Plásticos, garrafas pet, bacias, baldes. Papelão, papel, ferro, alumínio, vidro. Materiais que, em média, levam décadas para se decompor na natureza, causando graves danos ao meio ambiente, como, por exemplo, o acúmulo de lixo nos oceanos, que provoca anualmente a morte de mais de um milhão de aves e de outros 100 mil mamíferos marinhos.
Em todo o Brasil é comum observar vários tipos de resíduos sólidos espalhados pelas ruas, em um misto de falta de educação da população que despeja seu lixo em qualquer lugar, falta de compromisso do poder público em destinar corretamente o lixo de cada região, bem como a despreocupação em realizar coletas seletivas para o reaproveitamento do material descartado que ainda pode ser reciclado e reaproveitado.
No Estado de Alagoas, apesar de todo o problema também enfrentado no descarte do lixo – facilmente observado em uma simples caminhada pelas ruas da periferia – uma cooperativa contribui de maneira corajosa e comprometida com sua constante coleta de materiais que, em vez de virarem lixo, são cuidadosamente separados, prensados e enviados para fábricas diversas que os reciclarão e reutilizarão em novos produtos.
Funcionários da cooperativa realizam o trabalho de separação dos materiais recolhidos (Foto: Wanessa Santos) |
A Cooperativa de Reciclagem de Alagoas, a COOPREL, há 13 anos faz a coleta seletiva de todo tipo de material que pode ser reaproveitado por meio da reciclagem. Com um total de dezessete trabalhadores, a COOPREL além de recolher esse material de casa em casa – as residências que contribuem com a Cooperativa possuem um adesivo na porta, para identificar a parceria – também busca repartir igualitariamente os valores arrecadados com a venda dos resíduos com cada trabalhador associado. Infelizmente, a quantia é muito baixa, ficando uma média de R$ 450,00 para cada um.
Isso se deve, entre outros fatores, ao baixo valor que esses materiais possuem no mercado. O quilo do papelão, por exemplo, sai em média a R$ 0,02. Apesar disso, a COOPREL não para, e diariamente os catadores saem pelos bairros do Antares, Village Campestre, Graciliano Ramos, Santa Lúcia e Salvador Lira recolhendo de casa em casa resíduos que outrora acabariam poluindo ruas, entupindo bocas de lobo, agredindo o meio ambiente.
Maria José Santos Lins, presidente da COOPREL pela terceira vez, conta como é difícil o dia a dia de trabalho dos funcionários da cooperativa, que além da baixa remuneração, ainda precisam lidar com a incompreensão de boa parte da sociedade que, em sua maioria, se recusa a contribuir com a doação de resíduos que podem ser reciclados, preferindo assim, jogá-los na lata de lixo para que acabem em aterros sanitários ou lixões.
Materiais já prensados serão vendidos aos atravessadores que os destinarão para as fábricas (Foto: Wanessa Santos) |
A COOPREAL funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 17h, e o trabalho dos catadores é exaustivo. Primeiro eles saem às ruas, e vão diretamente às casas ou empresas parceiras onde estão colados os adesivos que identificam que aquele lugar aceita fazer a doação dos materiais recicláveis à cooperativa. Em seguida, eles retornam à sede, onde começa o processo de separação dos materiais: garrafas pet, garrafas de produtos de limpeza, papelão, caixas tetra pak, plástico, alumínio, jornais, vidro, tudo é separado e prensado de acordo com a especificidade de cada produto. Toda essa matéria prima é vendida aos atravessadores, que, por sua vez, repassam por um valor mais alto às empresas interessadas. Por dia, a COOPREL produz de 4 a 5 aglomerados de materiais recicláveis, e cerca de 15 toneladas por mês.
