A decisão do Instituto de Pesquisa Energéticas Nucleares (IPEN) de paralisar a produção de medicamentos para o tratamento de câncer, doenças cardiovasculares e de imagens veio depois do corte no Orçamento de 2021. O desabastecimento do IPEN pode prejudicar mais de dois milhões de brasileiros que estão em tratamento de cânceres em todo o país e ainda prejudicar aqueles que buscam o diagnóstico da doença. O instituto disse que, para voltar a produzir até dezembro, precisa de cerca R$ 90 milhões. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, Jorge Coura Filho, falou que os reflexos já são sentidos em clínicas e hospitais pelo Brasil e que se nada for feito em um curto espaço de tempo, milhões de brasileiros vão correr risco de morte. “Essa semana já faltaram alguns insumos, por exemplo, o Lutécio-177. Já faltou para tratamento de tumores neuroendócrinos, e, a partir da semana que vem, a gente passa para um cenário muito pior, no qual o desabastecimento vai ser completo, então. O Iodo-131 para câncer de tireoide, o Tecnécio-99 para cintilografias. Vai ser uma catástrofe. Nesse quesito de fornecimento dos radio-fármacos, infelizmente, não houve avanço”, afirma.
Coura Filho explica a importância desses dois medicamentos: “Esse isótopos radioativos podem emitir uma radiação que é detectada por um equipamento capaz de formar uma imagem, que são as cintilografias, e nos pacientes que, por exemplo, se queixam de dor óssea e têm câncer de próstata ou de mama, a gente pode fazer o diagnóstico da metástase óssea e indicar que esse paciente precisa de uma quimioterapia para tratar essa metástase. Esse isótopo radioativo também pode ser um emissor de uma partícula que induza a morte celular, então o paciente com câncer de tireoide que tem metástase pulmonar ou óssea recebe o iodo radioativo, que vai, dentro da célula, emitir sua radiação e induzir as celulares cancerígenas a morrer. Então são materiais radioativos que trazem um bem para a saúde quando o paciente tem uma enfermidade ou indicação de um procedimento”.
O repasse do dinheiro para a produção dos remédios feitos pelo IPEN é de responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, gerenciado pelo ministro Marcos Pontes. A pasta admite o corte no orçamento e diz que vem tentando, junto ao Ministério da Economia, uma alternativa para resolver o problema. Já o IPEN afirma que esgotou todas as possibilidades de diálogo e que a única forma de resolver o problema seria a criação de uma medida financeira emergencial para a liberação de recursos. Uma verba extra prevista em um projeto de lei foi pedida pelo instituto e aguarda aprovação no Congresso Nacional.
Utilize o formulário abaixo para comentar.