No mês marcado pela conscientização do combate a violência e exploração sexual infantil, Santana do Ipanema convive nos últimos dias com uma série de denuncias de homens ligados a sociedade, presos ou sob investigação por ligações com crimes de pedofilia, abusos e estupros de crianças e adolescentes.
A prisão que "escancarou" os casos foi de Érico Chagas Pinto, de 45 anos, conhecido como o "Predador do Sertão". Ele foi preso por determinação da Justiça na manhã da última terça-feira (6), num sítio na zona rural de Santana, para onde ele levada crianças, entre elas a afilhada e há cerca de um ano lá praticava os abusos sexuais.
O "Predador do Sertão", sobrinho do ex-deputado e ex-prefeito de Santana, Nenoi Pinto é casado, pai de filhos, homem que divulgada os bons costumes e frequentador da igreja, foi denunciado por uma de suas vítimas.
Sua prisão levou ao Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), integrantes do Judiciário, da política de Santana e até da Igreja Católica. Todos tentaram, em vão, amenizar a sua prisão, que foi tornada preventiva durante a chegada de mais vítimas e a audiência de custódia, que o mandou para o sistema prisional.
A polícia confirma que uma série de casos de pedofilia, estupros e abusos de crianças e adolescentes já levou para a prisão, nos quatro meses deste ano, diversos acusados e que outros estão sendo investigados ou no aguardo dos mandados de prisão em Santana. Em comum entre os acusados é que todos são membros da sociedade do município. Pessoas, igual a Érico, incapazes de chamarem a atenção pelos crimes praticados.
Porém, uma outra denúncia tem movimentado os santanenses e mais uma vez envolve alguém da sociedade.
A primeira denúncia, feita no ano passado, foi feita pela filha do suspeito. Ela usou sua rede social para expor que havia sido aliciada e estuprada quando era menor de idade.
Laura Maria Valente, afirma que aos oito anos de idade, foi vítima do genitor, o funcionário da Assembleia Legislativa de Alagoas, Afonso Gaia, que é ex-vereador de Santana.
Atualmente morando na Argentina, onde teve uma filha, Laura também acusa o pai de ameaça-la de morte após as denúncias virem a público, durante a campanha eleitoral do ano passado, quando Afonso tentava se reeleger novamente vereador.
Diante da repercussão, o político renunciou a candidatura e por não ter mais apoio de seu partido, o PP, decidiu apoiar o grupo rival, comandado pelo deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB).
"Libertador perceber que depois de quase 20 anos, pude me curar de um trauma deixado pelo meu genitor. Fomos criados numa sociedade onde mulher precisa sentir vergonha e o homem tem sempre razão. Hoje não denuncio por pena. Pena de como vive e mente pra tantas pessoas. Graças a Deus posso estar em paz e forte. Agradeço a Deus", escreveu ela na rede social.
"Já sabe que abri a boca, né? Durante muitos anos me neguei em falar a respeito. Acho que tinha vergonha da realidade da minha vida. Lembra? Embaixo do Edifício Mediterrâneo, onde eu morava com a mainha, em com 18 anos, você pediu pra pegar no meu peito. Fiquei assustada e você disse: [Deixa de besteira rapaz. Sou seu pai e só quero ver como é!]. Hoje em dia lembro de você com nojo. Só quero que saiba. Veja bem como você vai agir de agora em diante e se mentir à respeito, farei questão de espalhar quem você é. Jamais me pediu perdão pelo que fez. Vou desbloquear você e quero saber se vai ser homem ou continuar ainda como malandro. Como você finge ser um homem de bem pra sociedade né? Sei bem quem você é. Sempre soube. Tive que fingir estar tudo bem por vergonha. Vergonha, logo eu que fui vítima e não abusadora", disse Laura, que deletou a postagem após supostamente ser ameaçada.
Agora, a surpresa ficou por conta de um outro filho de Afonso, que na semana passada, em um grupo de whatsapp, confirmou o estupro da irmã.
Rodrigo Nepomuceno provocou o pai em defesa da irmã.
"Poucas pessoas me conhecem aqui no grupo, mas muitos conhecem meu pai. Então, não vou mais esconder e nem encontro qualquer situação dele. Os poucos que me conhecem pessoalmente sabem de minha índole e meu procedimento que é totalmente diferente dele [ ] Então, cansei de encobrir certas coisas dele, principalmente em relação a minha família. Quem tiver dúvidas sobre algo pode falar abertamente, que além de contar exatamente o que aconteceu, tenho as provas", escreveu Rodrigo.
O filho também acusa o pai, pelas influências que tem da política, de impedir que as denúncias sejam investigadas.
Procurado para falar sobre as denúncias dos filhos, Afonso Gaia não foi localizado.
Na 2ª Delegacia Regional de Policia (2ª DRP), em Santana, policiais admitem ter conhecimento das denúncias de Laura e Rodrigo, mas que ninguém procurou a polícia sobre o caso.
"Todas as semanas nos chegam denúncias de famílias de vítimas acusando pedófilos ou abusadores. Em sua maioria são homens acima de qualquer suspeita. Todos se conhecem e tem os mesmos amigos. São homens casados, pais de filhos, que se diem tementes a Deus, empresários, médicos, comerciantes, estudantes universitários. Na grande maioria dos casos são criminosos em série e quando nos aprofundamos nas investigações nos deparamos que são protegidos pelo medo das vítimas e principalmente o acobertamento de membros da própria sociedade, que sabe, mas prefere manter silêncio diante do sofrimento das vítimas", desabafou um policial.
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