O “santo” mais popular nascido no Nordeste, Padre Cícero Romão Batista, viveu 90 anos e morreu no dia 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte, no Ceará. Nesta sexta-feira (20) completam-se 84 anos de sua morte.
Ele nunca foi ordenado santo pela Igreja Católica mas, para o povo nordestino, nem precisa. Padre Cícero já é santo pelo que fez em vida e pelos milagres atribuídos a ele enquanto estava vivo e após a morte.
Natural do Crato (CE), após se instalar no povoado de Juazeiro do Norte (CE), ele desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade, ainda no século XIX.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão.
Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, o mesmo ano da Proclamação da República, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre. Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo, ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la, pois a mesma transformara-se em sangue.
O fato aconteceu outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico. As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos. Mas a Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente o fato como um milagre e impôs punições ao Padre Cícero, inclusive o afastamento das funções, entre 1892 e 1916.
No final de 2015, o Vaticano perdoou as punições impostas ao Padre Cícero. A reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de Padre Cícero na Igreja Católica.
Política e relacionamento com o cangaço
O Padre Cícero também foi eleito prefeito de Juazeiro do Norte (CE). Os historiadores registram que ele tinha um bom relacionamento com o cangaceiro Lampião, que amedrontava as pequenas cidades do Nordeste com seu bando. Os livros de história também contam que, para combater a Coluna Prestes, que percorria o Brasil no final dos anos 20 e início dos anos 30, o governo federal pediu que o Padre Cícero negociasse o apoio de Lampião e seus homens.
Falando em nome do governo federal, o Padre fez a proposta a Lampião, que aceitou. Após o cumprimento da missão, o cangaceiro voltou a falar com o religioso para que os termos do apoio fossem cumpridos: o governo deveria ceder novas armas e uniformes ao bando e Lampião seria nomeado capitão.
Porém, o governo não cumpriu com tudo o que havia prometido, causando um mal estar no relacionamento entre o Padre Cícero e o cangaceiro. Desse momento em diante, mesmo sem ter sido oficialmente nomeado capitão, Lampião impôs que assim fosse chamado pelos seus homens: Capitão Virgulino.
Atualmente, Juazeiro do Norte recebe milhares de romeiros por ano, em diversas datas, como Dia de Finados, Semana Santa, Quaresma, meses de janeiro e fevereiro. É verdade que alguns vão movidos pela fé, outros vão apenas fazer turismo, muitos vão praticar o comércio e muitos outros vão perambular pelas ruas pedindo esmolas.
O corpo do Padre Cícero foi sepultado, em 1934, na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte (CE). Tão popular quanto ele foi o religioso italiano Frei Damião de Bozzano que, em 1931 – portanto, três anos antes da morte do Padre Cícero – mudou-se para o Nordeste do Brasil e, em suas missões, atraía multidões de devotos.
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