Até pouco tempo atrás, não se tratava de uma doença com presença significativa na Europa, mas a escalada vertiginosa de casos fez acender a luz amarela.
As autoridades europeias monitoram de perto o dramático aumento no número de pessoas contagiadas pela "febre do Nilo Ocidental", em meio ao que já está sendo considerado o surto mais mortífero do vírus na região nos últimos anos.
Segundo dados do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças, esta febre, geralmente transmitida por mosquitos, já afetou 1.505 pessoas e causou 115 mortes neste ano.
A Itália, com 35 mortes pelo vírus, é o país onde a febre do Nilo está sendo mais letal. Em seguida, aparecem a Sérvia, com 29 vítimas, a Romênia (25), a Grécia (24), a Hungria (1) e Kosovo (1).
Já há quatro vezes mais mortos que os 26 contabilizados em 2017. O número de infectados, por sua vez, se multiplicou por cinco em relação aos 288 casos relatados no ano passado.
No fim de agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o número de casos em países do sul da Europa e da Europa central estava crescendo "pronunciadamente" em comparação com os anos anteriores, e o Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Enfermidades classificou o aumento de casos de "dramático".
No Brasil, a febre do Nilo não é comum. Mas, em junho, o Espírito Santo registrou o primeiro caso contágio de cavalos com o vírus e passou a ficar em estado de atenção para a possível contaminação de humanos.
O Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica, que é vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), informou que os cavalos foram contaminados em abril de 2018, no Norte do estado, e depois morreram vítimas da doença.
Amostras coletadas dos animais foram analisadas pelo Instituto Evandro Chagas e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O resultado foi positivo para febre do Nilo Ocidental.
Por que esse aumento na Europa?
Especialistas apontam as condições climáticas como a causa principal do repentino aumento de casos da doença e da antecipação da temporada de transmissão na Europa, que normalmente dura de junho a novembro.
"A temporada deste ano se caracterizou por altas temperaturas e períodos de chuvas prolongadas, seguidos por tempo seco. Essas condições climáticas propiciaram a reprodução e propagação do mosquito que transmite o vírus", indicou um comunicado da OMS.
Os especialistas ainda alertam para o risco de que o aquecimento global provoque a chegada de vetores tropicais à Europa, propagando doenças pouco comuns em regiões mais frias.
Segundo Jan Semenza, diretor do Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Enfermidades, "em temperaturas elevadas, os mosquitos se reproduzem mais rapidamente. Com maior população de mosquitos, o potencial epidêmico do vírus é maior".
"Estamos vendo mais e mais episódios climáticos extremos", disse ele ao jornal britânico The Guardian. Os especialistas temem que as mudanças de temperatura provoquem a chegada de doenças como dengue, zika e chikungunya.
Além das condições climáticas, há outros fatores que influenciam a propagação de vírus, como o aumento do turismo e viagens internacionais, que podem levar doenças tropicais a áreas onde elas normalmente não existiriam.
"Isso significa que devemos tomar mais cuidados. Se alguém retorna do exterior à Europa e tem o vírus no sangue, o mosquito pode picá-la e transmitir a doença a outras pessoas", disse Semenza.
Como se proteger?
A febre do Nilo Ocidental é transmitida aos humanos principalmente por mosquitos infectados após picar aves que carregam o vírus. Não existe vacina contra a doença, que é causada por um vírus do gênero flavivírus.
O vírus foi identificado pela primeira vez em 1937, quando uma mulher foi infectada em Uganda. Atualmente, ele predomina na África, Europa, Oriente Médio, América do Norte e Ásia ocidental.
Ainda que possa causar a morte, afetando o sistema nervoso, quase 80% das pessoas infectadas não apresentam sintomas, que incluem febre, dor de cabeça, cansaço, dor no corpo, náuseas, vômitos e, às vezes, erupções cutâneas no tronco e inflamação dos gânglios linfáticos.
A OMS calcula que uma em cada 150 pessoas infectadas acabam padecendo de uma infecção mais grave que pode gerar tremores, convulsões, paralisias e até coma.
O efeito mais agressivo da doença pode ocorrer a pessoas de qualquer idade, ainda que o risco maior seja para os que têm mais de 50 anos e sistema imunológico fraco, como pacientes que tenham passado por transplantes.
Como não há vacina, a principal medida de prevenção é a proteção contra mosquitos - usar repelentes, mosquiteiros, roupas claras e de manga comprida.
Também é importante descartar recipientes que possam acumular água. Nas áreas mais afetadas pela doença, é recomendável implementar exames adicionais aos doadores de sangue para evitar novos casos de infecção.
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