Quando cai a noite, a escuridão toma conta de uma casa sem energia elétrica e sem água encanada onde vivem 11 crianças, o pai e a mãe. É hora de espalhar os filhos pelas poucas camas e pelo chão, em colchões. Para preparar algum alimento – quando existe comida em casa – é preciso acender um fogo a lenha do lado de fora.
O pai e a mãe são analfabetos e não possuem emprego. A única renda da família vem da produção artesanal de vassouras e, por isso, a sala da casa, sem móveis, cede espaço para guardar a matéria-prima do trabalho, que é a palha. Enquanto o pai e a filha mais velha trabalham com a palha, a mãe amamenta o filho mais novo no colo. Outros, aparentando ter 2 ou 3 anos de idade, também na sala, estão nus e seminus, até tremem de frio, pois não possuem roupas.
A descrição bem que poderia se referir a uma família pobre que tenha vivido no Sertão de Alagoas no início do século XX. Mas não: essa família vive atualmente no povoado Marruá, em São José da Tapera e, para ela, o progresso não chegou. Nem o progresso social, nem econômico, nem de nenhuma outra forma.
A cidade que em 2001 recebeu o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para o lançamento do Bolsa-Alimentação, programa que ajudaria a minimizar a pobreza, melhorar a nutrição de crianças e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), parece ainda não ter se libertado totalmente do estigma de “a mais pobre do Brasil”, liderança que ocupava em 1998, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
O caso da família de 11 filhos que vive em extrema pobreza no povoado Marruá tornou-se público esta semana, após a divulgação de um vídeo feito pela equipe da rádio Tapera FM, situada na comunidade.
Na gravação, o pai, identificado como Cícero, diz que é analfabeto e que trabalha por temporada, “quando aparece algum serviço”. A mãe, também analfabeta, identificada como Damiana, diz: “tem dia que não tenho nada, nem uma colher de açúcar”.
Segundo ela, o único benefício que a família possuía era o Bolsa Família, mas que foi cortado. Ela não soube dizer a razão pela qual perdeu o benefício, mas disse que ajudava muito na compra de alimentos para ela, o marido e os 11 filhos.
Já seu Cícero disse que cada vassoura é vendida por um real. Durante a gravação do vídeo, a filha do casal, que aparenta ser a mais velha entre as crianças, ajuda na produção das vassouras.
Após a divulgação do vídeo pela equipe da rádio Tapera FM, o prefeito de São José da Tapera, José Antônio Cavalcante (PSB), divulgou um comunicado sobre o caso nas redes sociais. Ele disse que já tinha estado na casa da família antes mesmo da divulgação do vídeo e tinha se colocado à disposição para ajudar. “Estou ciente da situação e em momento algum precisei vir à mídia para mostrar o trabalho que deve ser feito”.
Confira abaixo o comunicado divulgado pelo prefeito e, em seguida, o vídeo divulgado pela rádio Tapera FM.
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