Porém, segundo Maria, a equipe encara, diariamente, muitas dificuldades no trabalho de reciclagem. A começar pela coleta da matéria prima. “Ainda existe uma resistência muito grande das pessoas, a população não está habituada a separar os resíduos. Recebemos sacolas sem a divisão correta, é comida misturada com material reciclável. Um dia recebi uma sacola cheia de fraldas descartáveis usadas! Tem gente que até sabe da importância, mas não se preocupa. Também não temos apoio das empresas e indústrias do Estado, apenas três empresas locais colaboram, e isso dificulta muito nosso trabalho, as demais vendem seu próprio 'lixo' ao invés de doar para as cooperativas”, informou a diretora da COOPREL.
Outro problema que agrava a situação dos catadores não só da COOPREL, porém de outras cooperativas de materiais recicláveis de Maceió, é o fato deles não serem contratados pela prefeitura, que, segundo Maria, é responsabilidade do município a manutenção e contratação de cooperativas de coleta seletiva. Entramos em contato com os órgãos competentes, e fomos informados que a Slum e o Ministério Público do Trabalho – que vem buscando uma solução junto à prefeitura – discutiram no início deste mês os itens que constarão no edital da chamada pública para a contratação das cooperativas de coleta seletiva de Maceió. O assessor jurídico da Slum, José Vasconcelos Filho, informou que o objetivo do município é lançar o edital até o final deste mês e que os cooperados serão remunerados, inicialmente, por cada unidade domiciliar visitada.
A interferência dos atravessadores nos lucros
A presidente da COOPREL ainda informa que com relação à renda mensal dos catadores, que é bastante defasada, não há perspectiva de melhora, justamente pelo fato do processo de comercialização dos recicláveis ser feito por meio dos atravessadores, que compram os materiais por um preço bem baixo, para posteriormente, revenderem às empresas de reciclagem responsáveis por um preço bem mais alto. “Nossa renda mensal é de apenas R$ 450, um valor muito baixo para gente que é pai e mãe de família sustentar uma casa. Se desse pra vender direto para fábrica, nosso lucro aumentaria, porque o material teria um valor bem maior”, explicou.
Maria conclui que só não conseguem eliminar os atravessadores da comercialização dos resíduos, porque para vendê-los à fábrica é preciso uma quantidade muito grande de recicláveis, e para isso, é necessário acumular matéria prima por, no mínimo, dois meses. Inclusive a diretora informa que a cooperativa recebe apoio do projeto Cataforte, que é uma iniciativa do Governo Federal, do Banco do Brasil e de instituições parceiras, que por meio de programas beneficiam organizações de grupos de catadores, além de três empresas privadas; duas em Alagoas e uma de Pernambuco: “sempre estamos indo para cursos de aprimoramento profissional com ajuda do OCB (Sistema Cooperativo Brasileiro) e do SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), recebemos do Cataforte um caminhão para auxílio da logística, uma esteira e uma máquina de prensa; recebemos também uma balança da Coca-Cola de Recife, mas ainda não é o suficiente para conseguirmos comercializar esse montante de materiais recicláveis diretamente com as fábricas”, finaliza. Além destes equipamentos, a COOPREL ganhou ainda duas máquinas de prensa da empresa BRASKEM, outra importante parceira da Cooperativa de Reciclagem de Alagoas.
É importante frisar que a consciência ambiental deve partir de todos. As cooperativas de reciclagem, apesar do esforço próprio, pouco podem fazer se a população não se propõe também a ajudar. A sociedade deve compreender que o simples ato de abrir as portas de suas residenciais, e permitir que os catadores dessas cooperativas recolham materiais que iriam simplesmente poluir o meio ambiente, já contribui para que haja uma considerável diminuição de poluentes nas ruas, mares, praias, etc. Além de auxiliar a esses trabalhadores, muitas vezes invisíveis para a sociedade, mas que realizam uma tarefa de grande valor para o bem viver de todos.
Nas paredes da COOPREL, um apelo à população (Foto: Wanessa Santos) |
NOTA
Procuramos a assessoria de comunicação da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió, a SLUM, para obtermos informações sobre a quantidade de resíduos que, em média anualmente, conseguem ser reaproveitados com a reciclagem e quanto deles vão parar em aterros sanitários ou lixões, porém, até a conclusão desta matéria não obtivemos resposta.
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