O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu neste domingo (6) uma reportagem no quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?” sobre o desvio de cerca de R$ 12 milhões dos cofres públicos de Mata Grande, no Sertão de Alagoas.
A reportagem mostrou trechos de um vídeo feito com câmera escondida no qual vereadores aparecem recebendo um suposto “mensalinho” no valor de R$ 7 mil para votarem a favor de projetos de interesse do Poder Executivo. O atual prefeito Erivaldo de Melo Lima, conhecido como “Erivaldo Mandu” (PP), também aparece nas imagens.
O ex-vereador José Júlio Gomes Brandão, conhecido apenas como “Júlio Brandão” (PP) e que está foragido, foi mostrado pela reportagem num vídeo em que aparece numa lancha de luxo acompanhado por outras pessoas, gravado antes dele ter a prisão decretada. Ele foi chamado pelo apresentador Tadeu Schmidt de “fanfarrão”.
Júlio é irmão do ex-prefeito Jacob Brandão (PP), outro foragido da Justiça. Juntos, os dois comandaram a cidade de Mata Grande por oito anos. Até 2016, quando Jacob era prefeito, Mandu era vice e aliado dele.
Os irmãos Júlio e Jacob são apontados pelo Ministério Público Estadual (MPE/AL) por envolvimento no esquema que teria desviado cerca de R$ 12 milhões do município, por meio de quatro empresas fantasmas que, supostamente, prestavam serviços de locação de veículos. O esquema também envolveria o fornecimento de medicamentos.
Os nomes dos dois irmãos foram colocados na “difusão vermelha”, que é a lista de procurados da Polícia Federal.
O esquema
As investigações comprovaram que as empresas concorriam nas licitações, venciam e, depois, supostamente, sublocavam toda a frota exigida pela prefeitura a pessoas físicas, geralmente parentes e correligionários do prefeito. Nos contratos, ficava um percentual de 40% para o pagamento de quem sublocava os veículos e os outros 60% eram divididos entre o prefeito, o dono da empresa e possíveis atravessadores.
Somente com o contrato fraudulento celebrado com a empresa Marcelo Calado dos Santos ou Albatroz, o prefeito Jacob Brandão lucrava, segundo o MPE/AL, entre R$ 40 e R$ 70 mil por mês.
Em duas contas bancárias disponibilizadas por laranjas, um deles que trabalha como barbeiro e possui renda mensal de um salário mínimo, os valores movimentados no curto período de um ano, envolvendo as quatro empresas, chegaram a R$ 11 milhões.
Nesse caso, elas assumiam o fornecimento de vários serviços, todos fictícios, não somente de locação de veículos. Na sequência, quando o dinheiro era depositado, um atravessador fazia os saques, tirava a sua comissão, repassava para outra pessoa ligada diretamente ao ex-prefeito Jacob Brandão que também retinha seu percentual e, por último, entregava o restante ao gestor.
Já em relação ao atual prefeito Erivaldo Mandu, a investigação do Ministério Público Estadual (MPE/AL) aponta que ele estaria pagando “mensalinho” de R$ 7 mil para quatro edis, em troca da aprovação dos projetos de interesse do Município, conforme flagrado no vídeo feito com câmera escondida que foi exibido na reportagem do Fantástico.
“Infelizmente percebemos que a corrupção continua na atual gestão”, declarou à reportagem do Fantástico o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça.
Erivaldo Mandu foi preso em dezembro do ano passado, ganhou a liberdade uma semana depois, mas ficou quatro meses afastado da prefeitura. No final de abril, Mandu conseguiu na Justiça uma decisão que lhe garantiu reassumir o cargo.
“O Ministério Público não concorda com essa decisão e já recorreu”, enfatizou o chefe do MPE/AL em depoimento à reportagem do Fantástico.
Assista à reportagem do Fantástico na íntegra:
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