A Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou, em denúncia tornada pública na tarde desta terça-feira (18), a existência de um plano — que não chegou a ser executado — para interferir no segundo turno das eleições de 2022 em cidades de diversas regiões do país, incluindo Olho D'água do Casado, no Sertão de Alagoas.
De acordo com matéria publicada pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (19), assinada pela jornalista Luísa Marzullo, a então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, teria solicitado um mapeamento de Business Intelligence dos municípios onde, no primeiro turno, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve mais de 75% dos votos.
No primeiro turno das eleições de 2022, Lula recebeu 4.522 votos (85,00%) em Olho D'água do Casado, enquanto Jair Bolsonaro (PL) teve 523 votos (9,83%).
“O uso dessa ferramenta era considerado essencial para a execução do plano de manutenção de Jair Bolsonaro no poder, pois visava reverter o favoritismo do adversário, demonstrado tanto nos resultados do primeiro turno quanto nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno”, descreve a denúncia publicada pelo O Globo.
Ainda segundo a reportagem, o analista de inteligência responsável pela coleta dos dados, Clebson Vieira, manifestou "perplexidade" com as solicitações e confirmou que suas análises orientaram as ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno da disputa entre Bolsonaro e Lula. À época, a PRF estava sob o comando de Silvinei Vasques.
Entre o primeiro e o segundo turno, Marília Alencar intensificou reuniões com o então ministro da Justiça, Anderson Torres. O propósito desses encontros teria sido revelado em mensagens trocadas com o então diretor de operações do ministério, Fernando Oliveira.
A operação tinha como foco principal a região Nordeste, incluindo Olho D’Água do Casado, e detalhava 37 cidades onde Lula venceu com ampla vantagem. A lista incluía municípios como Capitão Gervásio Oliveira (PI), Boquira (BA), Araripe (CE), Bodocó (PE), Flores (PE) e Milagres (CE).
Além disso, o levantamento também incluía dados sobre Minas Gerais, com abas nomeadas como “MG Maior que 75% Lula” e "MG Maior que 50% Bolso".
Conversas obtidas pelas investigações revelam que um grupo de mensagens chamado “Em Off” discutiu o uso da estrutura da PRF para interferir no pleito. Em uma das mensagens, Marília Alencar teria afirmado: “Belford Roxo o prefeito é vermelho, precisa reforçar pf”, em referência ao então prefeito Waguinho (Republicanos), que apoiou a campanha de Lula.
“A troca de mensagens revela uma intensa coordenação de estratégias para interferir no processo eleitoral. As investigações indicam a existência de uma ampla rede de comunicação entre os envolvidos, com evidências de reuniões e decisões tomadas para garantir, por meio de ações conjuntas e até do uso da força policial, a vitória de Jair Bolsonaro”, conclui a PGR.
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