As chuvas abaixo da média que chegaram ao Sertão de Alagoas nos últimos cinco anos transformaram não apenas a paisagem árida, formada por plantas e animais silvestres da caatinga já habituados a essa situação e munidos de estratégias de sobrevivência, mas principalmente a vida das famílias que moram e dependem do campo para sobreviver.
Muitas delas, inclusive os chefes de família, ainda não tinham vivido um período de estiagem tão prolongado e, devido à falta de estrutura e de preparação para conviver com a seca, agora amargam prejuízos em sua única fonte de renda.
Segundo o agricultor Antônio Gérson, presidente da Associação dos Produtores de Leite da Samambaia, localizada na zona rural de Olho D’água das Flores, a produção caiu cerca de 40% nos últimos anos entre os agricultores familiares.
Isso ocorreu, segundo ele, devido à falta de alimento para o gado, provocada pela falta de chuvas, à dificuldade na reprodução dos bichos e à venda de animais pelos próprios agricultores que, sem ter como alimentar todo o rebanho, estão vendendo uma parte dele para poderem comprar alimento para os que ficam e pagar dívidas e outras despesas da propriedade.
“O dinheiro que os agricultores familiares ganham hoje com a venda do leite não dá mais pra manter o rebanho e manter a própria família. Ele tem que escolher”, afirmou Antônio Gérson. Por outro lado, segundo ele, o governo do Estado tem ajudado alguns produtores com a distribuição de bagaço de cana, que é usado para complementar a alimentação dos rebanhos.
Mesmo assim, os agricultores ainda precisam comprar ração nas lojas de produtos agropecuários locais e comprar palma forrageira, base da alimentação bovina. “Uma tarefa de palma custa de R$ 2 mil até R$ 3,5 mil, mas na hora de você vender um animal pra arcar com esse custo, nem todo mundo paga esse valor pelo bicho, pois sabe que com ele vai ter prejuízo, principalmente quando o animal tá muito magro”, lamentou Antônio Gérson.
Segundo ele, as fábricas de queijo da região pagam cerca de R$ 1,20 pelo litro do leite, enquanto os grandes laticínios pagam, a depender da qualidade do produto, um valor um pouco maior. Já os atravessadores pagam cerca de R$ 1,00 apenas.
Por outro lado, o Programa do Leite, coordenado pelo governo do Estado e que recebe recursos do governo federal, paga atualmente R$ 1,28 pelo litro, porém, do ano passado até agora, muitos agricultores familiares deixaram de fornecer ao programa por conta dos atrasos nos pagamentos, que chegavam a 60 dias. “Eu mesmo fui um dos que saíram do programa”, acrescentou Antônio Gérson.
Dessa forma, mesmo com a qualidade genética em produtividade de leite reconhecida nacionalmente, uma parte do rebanho bovino vem passando fome, sede ou sendo vendida para custear outras despesas das propriedades. Os agricultores, mais uma vez, aguardam pela redenção que será trazida pela chuva, porém, ainda sem data para ocorrer.
Utilize o formulário abaixo para comentar.