Uma cultura de violência que banaliza o sentido da vida está presente em todo o estado, tanto na capital quanto no interior. A afirmação é do sociólogo e ex-secretário de Estado da Promoção da Paz, Adalberon Sá Júnior, que, a pedido do Correio Notícia, analisou os dados do Mapa da Violência 2015 que colocam Olho D’água das Flores e Santana do Ipanema com os maiores índices de homicídios por arma de fogo entre as cidades do Sertão de Alagoas.
Segundo ele, além da cultura que estimula a prática da violência como algo banal, outro fator que colabora para esses índices é o fácil acesso a armas de fogo. “Ainda é muito fácil conseguir comprar armas de fogo, até de forma discreta e clandestina nas feiras de rua. Isso ocorre sem respeito à idade do comprador e a nenhuma das condições do Estatuto do Desarmamento. A quantidade de armas de fogo em circulação de forma clandestina ainda é muito grande”, analisou o sociólogo.
Outro fator, segundo ele, que colabora para os índices de violência é a certeza da impunidade. “Não é mais sensação de impunidade, é certeza mesmo. Muita gente que comete crimes continua impune, seja por questões políticas locais, seja pelo medo que a população tem de denunciar, mesmo sabendo quem é o autor da violência. Há também a falta de aparelhamento da estrutura policial e da justiça. Às vezes a polícia é veloz, mas o judiciário precisa lidar com uma legislação ainda frouxa. A legislação penal frouxa acaba deixando o réu solto”, explicou Adalberon Sá Júnior.
Para que haja uma redução dos índices de violência no estado como um todo, de acordo com ele, é preciso que haja uma mudança de cultura, tanto no ambiente educacional quanto entre a sociedade civil, por exemplo, para que se tenha uma nova geração longe da violência.
“Porém, isso leva tempo. Toda a sociedade precisa desenvolver uma mudança de comportamento que comece a refletir sobre o sentido da vida e estabelecer laços mais solidários, que enxerguem outras formas de resolução de conflitos. Então, a primeira das ações, sem sombra de dúvidas, é uma mudança de comportamento, que só acontece a médio e longo prazo”, pontuou Adalberon.
Entrega voluntária de armas
Outras medidas que precisam ser adotadas para que haja uma redução da violência, conforme ele avaliou, passam pela contenção voluntária e involuntária das armas, principalmente numa cidade pequena, onde ainda há uma cultura muito forte, segundo ele, de se possuir uma arma de fogo para proteger a família e o patrimônio.
“Precisamos estimular a entrega de armas de forma voluntária e, ao mesmo tempo, desenvolver um trabalho ostensivo de busca por armas e munição. Essa busca vai estimular o cidadão de bem que possui uma arma em casa a fazer a entrega dela de forma voluntária, pois ele vai entender que, se não fizer isso, pode ser preso por posse ou porte ilegal. Então, é melhor entregar de forma voluntária e ainda receber uma bonificação em dinheiro por isso do que ser denunciado e preso pela posse ilegal”, defendeu o sociólogo.
Quem possui e deseja entregar uma arma de fogo deve acessar o site da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), imprimir uma guia de trânsito e levar a arma até um dos postos fixos indicados numa lista. Quem preferir, pode também fazer a entrega em um dos dois ônibus do desarmamento da Seprev, que funcionam como postos volantes. O proprietário da arma não precisa se identificar no ato da entrega e não há o risco de ser preso. Ao fazer a entrega, a arma será inutilizada e, posteriormente, destruída pelo Exército Brasileiro. O valor da indenização pela entrega da arma varia de R$ 150 a R$ 450.
Denúncias pelo número 181
“Para acabar com a certeza da impunidade, é preciso que tenhamos uma polícia cada vez melhor aparelhada e que funcione. Não precisamos de grupos de extermínio, nem do pensamento de que todos os bandidos devem ser mortos. A justiça precisa ser feita num esforço concentrado de polícia, do Poder Judiciário, da sociedade fazendo seu papel de denunciar, ligando para o número 181. No caso do interior, isso precisa ser aliado a uma política de conscientização, pois lá, principalmente, ainda existe a figura do medo, do castigo, da punição, do coronel. Isso precisa ser mudado”, finalizou o sociólogo Adalberon Sá Júnior.
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