“Não houve confronto, houve execução com as vítimas deitadas nas camas”, afirmou o médico legista George Sanguinetti, em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (20), em Maceió, sobre o resultado do laudo que ele realizou a respeito da morte de Emanuel Messias de Melo Araújo, mais conhecido como Emanuel Boiadeiro, 30.
George Sanguinetti, a pedido da família de Emanuel, esteve em Belo Monte, no Sertão de Alagoas, no dia 21 de novembro deste ano, para apurar as circunstâncias da morte do jovem.
“Os vestígios, o levantamento no local que realizei, mostraram que as vítimas não ofereceram nenhuma resistência, que não houve nenhuma reação, que foram executadas no quarto, exatamente na cama onde estavam deitadas”, colocou Sanguinetti.
Emanuel e Fabrício Barbosa dos Santos morreram durante uma operação policial ocorrida na madrugada do dia 1° de outubro, véspera das eleições municipais, que tinha por finalidade desmantelar uma suposta quadrilha de roubos a bancos.
“A porta da casa foi arrombada (onde estava Emanuel Boiadeiro). Houve violência, quebraram e ingressaram na casa, sem um mandado judicial, e de madrugada, 3h30 da manhã. Isso é inadmissível, não pode uma ação policial ocorrer nesta hora, e também não se pode executar friamente pessoas que não reagiram, que estavam deitadas”, acrescentou o médico legista.
“A prova que eles foram executados no leito eu tenho pelas manchas sanguíneas, numa quantidade imensa debaixo da cama de cada um. Então, o cenário da morte foi exatamente a cama, e há 9 perfurações acima da cama, além das que acertaram a vítima (o Emanuel), indicando que ele era o alvo que queriam executar. No quarto onde estava o Emanuel houve a maior quantidade de disparo. No segundo quarto, onde estava o Fabrício, ele foi executado sob a cama, ou seja, ele estava debaixo da cama, talvez tentando se abrigar”, explicou Sanguinetti, durante a coletiva desta terça-feira (20).
Professor de medicina legal e coronel reformado da PM/AL, George Sanguinetti ganhou notoriedade nacional ao ter investigado as mortes de PC Farias e Suzana Marcolino, em 1996, e da menina Isabela Nardoni, em 2008.
Família se diz ameaçada
O pai de Emanuel Boiadeiro, seu Xisto Vieira Araújo, a mãe, dona Ana Maria das Graças de Melo Araújo, e um primo, José Márcio, conhecido como Baixinho Boiadeiro, além do advogado da família, Raimundo Palmeira, também participaram da entrevista coletiva.
Para a família, durante a ação realizada em Belo Monte no dia 1º de outubro, houve uma execução motivada por vingança, tendo em vista que Emanuel Boiadeiro havia matado, há 10 anos, o pai de um dos policiais que atualmente fazem parte da Divisão Especial de Investigações e Capturas (DEIC).
“A gente se sente ameaçado até hoje por alguns policiais”, afirmou o primo da vítima, Baixinho Boiadeiro. Segundo ele, nenhuma das duas vítimas fatais, bem como nenhum dos quatro homens que foram presos na mesma ação, era investigada pelo Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc). “Soubemos isso de forma verbal, mas já solicitamos ao Estado as certidões que comprovem isso, se eles eram ou não investigados pelo Gecoc”, informou Baixinho Boiadeiro.
Outra informação citada pelo primo da vítima é de que o Gecoc não comandou a operação, como havia sido divulgado pelo próprio Estado em seu portal oficial de notícias, no dia 1º de outubro (relembre aqui). “Já ouvimos algumas pessoas da Segurança Pública que nos disseram que o Gecoc não comandou essa operação”, salientou.
Responsáveis poderão ser indiciados
De acordo com o advogado da família de Emanuel Boiadeiro, Raimundo Palmeira, os responsáveis pela operação ocorrida em Belo Monte poderão ser indiciados pelas duas mortes. “A partir do momento que se entender que houve uma execução, isso se torna algo muito perigoso, qualquer cidadão fica sujeito a isso”, pontuou o advogado.
A família ainda aguarda a perícia oficial sobre a operação realizada pelo próprio Estado, que deve ser concluída em janeiro próximo. A partir desse documento e do laudo cadavérico, poderá ser feito, inclusive, um pedido para exumação do corpo de Emanuel Boiadeiro.
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