Continua repercutindo entre a população do Sertão a morte da pequena Maria Clara, de 3 anos, no Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, em Santana do Ipanema.
A menina, filha única do casal de agricultores Edmilson dos Santos Viana, conhecido como "Novinho", 25, e Maria Aparecida, 23, ambos moradores do Sítio Bom Sucesso, zona rural de Olivença, foi internada na terça-feira (14), após reclamar de dores fortes no abdômen e apresentar sintomas de febre. Após quatro dias internada na área vermelha do hospital, onde a família acusa a equipe médica de impedir a transferência da criança para outro hospital e o quadro clínico da menor se agravar, a garota morreu na sexta-feira (17), após ser submetida a uma cirurgia de apêndice.
A morte, conforme a família tem denunciado, sendo inclusive registrado em um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia Regional da Polícia Civil (PC), em Santana, teria sido causada por negligência da equipe médica do Clodolfo Rodrigues.
O caso, que tem comovido várias famílias, veio a público após a família de Maria Clara falar com exclusividade para o programa “Liberdade de Expressão”, da Rádio Milênio (90,7 FM), e o portal de notícias Correio Notícia, que repercutiram o drama.
Para a Rádio Milênio, o presidente da Câmara de Vereadores de Olivença, Agnaldo de Carvalho, disse que o hospital de Santana é um “matadouro”.
“Eu me comovi. Conheço a família, são pessoas pobres, mas são de bem. A tristeza ... O choque foi muito grande. Não vamos deixar assim não, vamos agir, porque se a gente não agir muitas vidas vão. É um matadouro esse hospital de Santana do Ipanema. Digo com todas as letras. Não todos os profissionais merecem isso aí, mas o atendimento é péssimo. Quem tem conhecimento eles pegam ligeirinho e quem não tem sofre. Eu levo algumas pessoas aí para o hospital e as pessoas me chamam porque eu tenho algum conhecimento com algumas pessoas de bem que me dão a maior atenção, mas tem um bocado que não serve pra nada no hospital. Atendem as pessoas mal, com o narizinho empinado”, desabafou o político.
Em junho deste ano o Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL), através da Promotoria de Santana do Ipanema, divulgou uma investigação contra o Instituto Nacional de Gestão e Pesquisa em Saúde (InSaúde), empresa gestora do Clodolfo Rodrigues.
A investigação, ainda em curso e que segue em segredo de Justiça, apura denúncias de desvio de dinheiro público praticado por supostos funcionários do InSaude, com sede administrativa na cidade de São Bernardo dos Campos, em São Paulo. A investigação só teve início após supostos ex-funcionários e ex-fornecedores do InSaúde procurarem o Ministério Público do Estado de São Paulo e participarem de uma delação premiada. Por sua vez, a assessoria do Hospital Clodolfo Rodrigues, por mais de uma vez, informou que “o hospital não foi informado de nada sobre a investigação”.
Esta não é a primeira vez que o hospital é alvo de denúncias envolvendo mortes supostamente causadas por negligência.
Em agosto deste ano o portal Correio Notícia publicou uma reportagem com uma série de impressionantes relatos de mulheres que teriam perdido os filhos ou porque as crianças herdaram problemas de saúde após o parto no Clodolfo Rodrigues.
As denúncias envolvem casos de constrangimentos, humilhação, manipulação, agressões verbais, mau atendimento, assédio moral, violência psicológica e até de supostas mortes.
Uma das narrativas foi feita pela confeiteira Renata S. Farias, de 25 anos. Contou Renata que no nono mês de gestação, a moradora de Santana do Ipanema, após tirar a ultrassom obstétrica, foi aconselhada por uma médica da Casa da Mulher para ir até a maternidade onde deveria ter sua primeira criança. Renata confirma que os vários exames que tinha tirado mostravam que sua gravidez não apresentava problemas.
Dois dias após a ultrassom, por volta das 7h, acompanhada da mãe, de 64 anos, e de uma irmã, a jovem mãe foi para o Clodolfo Rodrigues, onde foi obrigada a esperar até por volta das 14h, quando foi atendida e encaminhada para a sala de parto, onde, segundo Renata, começou seu martírio.
“Durante todo meu pré-natal me foi falado que minha gravidez era normal. Na última ultrassom nada de anormal foi indicado. Minha filha estava normal. Até hoje não entendi o que aconteceu na sala de parto. Aquele anestesista só faltou subir por cima de mim. Ele me apertou demais. Sofri com as dores do parto e sofri com os apertos dele na minha barriga, que ficou cheia de marcas e doída”, afirma a jovem.
O parto foi feito pela médica plantonista Dra. Christiane Bulhões (prefeita do município), que, ainda segundo Renata, logo após o nascimento da bebê teria dado ordens para a irmã da confeiteira sair da sala. Mãe e filha foram separadas e Renata só viu a filha à noite, já morta.
Também moradora de Santana do Ipanema, Edirlânia, 26 anos, com oito meses de gestação, denunciou que chegou ao hospital com a bolsa estourada e que após fazer o “toque” foi informada de que o colo do útero estava fechado.
“Depois que a funcionária disse que eu teria que repor líquido, fiquei no hospital com a bolsa estourada durante uma tarde e uma noite e no dia seguinte, por volta das 12h, fui encaminhada para um médico em uma clínica fora do hospital para fazer uma ultrassom porque no hospital não fizeram. Durante a ultrassom o médico me mostrou o bebê vivo e me alertou que não havia nenhum líquido na minha barriga, ficando impressionado como a criança continuava viva. Com um encaminhamento, voltei para o Clodolfo Rodrigues para realizar o parto, mas, além de demorarem bastante para me atender, o médico que estava de plantão não queria fazer o parto, e só consegui porque meu marido pressionou o médico. Era quase 21h40 quando fui levada para a sala de parto e depois de muito tempo meu filho nasceu, sendo levado às pressas para a incubadora com falta de ar por culpa deles que demoraram fazer o parto. E no outro dia, pela manhã, antes de receber alta, recebi a notícia que meu filho tinha morrido”, falou a mulher.
Edirlânia acrescentou ainda que, ao retornar ao hospital, na companhia do marido, logo após fazer a ultrassom, seu companheiro perguntou ao médico se ele teria condições de fazer o parto e salvar a vida da criança, caso contrário ele (o médico) encaminhasse para outro hospital. “Meu marido pediu para ele encaminhar eu e o bebê para outro hospital, mas o médico foi “grosso” e de forma irônica mandou que ele (o marido) levasse a gente”, relatou.
Ignorando os diversos pedidos de esclarecimentos sobre os valores destinados a InSaude pelo Ministério da Saúde (MS) e o Governo do Estado do que é feito com os valores recebidos e que servem para a manutenção do hospital de Santana do Ipanema, a vereadora e médica Carol Magalhães conseguiu na Justiça um Mandado de Segurança Civil, n° 0700566-37.2022.8.02.0055, para que o município e a direção da entidade que administra o hospital tornem público a situação financeira e contábil do Clodolfo Rodrigues. A decisão, que cabe recursos, foi do juiz da 2º Vara de Santana do Ipanema, Dr. Edivaldo Landeosi.
Na Câmara de Vereadores de Santana, as denúncias contra o hospital não são discutidas. Com a maioria dos vereadores, o governo municipal consegue se "blindar" das constantes e serias denúncias feitas pela população e repercutidas pela imprensa.
Destaca-se que na maioria das sessões, a maior parte do tempo, os vereadores priorizam o espaço para elogiarem as poucas e obrigatórias obras realizadas pelo municipio e serem solidários com familias enlutadas que perderam algum parente.
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