de junho, no qual Mosseri diz que a plataforma enfrenta uma competição e que os usuários estão buscando formas de entretenimento. “Nós não somos mais um app de compartilhamento de fotos. Em uma pesquisa, a primeira coisa que as pessoas dizem como usam o Instagram, elas falam que é para entretenimento. As pessoas nos procuram para isso. Na última semana, eu compartilhei internamente nossos esforços em tentar nos guiar neste caminho, do entretenimento e do vídeo. Precisamos ser sérios, nós temos uma grande competição neste momento”, afirmou o diretor da rede, se referindo ao crescimento de outras redes sociais, como o TikTok, o qual citou nominalmente no anúncio: “O TikTok é enorme, o Youtube é ainda maior e também está dando passos altos. As pessoas estão olhando o Instagram buscando entretenimento e temos uma grande competição, e nós precisamos abraçar isso. O que quer dizer que teremos mudanças”. Dentro desse cenário, Mosseri falou que a equipe do Instagram trabalha por mudanças em quatro áreas: criadores de conteúdo, vídeo, compras e troca de mensagens.
Se por um lado as mudanças indicam uma tentativa do aplicativo de brigar com seus concorrentes, por outro elas podem dificultar o trabalho de criadores de conteúdo que não se aplicam aos moldes pretendidos pela plataforma. A criadora Izabel Gimenez, de 21 anos, que mantém o perfil “Bel Sem Padrão” no Instagram, onde fala sobre autoestima e empoderamento feminino, diz que as mudanças podem complicar os criadores caso exijam um esforço ainda maior para manter seus conteúdos relevantes na plataforma. “Meu medo com essa mudança é que acabe exigindo ainda mais da gente. Porque o algoritmo está mudando a todo momento, é muito frenético. Quando você acha que está entendendo, ele muda de novo. E é muito difícil você conseguir lidar com isso porque não dá para fazer uma estratégia super a longo prazo. Cada vez mais é exigido mais publicações, mais tempo, mais desgaste. Se você se dá uma semana para não postar nenhum conteúdo, seu engajamento já cai por terra, parece que as pessoas param de receber seu conteúdo como se você não tivesse mais credibilidade”, afirmou Izabel.
A criadora diz também que teme que a rede social acabe se voltando para vídeos e torne mais difícil o trabalho de criação de conteúdos em larga escala. “Meu medo dele (Instagram) se transformar em um conteúdo de vídeo é que a demanda só cresça. Porque se a gente olha, por exemplo, para o Youtube, há alguns anos a gente via um vídeo por semana sendo suficiente. Hoje em dia, a galera posta três, quatro e até um vídeo por dia. Você precisa ter uma mão de obra com você, não dá para fazer sozinho”, disse Izabel. Em seguida, a criadora falou sobre um lado da mudança que talvez seja positivo para os criadores. “Eu não sei se essa mudança será positiva, vai depender de como será a demanda. Se isso for algo a mais para acrescentar na lista, vai ficar algo muito pesado. Mas se a ideia for transformar o Instagram em uma rede onde as publicações têm um tempo de vida maior, acho que é muito positivo.”
Ao falar sobre esse ponto, Izabel explicou que vê que a estrutura do Instagram é voltada para um consumo rápido e que enfrentou problemas com isso. “Você posta um vídeo que você demora horas para editar, você tem um grande trabalho, elabora um roteiro e em alguns dias ou horas ele pode morrer”, afirmou a criadora, que também detalhou como mudanças no sistema de buscas podem auxiliar a produção de conteúdo. “Hoje você não tem uma busca de fato orgânica sobre conteúdo. Não tenho como pesquisar ‘Izabel Gimenez autoestima’ ou uma pergunta que eu encontre respostas, como a gente tem no Youtube. Se a gente tivesse isso, eu acharia super positivo. Porque a gente vai incentivar que esses conteúdos sejam revividos a todo momento, que eles estejam sempre voltando e tenham um tempo de vida maior”, disse. Por fim, Izabel analisou que, até o momento, os criadores conseguiram se adaptar às novidades da plataforma e que, dependendo do formato de conteúdo produzido, é impossível que os produtores deixem a rede de lado. “Todas as mudanças que aconteceram até agora acabaram virando parte da nossa rotina. Porque o Instagram é a principal rede social de criação que a gente tem. Os criadores de conteúdo não têm como se dar ao luxo de sair do Instagram se ela é a principal plataforma que a gente tem de comunicação com o nosso público”, afirmou.
Mudanças forçarão adaptação dos criadores de conteúdo
Na visão de Paulo Pereira, CEO da Desbrava Data, empresa de monitoramento de redes sociais, a mudança reforça uma tendência que já era visível no Instagram e demonstra que a rede social tende a se apresentar como a principal rival do TikTok. “Elas representam uma força competitiva muito grande, por isso é um forte concorrente. No ano passado, o Reels foi lançado justamente em uma estratégia similar ao que o Facebook fez com o Snapchat na época dos Stories. No mês passado, em 17 de junho, o Instagram liberou a publicidade no Reels, o que ainda não era possível, e nesse ponto, como plataforma de marketing e propaganda, o ecossistema do Facebook tem mais experiência e está mais estruturado. Por outro lado, parte da geração Z e da próxima já considera o Instagram datado, então existe uma série de elementos para se considerar: o fator geracional e o que a marca Instagram representa para esta geração e o fator adoção”, explicou Paulo. O especialista ainda disse que o TikTok apresenta uma alta taxa de downloads, o que aumenta a presença do aplicativo no mundo. “De acordo com a App Annie, em 2020 o TikTok ficou em segundo lugar em número de downloads do aplicativo, perdendo apenas para o Zoom. De acordo com Sensor Tower, o TikTok foi o aplicativo não relacionado a jogos mais baixado em todo o mundo em junho de 2021, com mais de 65 milhões de instalações. O contexto da pandemia e do isolamento colaborou para que as pessoas buscassem mais entretenimento e o vídeo se sobressaiu”, afirmou.
Além disso, Paulo disse que as mudanças não irão condenar os criadores de conteúdos que atualmente não produzem vídeos, mas forçarão os produtores a migrarem para o novo formato. “O Instagram mudou seu algoritmo, todo o mercado tem sentido isso, os vídeos passaram a ser o drive principal da plataforma. Portanto, qualquer empresa, negócio, influenciador, ou seja, qualquer produtor de conteúdo que busca atingir uma audiência maior e que tem como foco construir marca, se relacionar, buscar engajamento dos seu público ou até mesmo rentabilizar precisará se concentrar na produção de conteúdo em vídeo. A entrega dos vídeos de Reels tem sido priorizada enquanto a de postagens apenas com fotos, reduzida”, explica o CEO, que conclui: “Qualquer negócio – independente do seu tamanho -, celebridade ou influenciador que tenha o Instagram como canal de relacionamento, construção de marca, vendas e busca de popularidade precisará ir aos poucos se movendo para priorizar a produção de conteúdo de vídeo”.
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