E o transporte alternativo que atende o Médio e Alto Sertão continua sendo alvo de denúncias dos usuários.
Mais especificamente as reclamações são centralizadas no descumprimento dos horários da manhã, a falta de carros nos finais de tarde e o “apagão” nos feriados e domingos, quando a maioria dos motoristas, descumprindo o que determina a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal), não circulam sob a alegação de “falta de passageiros”.
Nesta terça-feira (15), Dia da Proclamação da República, o “apagão” voltou para irritação de quem precisava dos veículos para se deslocar de uma cidade para outra.
A moradora Jaqueline dos Santos, de Senador Rui Palmeira, afirma que semanalmente tem que levar a mãe, uma idosa de 61 anos, para uma clínica médica em Santana e quando saem da clínica são obrigadas a pagarem um taxi até Olho D’água das Flores, onde lá aguardam outro transporte para casa. No final, quando as duas deveriam gastar com passagens cerca de R$ 56,00, são obrigadas a pagarem cerca de R$ 120,00.
“Levo minha mãe duas vezes por semana. Vamos de van, mas quando saímos da clínica é depois das 16h. Minha mãe é uma velha de 61 anos e a gente é obrigada a pagar mais de 50 reais até a outra entrada de Olho D’água e lá ficamos esperando que passe um carro da prefeitura para irmos para casa. E aí vão embora mais R$ 70,00. O último carro que sai de Santana para Senador é 16h, e a gente nunca pega esse carro”, desabafou a moradora.
Situação semelhante é enfrentada por outra moradora de Senador, que também, uma vez por mês, vai até uma clínica em Santana e após ser atendida tem que dormir na casa de uma amiga.
“Eu preciso ir a Santana todos os meses. Uma vez por mês e quando saio durmo na casa de uma comadre porque não tem mais carro. Será que até hoje ninguém dessa Arsal resolve isso? Já estive no escritório da Arsal no Maracanã e não resolveu de nada”, disse a aposentada Maria José Costa.
Morador do Distrito do Piau, em Piranhas, o agricultor Sebastião Conceição Coimbra afirma que tem precisado ir para Santana pelo menos duas vezes por mês, a fim de fazer alguns exames no Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, e muitas vezes chega atrasado e perde os exames.
“Pego o carro de Delmiro para Santana, mas nem todas as vezes ele passa no ponto no horário que dá pra chegar no hospital e fazer os exames. As vezes pego um carro até Tapera e lá pego outro para Santana. Mas fica muito caro e também nem sempre dá certo porque o carro de Tapera, às vezes, sai de 6h30 porque na maioria das vezes sai de lá quase 7h porque o motorista só quer sair com a lotação completa”, afirma o aposentado.
Quem trabalha em Santana e mora em São José da Tapera ou municípios mais distantes também enfrenta as consequências causadas pela desorganização dos horários das vans.
“Quem trabalha em clinicas e hospitais em Santana e mora em Senador ou em Tapera nunca consegue chegar de 7h. Muitos já foram demitidos. Pior é quem larga às 18h ou às 19h. Não tem mais transporte. Os motoristas vivem dizendo que não tem passageiros. Mas é mentira. Na verdade, eles querem que tenha a lotação completa e isso é impossível. Não tem fiscalização e nem ninguém por nós”, desabafa uma enfermeira, moradora do Distrito de Caboclo, em São José da Tapera, e que trabalha no hospital santanense.
Comerciantes e gerentes de lojas em Santana são outros que confirmam os “apagões” dos horários e feriados. Alguns chegam a admitir que não podem contratar pessoas que moram em Pão de Açúcar, Tapera ou outro município porque não teriam como os empregados chegarem antes das 7h, e eles largando às 18h não conseguiriam chegar em casa.
“Certa vez alguns comerciantes pensaram em abrir mais cedo, às 7h, para poderem fechar uma hora antes, às 17h, a fim de garantir que o pessoal que mora fora de Santana não ficassem sem transporte. Mas aí descobrimos que os motoristas começam a sair das cidades por volta das 6h e na grande e expressiva maioria eles chegam em Santana depois das 7h. Infelizmente não temos como emprega-los”, afirmou o gerente de uma rede de farmácias em Santana.
O proprietário de uma loja de sortimentos também falou da falta de condições de empregar quem mora fora de Santana e a situação precária oferecida pelos transportadores.
“Desde muito tempo nós do comércio tentamos ajudar não somente nossos empregados que moram longe, como também os próprios motoristas, mas tem muita ingerência política e isso só prejudica. A associação só prioriza a linha Santana-Olho D’Água, e pronto. Todos em Santana sabem disso. Santana tem um hospital, diversas clinicas médicas, uma clínica que funciona de domingo a domingo, escolas e faculdades que funcionam a noite e aos sábados, cursinhos que também aos sábados, supermercado e postos de gasolina que funcionam até após às 18 horas, de segunda a segunda, e o comércio que funciona até às 18h, e aos sábados. Em todos esses locais existem vagas de emprego porque a população jovem de Santana não supri todas as vagas. Mas, não podemos empregar quem mora fora de Santana, por melhor que seja o curriculum, por falta de transporte. Há casos e mais casos de jovens que deixaram de estudar em Santana porque largam à noite e não tem como ir nos ônibus das prefeituras, que já circulam cheios ou porque tem de vim estudar aos sábados à tarde e não tem carro”, desabafou um comerciante que pediu para não ter o nome divulgado.
No Dia de Finados, quem mora em outras cidades e tem parentes ou amigos sepultados em Santana foi obrigado, como fazem todos os anos, a visitar os mortos um dia antes. Os veículos que fazem as linhas Delmiro-Santana, Senador Rui Palmeira-Santana, Tapera-Santana, Pão de Açúcar-Santana não rodaram. Em seus lugares apenas a linha Santana-Olho D’Água funcionou em horário especial.
Por outro lado, a linha Palmeira dos Índios-Santana circulou normalmente, transportando as pessoas que foram até Santana para velarem seus mortos ou passar o dia na casa de amigos e familiares.
Neste feriado da Proclamação da República não foi diferente. Somente a linha de Santana-Olho D’Água das Flores funcionou, com carros a cada hora. Enquanto isso, na Rodoviária da Santana, cujo prédio está abandonado, onde à noite os passageiros que lá chegam enfrentam uma completa escuridão, na opinião de diversos comerciantes e alguns motoristas, seria o local ideal – caso a Rodoviária passasse por uma reforma – para o ponto final de todas as linhas de vans, como atualmente é para a linha Palmeira-Santana.
“Não se trata de privilégio. É uma questão de justiça e bom senso. Quem chega de Maceió em algum ônibus ou nos carros que chegam de Palmeira e vão para Maravilha, Senador, Delmiro, Tapera ou Olivença, seja idoso ou mulher grávida, tem que andar por cerca de 4km, embaixo de sol quente ou chuva, até o ponto de parada das vans, na outra entrada da cidade, onde não tem nenhum conforto, nem mesmo um banheiro descente. Quem vem ao Banco do Brasil ou à Caixa e passa o dia na fila, no sol quente, também tem que andar o mesmo itinerário e muitas vezes quando chega no ponto o último carro já saiu. Se os carros tivessem o ponto final na rodoviária, como é na maioria das cidades, a maior parte do sofrimento acabaria. Mas existem forças ocultas que impedem isso. Tá mais fácil a direção toda da Arsal ser exonerada do que isso acontecer. Os políticos do Sertão não querem”, desabafou um importante comerciante e integrante da Associação Comercial de Santana.
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