O Ministério Público Eleitoral de Alagoas (MPE/AL) moveu uma ação pedindo a cassação do mandato do vereador Luciano Bezerra Feitosa, conhecido como "Sinhô do Conceição", acusado de comandar um elaborado esquema de compra de votos durante as eleições municipais de 2024 em Água Branca. A denúncia envolve ainda outros dois réus: Weverton da Silva Santos, identificado como operador do esquema, e Luciano de Jesus Sandes, pai do vereador.
Em 25 de março de 2025, o juiz eleitoral Marcos Vinícius Linhares Constantino da Silva, da 39ª Zona Eleitoral, aceitou a denúncia do MPE, considerando que há elementos suficientes para o prosseguimento da ação penal. Os acusados foram citados para apresentar defesa no prazo de 10 dias. O magistrado ainda deve se manifestar sobre o pedido de extração de dados do iPhone 14 Pro Max apreendido com Weverton.
Luciano Bezerra Feitosa (Sinhô do Conceição), 41 anos, natural de Água Branca, iniciou sua carreira política após atuar como motorista de transporte coletivo. Eleito em 2020 pelo PSD com 389 votos (3,56%), foi reeleito em 2024 pelo PP com 585 votos (4,91%), ocupando a 9ª colocação. Caso seja cassado, assumiria a vaga o suplente Pedro Freire (PP), que obteve 410 votos (3,44%) na última eleição.
As investigações revelaram um sistema organizado que atuava em diversas comunidades rurais do município. Segundo documentos apreendidos, o esquema funcionava com pagamentos em dinheiro no valor de R$ 100 por voto, além da distribuição de combustível como forma de angariar apoio eleitoral. Foram encontradas listas detalhadas com os valores pagos em localidades como Tabuleiro (R$ 2.100 para 21 eleitores), Pião (R$ 4.000 para 40 eleitores), Onça (R$ 500 para 5 eleitores) e Sítio Lagoa das Pedras (R$ 1.700 para 22 eleitores), entre outras.
Weverton da Silva Santos, segundo as investigações, era o principal operador do esquema. Ele foi preso em flagrante no dia 6 de outubro de 2024, quando as primeiras evidências do caso vieram à tona. Em seu celular, foram encontradas mensagens trocadas com Sinhô do Conceição e Luciano de Jesus Sandes, comprovando a coordenação das atividades ilegais. Weverton confessou que atuava voluntariamente na campanha, cooptando eleitores com promessas de pagamento.
Luciano de Jesus Sandes, pai do vereador, teria participado ativamente da operação. Em sua residência, a polícia encontrou uma lista com 28 nomes de eleitores e suas respectivas seções eleitorais. Já na casa do vereador, foram apreendidas 33 folhas de caderno contendo nomes de eleitores, números de seção e valores pagos, além de anotações sobre o status dos pagamentos.
O MPE destacou em sua ação a relação direta entre os votos comprados e o desempenho eleitoral do vereador em determinadas seções. Na seção 40, por exemplo, onde foram contabilizados 20 votos comprados, o candidato obteve 26 votos no resultado oficial. Padrão semelhante foi observado na seção 41 (25 votos comprados para 31 votos recebidos) e na seção 35 (15 comprados para 19 recebidos).
Além do dinheiro, o esquema utilizava outras formas de benefício. Em um dos cadernos apreendidos, havia registros de distribuição de combustível, como "20 litros de Diesel para Zé Cícero" e "20 litros de Gasolina para Carlinhos". Em caso ainda mais específico, foi identificado o pagamento de um exame de vista para uma eleitora.
A reportagem tentou contato com o vereador Sinhô do Conceição via WhatsApp, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. Os demais acusados também não foram localizados para comentários.
O promotor eleitoral Rômulo de Souto Crasto Leite pede não apenas a cassação do diploma do vereador, mas também sua inelegibilidade por oito anos. A ação solicita ainda que todos os votos recebidos por Sinhô do Conceição sejam considerados nulos e que a cadeira seja redistribuída conforme as regras eleitorais.
O MPE argumenta que o caso configura grave abuso do poder econômico, com potencial para comprometer a legitimidade do processo eleitoral. Foram arroladas mais de 20 testemunhas, incluindo eleitores que teriam recebido os benefícios, para depor no processo que agora segue tramitação pública perante a Justiça Eleitoral.
A defesa dos acusados ainda não se manifestou oficialmente sobre as novas acusações. Durante o inquérito policial, tanto Luciano Bezerra Feitosa quanto seu pai exerceram o direito ao silêncio.
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