No terceiro ano consecutivo da Páscoa em tempos de pandemia da Covid-19, o mercado de ovos de chocolate começa a apresentar indícios de recuperação. É o que revelam dados de uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizada em parceria com a Associação Bean to Bar Brasil, que apontam: mais de 50% dos negócios ligados ao segmento de chocolates artesanais surgiram nos últimos quatro anos.
Segundo o levantamento, o faturamento de 42% dessas novas empresas, apesar da pandemia, manteve a curva de crescimento até este ano, quando o cenário epidemiológico se aproxima do que pode ser considerado “normal”.
No entanto, tal cenário ainda não reflete a realidade de muitos trabalhadores autônomos. E a vilã é uma velha conhecida tanto do consumidor, quanto do produtor brasileiros: a inflação, responsável por “engolir” grande parte do que seria o lucro dos pequenos empreendedores.
Composto majoritariamente por pequenos negócios, o universo das empresas de chocolate artesanal é dominado por aquelas que apresentam faturamento anual de até R$ 81 mil, segundo a pesquisa do Sebrae.
Além disso, 43% possuem entre dois e quatro funcionários, e 33% trabalham sozinhos ou possuem, no máximo, um empregado. A característica da produção artesanal desse chocolate e o porte também interferem no volume de produção: 67% produzem, em média, até 100 kg por mês.
Para Eliana Pires, de 54 anos, e Débora Pires, de 25, Mãe e filha donas da Pires Confeitaria, em Taguatinga (DF), a estratégia na produção e venda de chocolates para a Páscoa neste ano de 2022 teve que ser diferente. Débora conta que, no Natal de 2021, teve prejuízo com a saída de lembrancinhas natalinas, e por isso decidiu frear os investimentos.
“Como percebemos essa diminuição no Natal, não investimos muito em embalagens para lembrancinhas. Utilizamos algumas que sobraram do ano passado. Tiramos do cardápio produtos que não venderam muito e substituímos por outros“, explica ela.
As empresárias contam que as vendas de lembrancinhas em forma de chocolate estão abaixo do esperado. “Esperávamos uma saída melhor, pois várias empresas já voltaram à atividade presencial”, desabafa Eliana, baiana que mora em Brasília há 21 anos.
Para ela, os altos preços tomam conta de uma grande parcela do lucro que seria revertido para o pequeno negócio de família. Por isso, optaram por diminuir o investimento em cada produto, para, assim, baixar seu valor e, consequentemente, vender mais.
Crescimento dos pequenos negócios
O levantamento feito pelo Sebrae mostra que o número de pequenos negócios que fabricam produtos derivados de chocolate aumentou durante a pandemia de Covid-19.
De acordo com a instituição, isso acontece porque o setor atrai microempreendedores pelo fato de ser uma área que não exige formação profissional prévia, e onde não são necessárias máquinas sofisticadas, além de a matéria-prima ser acessível.
No entanto, para Mayra Viana, analista de competitividade do Sebrae Nacional, ter sucesso no negócio demanda ter na ponta do lápis todos os gastos, “levando em consideração não apenas os ingredientes, mas também a mão de obra, o transporte, o frete, a energia elétrica e o gás, por exemplo”, frisa.
Mayra sugere que se invista na comunicação com o consumidor. “Como estamos vivendo uma situação de aumento da inflação em todo o país, o empreendedor pode informar seu cliente quando for reajustar os preços dos seus produtos, explicando que o aumento nos custos impactou no valor final”, explica.
“Perdemos a condição”
Mas se há negócios que se adaptaram e conseguiram seguir em frente mesmo em plena pandemia, há os que enfrentaram caminho oposto. Priscila Dias, de 28 anos, e Patrícia Dias, de 23, não tiveram a mesma sorte. As irmãs e empresárias eram donas de uma pequena loja virtual de doces, e produziam bolos de festa e ovos de chocolate, mas tiveram que abrir mão de tudo.
Elas começaram a empreender no ramo dos doces em 2020, logo no início da pandemia. “Tiramos do papel um projeto que tínhamos no coração. Desde então tivemos muito sucesso; arrumamos clientes, pessoas fora do nosso ciclo que estavam sempre comprando; fizemos uma boa carteira, vendíamos muito bem e assim fomos crescendo no mundo da confeitaria”, contam.
As irmãs relatam que o sucesso continuou até 2021. Mas, no meio do ano passado, com o aumento da inflação – aliado à economia desgastada pela pandemia -, a situação se complicou. “As coisas começaram a ficar mais caras, os preços começaram a subir. E aí todo mês que a gente tinha que repor o estoque, tudo estava aumentando, e perdemos a condição”, lamenta Priscila.
“Fazíamos cálculos e cálculos e tentamos manter o repasse para o consumidor. A gente tentou de todas as maneiras, mas não deu”, desabafa.
Dicas do Sebrae
-Para aqueles que, assim como a família Pires e as irmãs Dias, não estão tendo o resultado esperado nas vendas, o Sebrae recomenda alguns pontos importantes para que a produção volte a gerar lucros.
Confira:
- Oferecer a possibilidade de personalização de produtos;
- Explorar a criatividade ao desenvolver um produto, com foco na apresentação;
= Apostar na transformação e na presença digital;
- Realizar um estudo para adequar o custo-benefício dos produtos (inclui o planejamento e mapeamento de custos – fixos e variáveis);
- Trabalhar a comunicação com o público (atendimentos nos canais digitais; pedidos personalizados; explicar o diferencial dos produtos; realizar campanhas temáticas);
- Analisar novos modelos de negócios, pensando principalmente nos custos e benefícios do delivery;
- Incluir ingredientes selecionados e diferenciados, que sejam pouco atendidos pela indústria tradicional; e
- Promover o negócio com entregas de brindes e mimos, aliando com outras estratégias (por exemplo, caso deseje diminuir seu fluxo no delivery em função dos custos de frete, você pode estimular que os clientes façam a retirada oferecendo um brinde para quem opte por essa modalidade).
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