Durante a audiência pública promovida pela Câmara Municipal de São José da Tapera, na manhã da última terça-feira (18), quando foi discutido quando serão iniciadas as obras prometidas pelo prefeito Jarbas Ricardo (MDB) na Lagoa Caiçara, principal cartão-postal da cidade, que recebe parte dos esgotos das ruas do entorno, causando a mortandade de peixes, outro assunto tomou conta das conversas de quem lá esteve assistindo ao debate.
Um vídeo, divulgado no instagram do prefeito, tem alimentado as esperanças das famílias da zona rural por acreditarem que em até cinco meses cerca de 10 mil moradias terão água encanada em suas casas.
No vídeo, o prefeito Jarbas Ricardo garante que a água será levada do Canal do Sertão direto para as casas, onde há décadas o líquido só chega através de carros-pipas.
Promessa antiga do prefeito, cuja família se perpetua no poder desde 1985, Jarbas Ricardo fala na gravação que, com recursos próprios, cerca de R$ 3 milhões e canos de PVC que foram doados pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), a obra, iniciada, segundo ele, com a construção de uma caixa d’água, será concluída em cinco meses.
A promessa divide opiniões. Enquanto alguns acreditam na fala do prefeito, outros tem ficado intrigado com a promessa, que tem repercutido em Maceió até entre autoridades e especialistas do Meio Ambiente. Na região, alguns prefeitos também têm duvidado da fala do gestor, que não cita o elemento principal para que a água chegue nas casas dos taperenses: uma Estação de Tratamento de Água (ETA). Sem ela, tem advertido alguns prefeitos sertanejos, qualquer tentativa de levar água para o consumo humano às residências se torna crime contra a saúde pública e uma infração às portarias do Ministério da Saúde, pois o líquido terá de ser antes tratado com a tecnologia adequada e comandada por uma equipe de técnicos.
Após assistir ao vídeo, o professor Kleython Monteiro, do Instituto de Geografia e Meio Ambiente (Igdema), chamou a atenção para o fato de que a água para o consumo humano sem tratamento se torna crime contra a saúde pública.
“Da forma que o prefeito anunciou não tem condições. Realmente ele pode concluir o projeto nesses cinco meses, mas essa água chegará às comunidades de forma bruta, sem nenhum tratamento, servindo apenas para os animais ou para as mulheres lavarem roupas. E só. Para consumo humano não pode. Quem disser ou desviar essa água para as pessoas tomarem está praticando crime contra a saúde pública”, afirmou o especialista.
Outra técnica que contestou a veracidade do vídeo foi a professora Mariana Raggi, do Núcleo de Educação Ambiental (NEA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
“Não vou fazer nenhum juízo de valor. Fui procurada, inclusive por alguns alunos da Ufal e que moram no Sertão, que me mostraram o vídeo feito pelo gestor e nele existem muitas dúvidas para serem respondidas. A principal delas é que ele (Jarbas) não cita a construção de uma Estação de Tratamento. Ora, se não existe a estação, então a água só servirá para os animais. Não tem mais o que se comentar sobre o assunto”, desabafou a professora.
Procurada, a Casal se manifestou através de uma nota distribuída por sua Assessoria de Comunicação.
Na nota, a Companhia confirmou a existência de um projeto para a construção de uma ETA, que deverá ser edificada ao lado do Canal do Sertão, entre São José da Tapera e Senador Rui Palmeira, destacando que a Prefeitura de Tapera recebeu uma doação de canos da Companhia para poder dar início à obra que visa à distribuição de água nas residências da zona rural, mas que essa água somente poderá ser para consumo humano se antes houver a construção da estação. Ainda na nota a Casal não estipula o ano em que a ETA será construída.
Uma outra informação contida na nota é que após todos os passos da obra serem executados e a água chegar nas residências, a Casal irá instalar os medidores em cada casa, onde os moradores pagarão pela água recebida conforme o consumo medido pelo equipamento.
Leia a nota divulgada pela Casal:
A Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) informa que tem um projeto em andamento para construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) ao lado do Canal do Sertão, entre São José da Tapera e Senador Rui Palmeira. Essa ETA vai produzir água para atender às cidades de Senador Rui Palmeira e Carneiros, além de alguns povoados da zona rural de São José da Tapera. Vale frisar que alguns desses povoados já são atendidos pela Companhia, em sistema de rodízio, e outros terão rede de abastecimento pela primeira vez.
A Prefeitura de São José da Tapera pode, sim, implantar uma adutora e a rede de distribuição dentro dos povoados que ainda não a possuem. Inclusive, a Casal doou parte da tubulação para a Prefeitura efetuar a obra que está em andamento e que, no futuro, vai atender essas comunidades rurais com água do Canal do Sertão.
Mas a Companhia ressalta que somente distribui água tratada, ou seja, a Casal somente irá fornecer água a essas localidades – tanto os povoados da zona rural de São José da Tapera quanto as cidades de Senador Rui Palmeira e Carneiros – após a construção da ETA ao lado do Canal e de toda a estrutura necessária ao tratamento. Essas obras ainda não começaram. A Casal, portanto, somente vai enviar água quando a ETA estiver instalada e em operação.
Quando esse novo sistema estiver em funcionamento, a Companhia executará as etapas da área comercial, ou seja, vai cadastrar os moradores e instalar hidrômetros em todos os imóveis, que pagarão pela água recebida conforme o consumo medido pelo equipamento.
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