Uma operação desencadeada na manhã desta quinta-feira (30) prendeu 34 suspeitos, entre eles 20 policiais civis, 5 policiais militares e um agente penitenciário, denunciados por extorquir dinheiro de pessoas envolvidas com atividades ilícitas no Rio de Janeiro.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), o grupo extorquia dinheiro de vendedores de mercadorias piratas, ambulantes, postos de gasolina, bingos, donos de veículos clonados e comerciantes em alguma situação irregular.
A ação, que visa cumprir 48 mandados de prisão contra a organização criminosa liderada por policiais, é comandada por agentes do MP-RJ e da Secretaria de Segurança Pública do Rio, por meio do Gaeco, e a Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Secretaria de Estado de Segurança Pública.
Segundo as investigações, o mais alto escalão, denominado "Administração", era composto pelo delegado Rodrigo Sebastian Santoro Nunes e seu braço direito Delmo Fernandes Baptista Nunes, chefe do setor de investigações, que foi preso na manhã desta quinta-feira. Outro delegado com papel importante no esquema seria Thiago Luis Martins da Silva. A ação é a segunda fase da operação denominada Quarto Elemento.
Entre os 48 denunciados estão 24 policiais civis, seis policiais militares, dois bombeiros militares, um agente penitenciário e outras 15 pessoas que atuavam como informantes ou ajudantes dos policiais.
O G1 entrou em contato com a Polícia Civil para obter posicionamento da instituição sobre a atuação de policiais no esquema criminoso, mas o órgão informou que apenas a Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público vão se pronunciar a respeito da operação.
De acordo com o Ministério Público, todos os suspeitos estavam reunidos em torno de um objetivo comum: identificar possíveis infratores da lei, seu potencial econômico e realizar batidas policiais contra eles, sempre com a intenção de flagrá-los cometendo crimes ou irregularidades administrativas.
A partir dessa situação, em vez de seguir a lei, os denunciados exigiam uma quantia em dinheiro para que os infratores não fossem presos ou tivessem as mercadorias apreendidas e sofressem os devidos procedimentos legais. Segundo a denúncia, a organização criminosa fazia graves ameaças e até agredia fisicamente as vítimas. Em certos casos, o grupo denunciado ainda desviava para si os objetos apreendidos com os alvos, para posterior revenda.
Os suspeitos foram denunciados por organização criminosa, corrupção, extorsão, concussão e peculato, entre outros crimes.
A operação conta com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência, da Corregedoria da Polícia Civil e da Corregedoria da Polícia Militar. A Polícia Civil não participou dessa investigação.
Entenda como funcionava o esquema
Qualquer pessoa que praticava ilícito ou estabelecimento em situação irregular era alvo do grupo. Para que o esquema funcionasse, operavam os chamados informantes - pessoas responsáveis por levar aos policiais denunciados dados sobre possíveis alvos envolvidos com ilícitos e que poderiam gerar os atos de extorsão ou concussão e recolhimento de propina.
Uma vez identificada a vítima em potencial, o grupo criminoso simulava uma ação policial (o "bote" propriamente dito) para exigir pagamento e deixar de efetuar a devida prisão em flagrante. Esses informantes, em sua maioria não policiais, eram remunerados com parte do valor obtido nas extorsões.
De acordo com o MP-RJ, os denunciados Rodrigo Santoro e Delmo Fernandes detinham o domínio final de toda ação delituosa e se encarregavam de gerenciar, fiscalizar e receber os lucros financeiros produzidos pelos demais membros da organização.
A atuação de Thiago Luis ocorria quando o "bote" não era acertado no local da abordagem. Nesses casos, o alvo era levado para a delegacia e, por vezes, apresentado ao delegado Thiago Luis, que atuava no convencimento ao pagamento ilegal de propina, na medida em que dava credibilidade às ameaças feitas pelo grupo no local da abordagem.
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