Os municípios do Sertão de Alagoas com os maiores índices de analfabetismo entre os eleitores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são Monteirópolis (28,73%), Pariconha (28,70%) e Água Branca (28,61%).
Por outro lado, o TSE mostra que os menores percentuais de analfabetismo entre eleitores da região estão em Ouro Branco (9,09%), Santana do Ipanema (9,93%) e Delmiro Gouveia (10,04%).
Para o sociólogo Adalberon Sá Júnior, os percentuais de eleitores analfabetos são o retrato daquilo que se tem enquanto sociedade alagoana. “Uma sociedade que não teve tanto acesso à educação. Hoje até que tem mais, é verdade. Agora, o que assusta não é apenas esse número de analfabetos. Se nós somarmos o número de analfabetos funcionais, aí nós vamos ter um número ainda mais alarmante, que são aquelas pessoas que também têm a mesma dificuldade que os analfabetos”, avaliou o sociólogo.
Segundo ele, o acesso mais limitado à educação acaba criando uma visão de mundo mais limitada. Assim, muitas vezes, de acordo com Adalberon, a escolha do candidato por aquele cidadão com uma visão de mundo pode ser algo benéfico apenas para ele naquele momento.
“Às vezes ele não consegue enxergar o que é mais interessante para a cidade, para o longo prazo, quem é o candidato que tem uma melhor proposta para entregar a cidade de uma forma diferente. Essa visão de mundo mais limitada causada pela falta de acesso a mais anos de estudo ou ao próprio estudo acaba se refletindo na hora de escolher o seu representante, na hora do voto. Isso porque ele tende a escolher o candidato que aparenta ou que simula oferecer algum resultado mais imediato”, pontuou o sociólogo.
Essa situação, segundo ele, favorece a “troca de favores”. “Às vezes ocorre a troca de votos por algo tido como um favor, que na verdade era para ser um benefício do poder público. Então, aquele que calçou a minha rua é o que tem o meu voto, aquele que fez um favor à minha família, ou que conseguiu agilizar a aposentadoria de alguém da minha família, que oferece um transporte para ir para um médico na capital. Então o cidadão, às vezes, dá o seu voto para aquele que consegue oferecer um benefício mais imediato. Isso acaba resultando na eleição de pessoas que não estão comprometidas com uma visão de futuro, mas sim com a manutenção daquele status quo naquela cidade. Por isso que é interessante para a classe política local a manutenção daquela realidade, porque é assim que eles conseguem se perpetuar no poder, graças à visão limitada”, comentou Adalberon Sá Júnior.
Classe média troca voto por favores e privilégios
Porém, o sociólogo alertou que a definição de favores para a escolha do candidato não é algo que ocorre exclusivamente entre os eleitores analfabetos ou analfabetos funcionais. “Ela está presente na classe média e naqueles que tiveram mais acesso a estudo. Eles acabam trocando por favores diferentes, como um emprego para alguém da família ou coisas do gênero. Os mais letrados também se permitem as mesmas práticas de troca de favores por votos, o que muda é que a moeda passa a ser mais valiosa”, descreveu.
“Nós temos hoje um país com muito mais acesso à educação, à informação, ao conhecimento, e mesmo assim uma parte da população ainda vota ruim, ainda vota mal. Prova disso é quando você vê pessoas que tiveram mais acesso à educação votando em candidatos que se elegem a partir de troca de favores, de privilégios”, observou Adalberon Sá Júnior.
“Então, o que acaba definindo o uso que se faz do voto e o resultado das eleições é muito mais essa relação de troca de privilégios e favores do que mesmo o nível de escolaridade. O componente do analfabetismo tem um peso grande na forma de escolher candidatos, mas o componente cultural tem um peso ainda maior e ultrapassa as classes sociais e de acesso à educação. Esse ano a gente vai rever isso: gestores que foram indiciados, que foram até mesmo condenados em primeira instância por improbidade ou corrupção e que receberão o voto de pessoas de todas as classes sociais e que tiveram acesso a diferentes anos de estudo”, finalizou.
Confira, na tabela abaixo, o percentual de eleitores analfabetos em todos os 26 municípios do Sertão de Alagoas:
Utilize o formulário abaixo para comentar.