Dois meses depois de assinarem contrato com a Brax, pelos direitos de transmissão da Série B, os clubes aceitarão redução no valor a ser pago pela empresa pela temporada de 2023.
Inicialmente, a quantia a ser repassada aos clubes nesta temporada seria de R$ 210 milhões. Agora, por causa de um conflito entre o contrato da Brax com acordos anteriormente estabelecidos, haverá redução de 8% do total – quase R$ 17 milhões a menos.
O problema está nos direitos de transmissão internacionais e de apostas esportivas. Em 2020, clubes das Séries A a B assinaram contratos com as empresas 1190 e Zeus Sports Marketing. A primeira comprou os direitos internacionais; a segunda, os de betting.
As duas empresas operam como intermediárias do negócio. Elas compram os direitos, garantem aos clubes determinada quantia e vão ao mercado para revender o produto. A 1190 tem sede em Miami, nos Estados Unidos, e entre seus acionistas está a 777 Partners, dona de 70% do futebol do Vasco. Já a Zeus está sediada em Singapura e tem atuação voltada para o segmento de betting.
Ambos os contratos tinham quatro temporadas de duração, ou seja, estenderiam-se entre 2020 e 2023. Apesar disso, na negociação conduzida pela CBF neste ano, esses mesmos direitos foram incluídos no contrato com a Brax, cuja duração se estenderá entre 2023 e 2026.
Como a Brax está impedida de comercializar esses direitos, pois já estavam vendidos, a saída encontrada por seus executivos em negociações com dirigentes foi a redução do valor a ser pago neste ano.
Entenda o imbróglio
A organização adotada nos três anos iniciais de contrato, entre 2020 e 2022, foi a seguinte. A Globo produzia as imagens e as mandava "limpas" – sem narrador, comentarista ou gráficos – para 1190 e Zeus. As empresas inseriam os elementos e entregavam o sinal para o mundo.
Em 2023, houve mudanças. Na assinatura do contrato de direitos de transmissão da Série B com a Brax, a empresa assumiu a responsabilidade e o custo da produção das imagens.
Na estreia da competição, em 14 de abril, as empresas esperavam receber o sinal, mas isso não ocorreu. A 1190 não pôde cumprir seus acordos com emissoras estrangeiras, como ESPN e Univision. A Zeus também deixou de honrar seu contrato com a Stats Perform.
A situação permaneceu assim por quatro rodadas, sem que as partidas da Série B fossem entregues para as parceiras internacionais. Ambas as empresas, então, notificaram clubes e CBF para que resolvessem o caso.
Responsável pela negociação dos mesmos direitos com a Brax, a CBF pediu que os clubes decidissem se cumpririam os contratos anteriores, com 1190 e Zeus, ou se os rescindiriam para privilegiar a nova parceira, que também estava insatisfeita com a situação.
A seguinte mensagem foi enviada por Regina Sampaio, gerente jurídica da confederação, a um dos presidentes da Série B na semana passada.
– Os clubes precisam decidir, com a maior urgência possível, pela continuidade e/ou término antecipado de tais contratos bem como conhecer os impactos, uma vez que já caminhamos para a 4ª rodada. As empresas têm nos procurado e, temporariamente, foi possível evitar o litígio. A Brax também reclama os direitos não exercidos – escreveu a advogada.
Os valores a serem recebidos pelos clubes da Série B nos contratos com 1190 e Zeus são baixos. Enquanto a primeira está obrigada a pagar US$ 25 mil para cada um, pelos direitos internacionais, a segunda deve depositar US$ 46 mil para cada clube, pelos direitos de apostas.
Por outro lado, as multas rescisórias são altas. Caso as agremiações decidissem pelo rompimento com as empresas, o montante a ser desembolsado por cada uma seria de US$ 2,5 milhões.
Sem querer arcar com as multas rescisórias, dirigentes da Série B optaram por respeitar os contratos vigentes com 1190 e Zeus. A consequência dessa decisão foi colocá-los noutra negociação, desta vez com a Brax, para que a empresa fosse compensada pelos direitos.
Brax, 1190, Zeus e CBF foram procuradas pela reportagem para que pudessem comentar o caso. Elas optaram por não se manifestar.
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