Após um alívio em 2024, quando caiu 0,37%, o custo da conta de luz voltou a pesar no bolso do brasileiro neste ano e fechará 2025 com uma alta acima da inflação média. A alta nas tarifas de eletricidade é reflexo do crescimento do custo com subsídios e das chuvas abaixo da média. Com menos chuva, o nível dos reservatórios cai e, portanto, a geração pelas usinas hidrelétricas se reduz, o que obriga o sistema nacional a usar mais a energia gerada pelas termelétricas, cujo custo é mais elevado.
Com isso, a conta de luz residencial deverá ficar 7% mais cara este ano, segundo projeção do economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, feita a pedido do GLOBO. Enquanto isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país, calculado pelo IBGE, deverá fechar 2025 em 4,85%, segundo o resultado mais recente do Boletim Focus, compilado semanal de estimativas de analistas feito pelo Banco Central (BC).
Bandeiras desde maio
O cálculo de Serrano foi feito com base em dados do IBGE e considera os reajustes anuais dos preços cobrados pelas distribuidoras, impostos e encargos, e as bandeiras tarifárias. As últimas funcionam como uma taxa extra, cobrada sempre que o sistema elétrico usa mais as fontes de geração mais caras, como as usinas termelétricas.
Desde maio, as contas estão com bandeira amarela, por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em junho e julho, vigorou a bandeia vermelha, patamar 1. Em agosto, foi a vez da bandeira vermelha, patamar 2, a mais cara de todas — para setembro, a Aneel manteve a cobrança extra no máximo.
Com isso, a tarifa de eletricidade chegou a acumular alta de 10,2% no IPCA até julho, conforme os dados do IBGE. Em agosto, esse item ficou 4,1% mais barato, e ajudou na deflação registrada mês passado, mas a queda foi explicada por um fator sazonal: o pagamento de R$ 936 milhões do bônus de Itaipu a consumidores residenciais urbanos e rurais.
Com a bandeira vermelha, em setembro, a tarifa deverá voltar a subir e acumular alta de 16%, em média, em todo o país, nas contas de Serrano.
A partir de outubro, o economista do Banco BMG vê uma desaceleração. Serrano trabalha com o cenário de bandeira amarela ou verde a partir de outubro ou novembro, quando começa o período de chuvas no Centro-Sul do país. Por isso, a projeção para o ano cairia a 7%. Só que tudo depende da intensidade das chuvas nas regiões onde ficam as hidrelétricas.
— O resultado final da energia elétrica em 2025 vai depender de que bandeira vamos terminar o ano — disse Serrano.
No ano passado, agosto tinha bandeira verde, e setembro foi bandeira vermelha, patamar 1, o que indica uma piora no cenário de 2025.
Nível dos reservatórios
Para a semana que vem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que apenas a Região Sul terá volume de água que chega naturalmente aos reservatórios das usinas hidrelétricas acima da média histórica, com 119%. Nos demais, os percentuais são de 59%, no Sudeste/Centro-Oeste; 60%, no Norte, e 47% no Nordeste.
— A grande questão é que os meteorologistas estão um pouco desanimados com o próximo período chuvoso. Parece que não será tão bom assim — disse o responsável pela área de inteligência da PSR Consultoria, Mateus Cavaliere.
Segundo o especialista, a subida do preço neste ano é explicada pela metodologia de reajuste tarifário, que acompanha o índice de inflação. Também há influência do fim da devolução de créditos tributários por parte de algumas distribuidoras.
E os subsídios, como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), também pesam nas contas. A Aneel aprovou, em julho, o orçamento de 2025 para a CDE, no valor de R$ 49,2 bilhões. É um aumento de 32,4% em relação a 2024.
Fenômeno antigo
Um levantamento da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) mostra que a alta do preço da tarifa de energia acima da inflação é um fenômeno que vem sendo observado também no últimos anos. Nos últimos 15 anos, o preço da conta de luz aumentou em 177%, uma elevação 45% superior à inflação, que avançou 122% no período.
O diretor de Energia Elétrica da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Victor Hugo Iocca, lembrou que a alta desses preços não afeta o bolso do consumidor apenas na conta de luz, mas também encarece os bens da indústria e os serviços, que usam eletricidade:
— A partir do momento que uma indústria vê seus custos aumentando, ela tenta, na medida do possível, segurar o repasse para o preço final. Mas tem uma hora que isso se torna impossível, senão o negócio dela se inviabiliza. Então, isso vai sendo repassado ao longo da cadeia, desde a mineração do ferro, passando pela siderurgia, até chegar no carro, feito de aço.
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